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Sabedoria C.H Espurgeon
Originally published in English under the title:
The Christian Mind: how should a Christian think?
First edition 1963 by S.P.C.K.
Holy Trinity Church
Marylebone Road, London
© Harry Blamires 1963
1a Edição - Setembro de 2006
Portuguese translation
Publicado no Brasil com a devida autorização
e com todos os direitos reservados por
SHEDD PUBLICAÇÕES LTDA-ME
Rua São Nazário, 30, Sto Amaro
São Paulo-SP - 04741-150
Tel. (0xx11) 5521-1924
Vendas (0xx11) 5666-1911
Editorial (0xx) 5521-1924
Email: sheddpublicacoes@uol.com.br
Proibida a reprodução por quaisquer
meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos,
fotográficos, gravação, estocagem em banco de
dados, etc.), a não ser em citações breves
com indicação de fonte.
ISBN 85-88315-52-1
Printed in Brazil / Impresso no Brasil
Impressão e acabamento: Imprensa da Fé
TRADUÇÃO – Hope Gordon Silva
REVISÃO – Regina Aranha
DIAGRAMAÇÃO – SK editoração
CAPA – Julio Carvalho
Pag.4
Sumário
Prefácio .................................................................................................... 004
1. Para os preguiçosos ................................................................. ............005
2. Os mistificadores da religião ............................................................... 010
3. A aparência do pregador ...................................................................... 013
4. A natureza boa e a firmeza ................................. .................................015
5. Paciência .............................................................................................. 019
6. Bisbilhotices ........................................................................................ 021
7. Agarre as oportunidades ...................................................................... 023
8. Mantenha os olhos abertos .................................................................. 025
9. Como usar o pensamento .................................................................... 027
10. Imperfeições ...................................................................................... 029
11. Coisas que não valem a pena tentar ................................................... 031
12. Dívida ................................................................................................ 033
13. Lar ..................................................................................................... 038
14. Homens em adversidade .................................................................... 042
15. Esperança ........................................................................................... 046
16. Gastar ................................................................................................. 049
17. Uma palavra boa para as esposas ...................................................... 052
18. Homens de duas caras ....................................................................... 057
19. Sugestões para prosperar ................................................................... 060
20. Exagero .............................................................................................. 064
21. Coisas que eu não escolheria ............................................................. 068
22. Tentar ................................................................................................. 071
23. Monumentos....................................................................................... 074
24. Pessoas muito ignorantes ................................................................... 078
Pag.5
Prefácio
Em Sabedoria Bíblica escrevi para homens simples e pessoas comuns. Por isso,
as palavras elegantes e sofisticadas foram substituídas por expressões e provérbios fortes e
frases do dia a dia. Direciono meus ataques aos vícios de muitas pessoas, tentando incutir
nelas as virtudes morais, sem as quais os homens se degradam. Muitas das coisas que
precisam ser ditas para as massas de trabalhadores não se adaptam ao púlpito e às pregações
dos dias de descanso; porém estas poucas linhas podem ensinar todos os dias economia e
diligência em casa e no trabalho; e se alguém aprender estas lições, eu não me arrependerei
de ter usado um estilo tão simples.
Lavrador é um nome que posso usar com legitimidade, pois todo pastor põe a mão
no arado já que tem obrigação de rasgar o solo árido. O que escrevi com inspiração e certo
humor não precisa de apologia, já que o som moral desse ensinamento chegou aos ouvidos
de pelo menos 300.000 pessoas, portanto não há nenhuma virtude especial em
escrever de modo sofisticado.
C. H. Spurgeon
Pag.6
Capítulo 1: Para os preguiçosos
Dar conselho aos ociosos é tão inútil quanto despejar água em uma peneira; do
mesmo modo, tentar aperfeiçoá-los é como tentar engordar um galgo. O Antigo
Testamento já nos dizia para amassar nosso pão com água, se amassarmos uma ou duas
cascas duras nesses charcos estagnados sempre nos restará ainda um consolo: se as
pessoas preguiçosas não se tornam melhores quando semeamos bom senso, não
tornamos piores por tentar adverti-las e não colhermos nada. Repreender preguiçosos é
como ter um pedaço duro de solo para arar em que, com certeza, a colheita será menos
farta. Mas se apenas a terra boa tivesse de ser cultivada, os lavradores poderiam se
afastar do trabalho, e nós só teríamos de pôr o arado no sulco. Homens preguiçosos são
muito comuns e crescem sem que seja necessário cultivá-los, mas a quantidade de
sagacidade que existe em muitos deles seria insuficiente para pagar a aração: não é
necessário nada para provar isso além do nome e do caráter deles, se não são tolos, são
preguiçosos, e conforme diz Salomão: "O preguiçoso considera-se mais sábio do que
sete homens que respondem com bom senso", já aos olhos de todos os outros, sua tolice
é tão clara como o sol no céu. Se os ataco duramente, ao falar com eles, é porque sei que
podem agüentar, pois se eles estivessem caídos no chão do celeiro, eu precisaria surrálos
muito antes de conseguir tirá-los da palha, e nem mesmo a debulhadora a vapor
conseguiria fazer isso. Ela os mataria antes de conseguir levantá-los da palha, pois a
preguiça está nos ossos de algumas pessoas e mostra-se em sua carne ociosa, faça você
o que fizer com elas.
Bem, por isso, antes de tudo me parece que pessoas preguiçosas deveriam
obrigatoriamente ter um grande espelho pendurado onde fossem obrigadas a se ver, com
certeza, no final, se os olhos delas forem como os meus, não suportariam olhar para si
mesmas por muito tempo ou com freqüência. A visão mais horrível do mundo é a de um
desses vadios autênticos que dificilmente seguraria sua vasilha de comida se chovesse
mingau de aveia e, com certeza, jamais seguraria um pote em que coubesse mais comida
do que a necessária para si mesmo. Talvez, se a chuva fosse de cerveja, ele conseguisse
despertar um pouco, mas acabaria de encher o copo depois. Provérbios descreve esse
homem: "O preguiçoso põe a mão no prato, e não se dá ao trabalho de levá-la à boca".
Acho que esse tipo de homem deveria ser tratado como os zangões que as abelhas
expulsam das colméias. Todo homem deve ter paciência e piedade pela pobreza, mas
para a preguiça seria melhor um chicote comprido ou uma volta pela roda do moinho.
Esse poderia ser um purgante saudável para todos os preguiçosos. Mas seria muito
difícil para alguns deles conseguir sua dose completa de medicamento, pois eles
nasceram ricos, mas a riqueza não faz nada sozinha, ela precisa que alguém lhe
empreste a mão. Como diz o velho ditado: "O preguiçoso é como o cão que encosta a
cabeça na parede para latir" ou como as ovelhas preguiçosas para quem é muito
trabalhoso carregar a própria lã. Seria muito útil se pudessem se ver, mas talvez fosse
muito trabalho abrirem os olhos, mesmo que segurassem os óculos para eles.
Tudo no mundo tem alguma utilidade, mas o doutor em teologia, o filósofo ou a coruja
sábia, em seu campanário, quebrariam a cabeça para descrever a utilidade da preguiça,
ela me parece ser um vento mau que não sopra nada de bom para ninguém, um tipo de
lodo onde as enguias não se reproduzem, um fosso sujo que não consegue alimentar
nem mesmo um sapo. Peneire um preguiçoso, grão a grão, e não encontra nada de bom.
Tenho ouvido pessoas dizerem que é melhor não fazer nada que promover a desordem,
mas não estou bem certo disso, essas palavras brilham, mas não acredito que sejam
Pag.7
ouro. É uma preguiça maléfica apesar da pitada de louvor; digo que a preguiça é má, e é
de todo má. Por sorte, um homem que promove desordem é um pardal apanhando
milho, mas um homem preguiçoso é um pardal sentado em um ninho cheio de ovos, que
se transformarão em pardais e, em breve, causarão um monte de feridas. Não é
necessário que me digam, tenho certeza – a erva daninha mais ordinária da terra não
cresce na mente daqueles que estão ocupados com maldades, mas nas inquietações
impuras criadas pela imaginação dos homens preguiçosos em que o mal se esconde sem
ser visto, como a velha serpente, que ele realmente é. Não gosto que os nossos jovens se
envolvam em desordem, eu preferiria vê-los com lodo até o pescoço que saracoteando
por aí sem nada para fazer. Se hoje o mal de não fazer nada parece menor, amanhã,
vocês descobrirão que ele é maior; o diabo põe carvão no fogo, e, assim, o fogo não
arde, mas em função disso será um fogo muito maior no final. Preguiçosos, vocês têm
de ser seus próprios trombeteiros, pois mais ninguém pode achar algo de bom em vocês
para louvar. Eu gostaria de ver você através de um telescópio, pois certamente isso
implicaria que você estaria muito distante; entretanto, nem mesmo os maiores óculos da
igreja conseguiriam ver algo de valor em você. A respeito das toupeiras, dos ratos e das
doninhas ainda há algo para se falar, mesmo que a visão deles pregados em nosso velho
celeiro seja bonita; quanto a vocês, só serão úteis na sepultura ao ajudarem a aumentar o
cemitério, mas eu não posso entoar uma canção em seu favor melhor que este verso,
conforme disse o sacristão da igreja, pecado da minha própria composição:
Um preguiçoso desajeitado, bom para nada,Pecaminoso por dentro e esfarrapado
por fora. Quem se importa em tê-lo por perto?Expulsem-no! Expulsem-no!
"Como o vinagre para os dentes, e a fumaça para os olhos", assim é o
preguiçoso para o homem que sua para ganhar a vida honestamente, enquanto esses
indivíduos deixam o mato crescer até os tornozelos e, como diz a Bíblia, atravancam a
terra.
O homem que perde seu tempo e sua força com a indolência se oferece como alvo para
o diabo, que é um atirador extraordinariamente bom e perfurará o preguiçoso com seus
tiros; em outras palavras, o homem preguiçoso atenta o diabo a tentá-los. Aquele que
joga quando deveria trabalhar enfeitiça um espírito do mal para ser seu parceiro; e
aquele que nem trabalha nem joga é uma oficina à disposição de Satanás. Se o diabo
capturasse um homem preguiçoso, ele o poria para trabalhar, faria com que ele
encontrasse ferramentas e, depois de muito tempo, pagaria um salário a ele. Não é daí
que vem a embriaguez que enchem nossas cidades e vilas de miséria? A preguiça é a
chave para a penúria e a raiz de todo o mal. O homem que não tem estomago para
trabalhar tem dois para comer e beber. Nas horas de preguiça, aquele pequeno buraco
logo abaixo do nariz engole o dinheiro que colocaria agasalhos nos ombros das crianças
e pão na mesa dos casebres. A palavra de Deus afirma: "Os bêbados e os glutões se
empobrecerão", e o versículo mostra a ligação entre eles ao concluir: "E a sonolência os
vestirá de trapos".Sei disso do mesmo modo que sei que o musgo cresce nos telhados
velhos e que o hábito de se embriagar brota das horas de preguiça. Eu aprecio o lazer
quando posso usufruir dele, mas isso é completamente diferente; uma coisa é pau, a
outra é pedra.
Gente preguiçosa não sabe o que é lazer; está sempre com pressa e bagunçado, pois
como negligencia o trabalho no momento certo sempre tem muito o que fazer. Ficar na
indolência, hora após hora, sem fazer nada é o mesmo que fazer buracos na cerca para
deixar os porcos passarem, e eles passarão – não se engane, pois os buracos que farão
ninguém vê, exceto aqueles que cuidam do jardim. O próprio Senhor Jesus nos disse
Pag.8
que enquanto os homens dormem, o inimigo semeia a praga; isso está muito certo, pois
o mal entra no coração muito mais freqüentemente pela porta da preguiça que por
qualquer outra. Nosso velho pastor costumava dizer: "Um preguiçoso é a melhor
matéria prima para o diabo, ele pode criar qualquer coisa desde um ladrão até um
assassino". Não sou o único a condenar os preguiçosos, certa vez, eu ia entregar ao
nosso pastor a longa lista dos pecados de uma das pessoas a respeito de quem ele havia
me questionado, eu comecei dizendo: "Ela é terrivelmente preguiçosa". No mesmo
momento, ele disse: "É o suficiente; todos os tipos de pecados estão nesse, ele é o sinal
para conhecer um pecador cheio de pecados".
Meu conselho para os jovens é: "Saiam do caminho da preguiça, pois vocês podem
pegar essa doença e nunca se livrar dela". Tenho sempre medo de que eles aprendam o
caminho da preguiça e fico muito atento para perceber qualquer coisa desse tipo logo no
início; pois como vocês sabem, é melhor matar o leão enquanto é filhote.
Certamente, nossos filhos carregam nossa natureza negativa neles, por isso podemos vêla
crescendo como erva daninha em um jardim. Quem consegue tirar ao limpo do que
não é limpo? O ganso selvagem não choca o ovo quebrado. Nossos garotos saem para a
vida apenas com seus aspectos negativos, a não ser que, desde o início, tornemos nosso
lar um local tranqüilo e bastante atraente para eles e os treinemos a odiar a companhia
dos indolentes. Não os deixe ir ao bar "Rosa e a Coroa", faça-os, enquanto são jovens,
aprender a ganhar uma coroa e cultivar as rosas no jardim de seus pais. Criem os jovens
como abelhas, e eles não serão zangões, vadios.
Atualmente, há muito a se dizer em relação a mestres e mestras incompetentes. Ouso
dizer que há algo de bom nisso, pois, há incompetentes de todos os tipos hoje, como
sempre houve. Em outra ocasião, se me permitirem, darei uma palavra sobre o assunto;
mas tenho certeza de que há muito espaço para censura, mesmo entre as pessoas
trabalhadoras, especialmente em relação à preguiça. Vocês sabem que somos obrigados
a arar com o gado que temos à disposição; mas quando tenho de trabalhar com certos
homens, preferiria dirigir uma equipe de lesmas ou ir à caça de coelhos com um furão
morto. Porque de imediato seria mais fácil tirar leite de pedra ou suco de cortiça do que
conseguir resultados com alguns deles; mesmo porque eles estão sempre falando dos
seus direitos. Eu gostaria que eles examinassem os próprios erros, em vez de se
encostarem às alças do arado. Afinal, preguiçosos e dorminhocos não são trabalhadores,
não passam de porcos, bois ou cardos em macieiras. Nenhum deles faz parte do grupo
de caçadores que se veste com paletós vermelhos, e nenhum deles é trabalhador ou se
denomina assim. Às vezes, eu gostaria de saber porque alguns de nossos empregadores
mantêm afinal tantos gatos que não caçam ratos. Seria mais fácil eu deixar minhas
moedas caírem em um poço que pagar para pessoas que apenas fingem trabalhar. Vê-las
todos os dias se arrastando sobre uma folha de repolho, é algo que apenas nos irrita e faz
nossa carne ferver. Viva e deixe viver, digo eu, mas não inclua os preguiçosos nessa
licença. "Não dê comida aos que não trabalham".
Talvez seja o momento adequado para dizer que algumas pessoas das classes mais altas,
como são chamados, dão um exemplo vergonhoso em relação a isso, alguns abastados
são quase tão preguiçosos quanto ricos, e, muitas vezes, até mais. As ratazanas dormem
por tanto tempo e tão ruidosamente quanto os ratinhos. A maioria dos párocos compra
ou encomenda um sermão para evitar o trabalho de pensar. Isso não é uma preguiça
abominável? Eles zombam dos que fazem discursos afetados, mas não ficam
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envergonhados ao ficar em pé para ler um sermão de outra pessoa como se fosse seu.
Muitos de nossos fazendeiros não têm mais nada para fazer além de repartir o cabelo ao
meio; e, em Londres, conforme me disseram, muitos dos nobres, tanto senhoras como
cavalheiros, não têm ocupação melhor que matar o tempo. Atualmente, diz-se que
quanto mais alto o salto, maior o tombo; da mesma forma, quanto mais importante é a
pessoa, mais sua preguiça chama atenção, e mais ela deve se envergonhar dela. Não
digo que elas têm obrigação de arar, mas que têm o dever de fazer alguma coisa em
relação à situação, além de serem como as lagartas no repolho comem a melhor parte;
ou como as borboletas que se exibem, mas não produzem mel. Não posso me irritar com
essas pessoas por qualquer coisa, pois sinto pena delas, quando penso nas regras de
moda estúpidas que são obrigadas a obedecer, e na vaidade com que prolongam seus
dias. Eu preferiria antes vergar minhas costas com o trabalho pesado do que ser um
rapaz elegante com nada para fazer além de me olhar no espelho e ver em mim mesmo
um sujeito que nunca pôs uma simples batata no pote da nação, mas apenas tirou
muitas. Antes despencar das montanhas de Surrey, esgotado como a velha égua marrom
de meu mestre, que comer pão e queijo sem ter trabalhado para isso; é melhor ter uma
morte honrosa que levar uma vida imprestável. Seria melhor entrar em meu caixão que
ser um morto vivo, um homem cuja vida é uma folha em branco.
De qualquer modo, não é fácil que os preguiçosos passem impunes por todos seus
esquemas porque, no fim, sempre carregam a maior parte das penas. Elas não consertam
o telhado, portanto têm de construir uma nova cabana; não põem o cavalo na carroça,
por isso, terão elas mesmas de puxar a carroça. Se fossem espertas, executariam bem
seu trabalho, a fim de não fazê-lo duas vezes, e se esforçariam trabalhar bem enquanto
estão na lida para tirar a pendência da frente. Meu conselho é: se você não gosta de
trabalho pesado, comece a trabalhar com garra, execute-o e goze seu tempo de
descanso.
Eu gostaria que todas as pessoas religiosas pensassem a respeito desse assunto, pois
alguns professores são surpreendentemente preguiçosos e, com isso, fornecem um
material lamentável para a língua dos ímpios.
Penso que um lavrador religioso deve ser o melhor homem no campo, e não deve
permitir que nenhum grupo o derrote. Quando estamos trabalhando, temos o dever de
estar com a atenção no trabalho e não podemos parar para conversar, mesmo que a
conversa seja sobre religião. Do contrário, não apenas roubamos de nosso empregador o
nosso próprio tempo, como também o tempo dos cavalos. Eu costumo ouvir pessoas
dizerem: "Nunca pare o arado para matar um rato", da mesma forma, é uma tolice parar
para bater papo; além disso, um homem que desperdiça o tempo, quando o patrão está
ausente é um bajulador, o que considero o oposto de ser cristão. Se alguns dos membros
de nossa congregação fossem um pouco mais ágeis com os braços e as pernas quando
trabalham e um pouco menos ativos com as línguas, falariam mais sobre religião do que
falam agora. O povo diz que o maior enganador é o mais devoto, eu fico constrangido
em afirmar que um dos maiores preguiçosos que conheço é um homem que se declara
abertamente um falante. Seu jardim está tão coberto de ervas daninhas que por pouco
não tomo a iniciativa de capiná-lo para ele. Se ele fosse mais jovem, conversaria com
ele a respeito disso para livrar nosso grupo da vergonha que ele acarreta sobre nós e a
fim de orientá-lo melhor, mas quem pode ser professor de uma criança de sessenta
anos? Ele é um espinho constante para o nosso amável pastor, que anda muito aflito
com isso e diz muitas vezes que tem vontade de ir para outro lugar porque não consegue
Pag.10
lidar com essa conduta; mas eu digo-lhe que em qualquer lugar que viva sempre
encontrará um arbusto espinhoso perto de sua porta, e será uma benção se não encontrar
dois.
Contudo, eu gostaria que todos os cristãos fossem diligentes, pois a religião jamais teve
por desígnio que nos tornássemos preguiçosos. Jesus foi um grande trabalhador e seus
discípulos não tinham medo de trabalhar duro.
Da mesma forma, tem muito disso no servir ao Senhor com o coração frio e a alma
preguiçosa, além de fazer a religião definhar. Os homens cavalgam quando caçam para
ganhar algo, mas são lerdos quando estão a caminho do céu. Os pregadores continuam a
vacilar e a falar de forma monótona, em uma verdadeira lengalenga, e o povo começa a
bocejar, cruzar os braços e a dizer que, por isso, Deus está recusando a bênção. Todo
preguiçoso maldiz sua sorte quando se vê incluído grupo dos esfarrapados; e algumas
igrejas aprenderam esse mesmo artifício pernicioso. Eu acredito que quando Paulo
planta, e Apolo rega, Deus faz crescer, e não tenho paciência com os que põem a culpa
em Deus, quando eles são os culpados. Agora esgotei todos os meus recursos. Receio
ter falado em vão, mas fiz o melhor que pude, nem um rei poderia fazer mais. Uma
formiga nunca produzirá mel se não trabalhar com o coração, e eu jamais exporei meus
pensamentos de forma tão bela como alguns escrevem um livro de sucesso; mas a
verdade é a verdade mesmo vestida de chita e, assim, chego ao fim de toda essa história.
Pag.11
Capítulo 2: Os mistificadores da religião
Quando o homem tem a cabeça peculiarmente vazia, em geral, tem a presunção
de ser um grande juiz, em especial, em relação à religião. Ninguém é tão sábio quanto o
homem que não sabe nada. A ignorância é a mãe de sua impudência, e, a enfermeira de
sua obstinação, aliás ele não distingui o joio do trigo, resolve os assuntos como se a
sabedoria estivesse na palma de sua mão. O próprio papa não seria tão infalível. Ouça
suas palavras depois de participar de uma reunião ou de ouvir um sermão, e você saberá
como reduzir um homem de bem a frangalhos, se já não souber fazer isso. Ele vê
imperfeições onde elas não existem; e se encontra qualquer coisa imperfeita faz
tempestade em um copo d'água. Apesar de toda sua capacidade caber na casca de um
ovo, ele pesa o sermão na balança da própria vaidade, com os ares de um bem nascido e
criado Salomão. Se o sermão estiver acima do seu padrão, ele exagera nos elogios, mas
se não for do seu gosto, ele resmunga, fala rispidamente e ladra como um cão diante de
um porco espinho. Neste mundo, homens sábios são como árvores em um cercado,
encontramos apenas um aqui, outro ali. Quando esses homens raros falam juntos sobre
um discurso, ouvi-los faz bem aos ouvidos; mas os sabichões convencidos dos quais
estou falando, ficam estufados de vaidade por causa de sua forma de pensar materialista,
e suas palavras são tão sem sentido quanto o grasnar dos gansos no campo. Nada sai de
um saco, a não ser o que estava dentro dele, e como a mala deles está vazia não tiram
nada dela, a não ser vento. É muito natural que nem os pastores nem os sermões sejam
perfeitos – o melhor dos jardins pode ter algumas ervas daninhas, o milho mais limpo
pode ter alguma palha –, mas esses cavalheiros fazem críticas e encontram imperfeições
em tudo e em nada, com o intuito de mostrar seu profundo conhecimento. Tão logo dão
folga para suas línguas, começam a criticar que o capim não tem um tom de verde
agradável ou que o céu ficaria mais nítido se fosse caiado.
Um grupo de ismaelitas foi forjado por esses ambiciosos ignorantes, poderosos no
conhecimento da doutrina contida em um sermão, nisso são incisivos como marretas e
infalíveis como a morte. Quem não sabe nada, presume que sabe tudo; por isso, eles são
de uma teimosia sem limites. Todos os relógios, até mesmo os solares, têm de ser
acertados com os deles. A menor divergência com sua opinião faz com que o homem se
sinta aniquilado até o fundo do coração. Aventure-se a argumentar com eles, e o ínfimo
conhecimento dele extravasa rapidamente; perguntar a eles a razão de alguma coisa é a
mesma coisa que procurar açúcar enterrado na areia. Eles engarrafaram o mar da
verdade e o carregam nos bolsos de seus coletes; mediram a linha da graça divina e
deram um nó no barbante no comprimento exato do amor dos eleitos de Deus. As coisas
que os anjos custam a conhecer, eles já as conhecem todas, como as crianças que vêm
coisas incomuns nos caleidoscópios. Tendo vendido sua modéstia e se tornado mais
sábios que seus mestres, eles montam em um cavalo muito alto e passam por cima dos
cinco portões trancados dos textos bíblicos, que ensinam doutrinas que contrariam suas
idéias absurdas. Quando isso acontece a homens de bem, é muito triste ver esses potes
de ungüento perfumado deteriorados pelas moscas, porém aprendemos a lidar com eles,
assim como faço com a velha Violeta, uma égua excepcional, mas que, às vezes, põe as
orelhas para trás e empaca. Mas há bastante arrogância nos que são apenas ferrão, sem
mel; apenas chicote, sem feno; apenas grunhidos, sem bacon; nos que, da manhã à
noite, não fazem nada além de injuriar, em todos que não agüentam ver seus espetáculos
até o fim. Seria mais suportável se eles, ao menos, misturassem um pouco de bem viver
a todo esse orgulho, mas não, eles não se preocupam com essa verdade. Não se pode
esperar que homens tão perfeitos como eles sejam bons em alguma outra coisa; eles são
Pag.12
os cães de guarda divinos que protegem a casa de Deus contra os ladrões e assaltantes
que não pregam doutrina sadia; e se eles fossem causa de aflição para as ovelhas ou
furtassem um ou dois coelhos às escondidas, quem os culparia? O povo querido de
Deus, como eles mesmos se intitulam, já tem de fazer muito para manter sua doutrina
audível; e quem se preocupa se os métodos não são perfeitos! Ninguém pode cuidar de
tudo ao mesmo tempo. Eles são as toupeiras que buscam caça em nossos pastos, não
para si mesmos, pois não há nada aproveitável lá para eles, mas sim para os prados que
corrompem. Eu não encontraria nem mesmo a metade de um erro na doutrina deles, se
não fosse direcionada para os seus espíritos; mas, se comparados a ela, o vinagre é doce,
e os lobos parecem ovelhas. É uma doutrina tão elevada que está muito acima de minha
capacidade, porém, preciso ter muita experiência e muita prática ao lidar com ela ou
embrulhará meu estômago. Por outro lado, eu disse o que tinha para dizer, preciso
abandonar o assunto, ou alguém perguntará o que tenho que ver com o moinho de vento
de Dom Quixote?
Às vezes, repreendem o pregador por seu modo de falar. Mais uma vez, esse é
um campo fácil de se encontrar imperfeições, pois todo monte de feijão sempre tem um
escuro, e todo homem tem suas falhas. Nunca conheci um bom cavalo que não tivesse
algum hábito estranho ou outro defeito, e nunca vi um pastor de mérito não usar algum
artifício ou singularidade, assim, esses são os bocados de queijo que os mistificadores
descobriram e censuram, esse homem é muito vagaroso, e o outro, muito rápido; o
primeiro é muito poético, e o segundo, muito maçante. Seria uma tristeza, se todas as
criaturas de Deus fossem julgadas desse jeito, nós precisaríamos apertar o pescoço da
pomba para domesticá-la; atirar nos tordos por comerem aranhas; matar as vacas por
balançarem as caudas; e as galinhas por não nos fornecerem leite. Quando um homem
tirar um obstáculo, ele logo consegue um pedaço de madeira; da mesma forma, qualquer
tolo tem algo a dizer contra o melhor pastor da Inglaterra. Do mesmo modo, se a forma
de pregar é constituída apenas de palavras simples e séria, ninguém pode fazer objeção
a ela – por lhe faltar polimento se o conteúdo é bom –, ela não pode soar imprópria.
Ninguém deveria usar linguagem prolixa no púlpito – e pode-se considerar toda
linguagem negativa se as pessoas simples não conseguem entendê-la, mas as palavras
religiosas, sóbrias, decentes e simples ninguém pode criticar. O homem do campo fica
tão aquecido com chita, quanto um rei com veludo, e uma verdade é tão confortadora
em palavras simples quanto em um discurso refinado. Cada um no seu lugar; quando
estão com fome, os homens deixam a cozinheira preparar a carne, pois ela a deixa mais
tenra e substanciosa. Se os ouvintes fossem melhores, os sermões também seriam.
Quando os homens dizem que não podem ouvir, eu recomendo que comprem um
captador de som e lembrem do velho ditado: "O pior surdo é quem não quer
ouvir".Quando jovens pregadores ficam desanimados, devido às observações duras e
indelicadas, em geral, conto-lhes a história do velho, do menino e do burro e o que
aconteceu com a tentativa de agradar a todos. Nenhum tocador de flauta jamais
conseguiu agradar a todos os ouvintes. Quando se põe o capricho e a fantasia no lugar
do julgamento, a opinião de um homem não passa de vento, por isso, ninguém se
preocupa com isso mais que com o vento que assobia pelo buraco da fechadura.
Já ouvi falar de pessoas que conseguiram encontrar erros em coisas que nem
faziam parte do discurso. Não importa quão bem se trouxe o assunto à tona, havia outro
assunto sobre o qual nada foi dito e, portanto, tudo estava errado. Isso é tão justo quanto
encontrar defeito em meu arado porque não cava buracos para os feijões ou estragar um
bom campo de milho porque não há nabos nele. Quem procura por cada uma das
verdades de um sermão? Da mesma forma, vocês poderiam reclamar de um prato com
um pedaço de carne porque não tem bacon, ou vitela, ou ervilhas verdes. Suponhamos
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que um sermão não conforte completamente os mais religiosos; mas, se por outro lado,
ele advertir os pecadores, será que devemos desprezá-lo? Um serrote não seria uma
ferramenta adequada para alguém se barbear; mas só por isso devemos jogá-lo fora?
Qual a utilidade de se tentar constantemente descobrir imperfeições? Detesto ver um
homem que tem sensibilidade para perceber as coisas passíveis de queixa, como um cão
que caça ratos farejando suas tocas. De qualquer maneira, desbastemos o erro, as raízes
e os galhos, mas conservemos nossas tesouras de podar enquanto houver arbustos
espinhosos a desbastar e não caiamos na desventura da piedade por nós mesmos. Julgar
pregadores não é um negócio rendoso, pois não vale a pena. Ao julgar o sermão, eles
dão o prêmio para o melhor entre nós; mas esses juizes de pregadores são muito lentos
para dar alguma coisa, mesmo para aqueles em quem confessam pensar muito. Eles
pagam com elogios, mas não dão o prêmio. Eles usam o evangelho para qualquer coisa
e acham que fizeram um grande favor quando o reverenciam, e não o censuram.
Todos se consideram bons juízes de sermões, mas nove entre dez deles têm a pretensão
de poder pesar a lua. Pensando bem, creio que a maioria das pessoas pensa que pregar é
uma coisa extremamente fácil e que poderia fazer isso maravilhosamente bem. Todo
estúpido se acha útil para cuidar dos cavalos do rei; toda menina pensa que poderia
cuidar da casa melhor que sua mãe. Mas pensamentos não são fatos; o pescador sabia
mais do que a sardinha que pensava ser um arenque. Eu ouso dizer essas coisas, os que
assobiam imaginam que podem arar, mas há mais que um assobio em um bom lavrador.
E deixem que eu diga, há mais em uma boa pregação do que pegar um texto e dizer: em
primeiro lugar, em segundo lugar, em terceiro lugar. Eu mesmo tento pregar, e em meu
humilde modo de pensar, não acho nada fácil dizer ao povo alguma coisa que valha a
pena ser ouvida. Se a fila de críticos, que nos conta nos dedos, também tentasse pregar,
com certeza, ficariam mais calados. Os cães, entretanto, latem sempre e o pior é que
também mordem; mas deixem que as pessoas decentes façam tudo o que podem ou
amordace-as para evitar, desde já, que causem muito dano. É terrível ver uma família
feliz de cristãos dissolvida por faladores, descobridores de imperfeições, e tudo por
nada, menos que nada. A extremidade da cunha é pequena, mas quando o diabo
manipula o macete, as igrejas se separam em grupos, e os homens se perguntam por que
isso ocorreu. O fato é que a roda defeituosa da carroça chia mais, e um tolo transforma
muitos em tolos, assim como a maioria das congregações teria vantagem com um pastor
fiel, que poderia ser sua última benção, se não tivesse afugentado seu melhor amigo. Em
geral, os que estão voltados para a injúria não participam realmente da verdadeira
religiosidade; mas são como os pardais que lutam pelo milho alheio, e como as gralhas
despedaçam aquilo que nunca ajudaram a construir. Que possamos nos livrar dos
cachorros loucos e dos professores mistificadores e que não tenhamos de suportar a
queixa de nenhum deles. Encontrar imperfeições é terrivelmente contagioso, um cão
contagia todo o canil quando uiva, o procedimento mais sábio é manter fora do caminho
quem tem a doença da mistificação. O pior disso é que as doenças dos pés e da cabeça
caminham juntas, e aquele que calunia os outros, rola na lama bem antes dos que ele
calunia. "O fruto do Espírito é amor", essa é uma maçã muito diferente da azeda maçã
siberiana que algumas pessoas trazem para cá. Adeus a todos vocês filhos queixosos,
seria mais fácil João Lavrador roer um osso em paz que lutar por um boi assado.
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Capítulo 3: A aparência do Pregador
Um bom cavalo não tem uma cor desagradável, e um pregador realmente bom
pode vestir o que mais lhe agradar, pois ninguém vai dar importância a isso, mas apesar
de não conhecermos o vinho pelo barril, uma boa aparência é uma carta de
recomendação, mesmo para um lavrador. Os sábios não se apaixonam nem se desiludem
à primeira vista, ainda assim a primeira impressão é sempre uma coisa importante
mesmo para eles; o que dizer então em relação aos menos esclarecidos para quem, por
não serem sábios, uma boa aparência representa meio caminho andado.
O que é boa aparência? Bem, não é ser pomposo e engomado, ou se fazer de grande e
poderoso entre as pessoas, porque o orgulho põe a perder os corações, ao passo que as
palavras gentis os cativam. Não é tampouco usar roupas finas; porque roupa
extravagante é a mesma coisa que uma casa suja por dentro e com a entrada sem a
limpeza adequada. Esse tipo de roupa é considerado a melhor parte em uma boneca.
Quando um homem é vaidoso como um pavão, todo pomposo e exibido, ele precisa se
converter antes de pregar para os outros. O pregador que mede a si mesmo pelo espelho,
pode agradar algumas jovens tolas, mas nem Deus nem os homens se mantêm muito
tempo com ele. O homem que deve sua grandeza ao seu alfaiate descobre que essa
agulha e essa linha não conseguem manter um tolo no púlpito por muito tempo. Um
cavalheiro deve ter mais em seu bolso que sobre os ombros, e um ministro deve ter mais
a mostrar em seu interior que em sua aparência externa. Se pudesse, eu diria para os
jovens pastores não preguem de luvas, porque os gatos não caçam ratos com luvas de
boxe, e que não passem muita brilhantina no cabelo como fazem os vaidosos, porque
ninguém se preocupa em ouvir a voz dos pavões; não tenham sempre em mente apenas
sua bela aparência, ou ninguém mais se preocupa com vocês. Tirem os anéis de ouro, as
correntes e as jóias; por que o púlpito deve se transformar em uma vitrine de jóias?
Excluam para sempre as sobrepelizes e as batinas e todas essas vestimentas exageradas,
os homens devem afastar de si as coisas infantis. Uma cruz nas costas representa o sinal
do diabo no coração; os que fazem como Roma devem ir a Roma e mostrar suas
credenciais de herdeiros. Se os padres supõem que conseguem o respeito dos homens
honestos por causa da indumentária fina estão muito enganados, pois é voz corrente: "O
hábito não faz o monge", e: "O macaco não se parece tanto com um macaco como
quando veste o manto papal".
Entre nós reformistas, o pregador não reivindica poderes sacerdotais e, portanto não
deve jamais usar uma vestimenta especial. Deixem os tolos usarem capuzes e hábitos
tolos, pois os homens que não reivindicam a tolice não devem usar roupas desse tipo.
Ninguém a não ser uma ovelha imbecil usaria a pele de um lobo. É um gosto estranho o
que leva os homens a ansiarem pelos farrapos de um ladrão. Além disso, qual é o lado
bom desse aparato espalhafatoso? Nenhuma criatura poderia parecer mais estúpida que
um pregador reformista com um capuz que não tem utilidade nenhuma para ele, com
exceção de um pato que use tamancos. Eu morro de rir quando vejo nossos doutores
com toga e faixas, esbaforidos com suas roupas de seda, enfeitados com seus pequenos
peitilhos, pois eles me lembram muito o nosso conhecido peru quando fica estufado
com os temperos postos em seu interior. Com certeza, são muito tolas as pessoas que
querem ver um homem vestido como mulher em vez de apreciar seu sermão; e aquele
que não consegue pregar sem essa vestimenta espalhafatosa pode se achar um homem
entre simplórios, mas é um simplório entre homens. Ao mesmo tempo, o pregador deve
se esforçar, de acordo com seus recursos, para vestir-se de forma respeitável; e em
relação à pureza, ele não deve ter máculas, pois os reis não devem ter homens de pés
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sujos junto de sua mesa; e aqueles que pregam as coisas de Deus devem praticar o
asseio. Eu daria preferência às gravatas brancas, se elas fossem sempre brancas, porque
marrom de sujeira não cabe em lugar nenhum. Podemos nos ver livres de um pároco
relaxado, enfumaçado, aspirador de rapé, bebedor de cerveja? Muitos dos que encontrei
talvez até tivessem muito boas maneiras, mas não lhes ocorria terem boas maneiras
consigo mesmo havia muito tempo. Como um capitão holandês deixa as âncoras no
mar, eles deixaram as boas maneiras em casa; mas esse jamais deve ser o argumento
para tornar um pároco bem comportado em o ministro. Um paletó surrado não significa
desonra, mesmo o mais simples deles pode estar bem apresentado, e os homens devem
ser estudiosos, e não professores, até alcançar esse patamar. Não se pode julgar um
cavalo pelo arreio; mas uma aparência modesta, distinta, em que a roupa é do tipo sobre
a qual não se pode fazer comentário, parece-me ser o tipo certo de coisa.
Esse pequeno ponto de minha reflexão tem o objetivo de advertir vocês jovens que
acabam de se iniciar no ministério; e se algum de vocês ficar bravo por causa desses
comentários, terei de lembrá-los que cavalos com feridas no lombo não suportam ser
escovados, e, de novo, "aqueles a quem a carapuça servir, vistam-se de João Lavrador",
vocês dirão que teria sido melhor remendar o próprio avental e deixar o pároco em paz,
mas peço licença para cuidar de mim e falar o que me vem à mente, pois um gato pode
mirar um rei, e um tolo pode dar bons conselhos ao homem sábio. Se eu falar com muita
simplicidade, por favor, lembrem-se de que o cão velho não consegue mudar sua forma
de latir, e aquele que por muito tempo foi acostumado a arar em um sulco reto também é
muito competente para falar com honestidade.
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Capítulo 4: A natureza boa e a firmeza
Não sejam totalmente doces, ou o mundo sugará vocês; mas também não sejam
totalmente azedos, ou o mundo não respeitará vocês. Há um meio termo em todas as
coisas, apenas os teimosos adotam os extremos. Nem tanto ao mar nem tanto à terra.
Não precisamos bajular todo mundo como os cachorros tolos que abanam o rabo para
todos, nem agredir todo mundo como mastins ferozes. Brancos e negros caminham
juntos construindo o mundo. Por isso, do ponto de vista do temperamento, temos que
nos relacionar com todos os tipos de pessoas. Algumas pessoas são tão dóceis como um
sapato velho, mas dificilmente um pé vale mais que o outro; outras se inflamam mais
depressa do que uma isca, diante da menor ofensa, e são tão perigosas como pólvora.
Ter um companheiro para andar de lá para cá pela fazenda, hostil com todos como um
urso que não sabe perder, de temperamento tão azedo como leite estragado, tão
agressivo como o fio de uma navalha, com uma aparência tão mal humorada quanto à
de um cão carniceiro é um grande aborrecimento, mesmo que tenha aspectos bons. Mas
coitado do generoso Tommy, tão ingênuo, sempre pronto a se curvar como um bambu,
não tem valor para ninguém e é alvo do desprezo de todos. Um homem deve ter caráter,
senão como pode manter a cabeça erguida? Mas esse caráter deve se curvar, ou ele
encontra muitas dificuldades. Existem momentos em que devemos fazer como os outros
querem, mas também o de se recusar a fazer isso. Se nos fizermos de burros, todos
montam em nós, mas se nos fazemos respeitar, somos donos de nós mesmos e não
deixamos os outros colocarem sela em nós como acham que podem fazer. Se tentamos
agradar a todos, somos como um sapo preso em uma grade e nunca temos paz, e se
somos lacaios para todos nossos vizinhos, bons ou maus, não temos o agradecimento de
nenhum deles, pois logo causamos tanto o mal quanto o bem. O que se faz de ovelha
descobre que os lobos não estão todos mortos. O que fica deitado no chão pode ter
certeza que será pisado. O que faz de si mesmo um rato come as iscas Se vocês
permitem que seus vizinhos levem seu bezerro nas costas, eles o farão e logo abaterão
sua vaca. Nós devemos agradar nossos vizinhos pelo seu bom aperfeiçoamento moral,
mas, isso é um assunto completamente diferente. Há raposas velhas cujas bocas estão
sempre salivando em busca de gansos jovens, e se elas conseguem persuadi-los a fazer
exatamente o que querem, logo os põem à venda. Os amigos o considerarão um ótimo
companheiro se fizer o papel do cavalo que faz trabalhos comunitários, logo o meterão
em confusão!
Além da confusão, vocês terá de conseguir tudo sozinho, pois, seus amigos, com
certeza, dirão a você: "Adeus cesto, já carreguei todas as minhas maçãs", ou lhe
desejarão os melhores votos e nada mais, e você descobre que palavras amáveis são
apenas bajulação, não enchem a barriga de ninguém. Os que fazem muito caso de vocês
não pretendem nem enganar nem precisar de vocês, quando sugam a laranja, jogam a
casca fora. Por isso, sejam sábios e olhem antes de pular, a fim de que o conselho de um
amigo não cause mais desordem que a difamação de um inimigo. "O inexperiente
acredita em qualquer coisa, mas o homem prudente vê bem onde pisa". Sigam com seu
vizinho até onde o bom senso estiver com vocês, mas se separem a partir do momento
em que o sapato da consciência começar a apertar seus pés. Comece com seu amigo do
mesmo modo que pretende continuar e, desde o início, faça-o saber que você não é um
homem feito de massa, mas alguém que tem opinião sobre si mesmo e pretende usá-la.
Pare no momento em que descobrir que está fora da estrada e pegue imediatamente o
atalho de volta mais próximo. A forma de evitar grandes erros é cuidar dos pequenos.
Portanto, pare a tempo se não quiser que seu amigo o leve para o fosso. É melhor
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ofender seu conhecido que perder seu caráter e arriscar sua alma. Não se envergonhe de
descer a pé a Turnagain Lane. Nunca se preocupe em ser chamado de vira-casaca
quando se desviar de caminhos negativos; é melhor virar a tempo que queimar na
eternidade. Não se deixe persuadir a arruinar a si mesmo – desprezar a si mesmo para
agradar os companheiros é desperdiçar dinheiro com algo que não vale a pena. Olhe
sempre onde pisa e não permita que ninguém o afaste do caminho certo. Aprenda a
dizer "Não", pois isso é mais útil para você que aprender latim.
Com freqüência, aquele que é amigo de todos não é amigo de ninguém, ou pior, em sua
simplicidade, ele rouba a família para ajudar estranhos e se torna irmão de indigentes.
Há sabedoria na generosidade, como em tudo mais, alguns precisam ir à escola para
aprender isso. Uma pessoa bondosa pode ser muito cruel com os próprios filhos quando
tira o pão da boca deles para dá-lo aos que o chamam de companheiro generoso, mas
que riem da sua insensatez. Com muita freqüência, quem empresta dinheiro, perde tanto
os amigos como o dinheiro. E o que é fiador nunca está seguro. Aproveite os conselhos
de João Lavrador, e nunca seja fiador de mais do que você está realmente disposto a
perder. Lembre-se a palavra de Deus diz: "Quem serve de fiador certamente sofrerá,
mas quem se nega a fazê-lo está seguro".
Quando somos ofendidos, como cristãos, somos compelidos a suportar isso sem
maldade, mas não temos a pretensão de não sentir, pois isso não faria nada além de
encorajar nossos inimigos a nos chutarem de novo. O que é enganado duas vezes pelo
mesmo homem é quase tão mau quanto o trapaceiro; e é muito pior em outras ofensas.
A não ser que reivindiquemos nossos direitos, nós mesmos nos culparemos se não os
conseguirmos. Paulo estava disposto a suportar açoites pelo seu Mestre, mas, ele não se
esqueceu de dizer aos juízes que era romano; e quando aqueles homens quiseram tirá-lo
da prisão secretamente, ele disse: "Não! Venham eles mesmos e nos libertem". O cristão
é o mais nobre dos homens, mas mesmo assim é um homem. Para uma boa parte de
pessoas não é preciso se dizer isso, pois se vê que há possibilidade de alguém prejudicála,
cuida disso em instantes. Muito antes de saber se há um ladrão, no pátio da fazenda
ou se foi a velha égua que se perdeu, já está a postos na janela a fim de despachar o
desajeitado no mesmo instante. Esses vizinhos são perigosos; é mais fácil um homem
escapar dos chifres de um touro que encontrar conforto em uma vizinhança assim.
Não faça amizade com um homem irado e não acompanhe um homem furioso. "O
homem paciente dá prova de grande entendimento, mas o precipitado revela
insensatez".Você já viu um homem precipitado nas palavras? Há mais esperança em um
tolo que nele.
No meu tempo conheci poucos homens totalmente obstinados que nem o sentimento
nem a razão tiveram condição de mudar. Em nossa aldeia há um desses homens
estranhos, ele tem um buldogue e disse-me que quando o animal morde alguma coisa de
repente, ele não a larga mais, e se você quiser tirar o que for de sua boca tem de cortar
fora sua cabeça. Foi um homem desse tipo que me amofinou muitas vezes e quase me
deixou louco. Seria mais fácil argumentar com um forcado em uma debulhadora ou
persuadir um pedaço de tijolo a se transformar em mármore do que incutir bom senso
naquele homem. Tirar as manchas do leopardo não é nada comparado a tentar conduzir
um homem completamente obstinado. Certo ou errado, é mais fácil fazer uma montanha
caminhar até Londres que fazer com que ele mude de idéia se estiver decidido. É uma
coisa maravilhosa quando um homem mantém-se firme ao seu texto (nosso ministro
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diz: "Esse é o material de que são feitos os mártires"), mas quando ele é ignorante, os
desatinados introduzem esse grão duro nele, e ele transforma em mártires os que têm de
caminhar com ele. O velho Senhor Cabeça de Porco, como não conseguiu vender seu
milho pelo preço que queria, deixou os ratos devorarem montes dele e jurou que
pregaria com força um prego na casca de um carvalho com o próprio punho a fim de
danificar a mão para o resto da vida. É impossível cavalgar pelos seus campos sem
perceber sua obstinação, pois ele prometeu solenemente "que não adotaria nenhuma
dessas idéias modernas" e como resultado disso teve a pior colheita da região. O pior de
tudo é que, em um acesso de raiva, expulsou a filha de casa, porque ela se juntou aos
metodistas. Acredito que ele se arrependeu muito disso, mas não cedeu em um
centímetro em relação ao assunto e continua dizendo que nunca mais falará com ela
enquanto viver. Entretanto, a pobre garota está morta de tristeza por causa dessa
grosseria. Promessas precipitadas são mais fáceis de serem quebradas do que mantidas.
O que nunca muda, nunca melhora; o que nunca grita, nunca conquista.
Com os filhos, vocês precisam misturar gentileza com firmeza, elas não podem sempre
fazer tudo do jeito deles, mas também não podem sempre ser contrariados. Alimente o
porco quando ele grunhe, e à criança quando ela chora, e você terá um porco dócil e
uma criança mimada. O homem que está aprendendo a tocar trombeta e uma criança
mimada são duas companhias muito desagradáveis, mesmo como vizinhos próximos;
mas a não ser que cuidemos bem disso, nossos filhos serão um aborrecimento para os
outros e um tormento para nós mesmos. "A vara da correção dá sabedoria, mas a criança
entregue a si mesma envergonha a sua mãe".Se não nos dermos ao trabalho de
repreender nossos filhos, teremos muitas dores de cabeça quando crescerem. A absoluta
coerência deve regular todos os nossos procedimentos com os jovens; sempre nosso sim
deve ser sim, e o nosso não, não. Nunca prometa um doce ou uma surra a uma criança e
deixe de cumprir. Faça-se obedecer a qualquer preço – crianças desobedientes são
infelizes, por amor a elas faça com que prestem atenção em você. Se você ceder em sua
autoridade uma vez, dificilmente a recupera, pois seu A pode significar B, e assim por
diante. Não devemos provocar a raiva de nossas crianças para que não se desencorajem;
mas devemos dirigir nosso lar no temor a Deus e seremos abençoados ao fazer isso.
Desde que João Lavrador começou a escrever, ele teve a excelente oportunidade de
mostrar sua firmeza e gentileza, pois recebeu uma enorme quantidade de conselhos
pelos quais, como diz a esposa do fazendeiro, ele apresenta seus cumprimentos. Para
mostrar sua gratidão, ele não se importa em devolver um conselho que recebeu, em vez
de dar um dos seus; pois está certo de que é muita gentileza de algumas pessoas
dizerem-lhe, de s diversas formas, como fazer de si mesmo um idiota. Ele pretende
juntar aos poucos tantas sugestões quantas puder dos restolhos de seus inúmeros
amigos, enquanto procura o estilo que se ajusta melhor a ele, e, se possível, essas
sugestões o deixarão um pouco mais em contato consigo mesmo. Talvez se o ministro
lhe emprestasse Cowper ou Milton, ele pudesse até dar um toque de poesia em seu
ramalhete para ficar tão belo como as flores de maio. Mas ele não pode prometer, pois a
colheita apenas começou e não há tempo para rimas em meio à colheita. O pior de tudo
é que esses amigos, que corrigem João, contradizem uns aos outros; um diz que o
assunto é muito insignificante, o estilo não é simplório o suficiente para um lavrador,
todos se manifestam com nome fictício; outro diz que a matéria está muito boa, mas as
expressões são tão grosseiras que seria surpreendente o editor pô-las em uma revista.
João pretende dar aos seus conselheiros toda a atenção que eles merecem; e da mesma
forma que os ratos que tiveram coragem suficiente para fazer um ninho no focinho do
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gato, ele pretende ir atrás deles e, em resposta às instruções deles, escrever conselhos
gratuitos minuciosos em um papel, conselhos esses que provavelmente os deixarão com
a pulga atrás da orelha.
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Capítulo 5: Paciência
A paciência é melhor do que a sabedoria; trinta gramas de paciência valem mais
que meio quilo de massa cerebral. Todos os homens louvam a paciência, mas poucos a
louvam o suficiente para praticá-la. É um remédio bom para todas as doenças, como
afirma toda senhora de idade, mas as ervas que produzem esse remédio não crescem em
todos os jardins. Quando alguém, de carne e osso como nós, fica cheio de dores, é muito
natural que murmure, como é natural um cavalo abanar a cabeça quando as moscas o
incomodam, ou uma roda ranger quando perde um aro. Mas a natureza não deveria ser a
regra para os cristãos ou, então, para que serve sua religião? Se um soldado não lutar
melhor que um lavrador, tire seu casaco vermelho. Esperamos mais fruta de uma
macieira que de um espinheiro e temos o direito de pensar assim. Os discípulos de um
Salvador paciente também devem ser pacientes. O velho ditado aconselha: "Sorria e
agüente", mas cantar e carregar é muito melhor. Afinal, temos poucas marcas de
chicote, considerando a péssima qualidade de gado que somos; e sempre achamos que
nosso sofrimento vem cedo demais. A dor passada é prazer, além de trazer experiência.
Nós não deveríamos ter medo de ir ao Egito quando sabemos que podemos voltar de lá
com jóias, prata e ouro.
Pessoas impacientes lavam suas misérias e sulcam seu bem-estar; as tristezas são
visitantes que chegam sem ser convidados, mas as mentes queixosas causam um vagão
de problemas em sua casa. Muitas pessoas nascem chorando, vivem se queixando e
morrem frustradas; elas mastigam a pílula amarga sem sequer saber não seria tão
amarga se tivessem inteligência para engoli-la inteira, com um copo de paciência e
água. Pensam que a carga dos outros homens é leve, e a delas pesa como chumbo.
Dificilmente elas se cansam da própria opinião. Os dedos dos pés de ninguém são
pisados pelo touro negro com tanta freqüência como os delas; a neve que cai em volta
de sua porta é mais espessa, e o granizo faz um barulho mais forte em suas janelas.
Contudo, se a verdade fosse conhecida, ficaria claro que é a fantasia delas, e não a má
sorte, que faz parecer que as coisas vão mal, a ladainha poderia ser posta de lado se não
pensassem apenas nisso. Se pomos um raminho da erva chamada contentamento em
uma sopa bem rala ela terá um sabor tão bom como a torta do prefeito. João Lavrador
cultiva a erva em seu jardim, mas o último inverno muito rigoroso danificou-a
terrivelmente, e ele não conseguiu uma mudinha para dar aos seus vizinhos; eles deviam
seguir Mateus 25.9 e procurar os que vendem e compram. A graça é um solo bom para
o cultivo, mas precisa ser regada com a água da fonte da misericórdia. Ser pobre nem
sempre é agradável, mas coisas piores que isso acontecem no mar. Sapatos pequenos
são ótimos para apertar, mas não se o pé for pequeno; se temos poucos recursos, é ótimo
que tenhamos desejos modestos. A pobreza não é vergonha, mas ficar descontente com
ela é. Em algumas coisas, os pobres são melhores que os ricos, se um homem pobre
tiver fome ele procura um alimento para matar a fome, já o rico que tem demais come
além do que precisa para se alimentar. A mesa do pobre logo fica arrumada, e seu
trabalho poupa-o de comprar molho. Os melhores médicos são o dr. Dieta, o dr.
Sossego e o dr. Feliz, e muitos lavradores religiosos têm todos esses senhores para
cuidar deles. A fartura causa gulodice, mas a fome não vê imperfeição no cozinheiro. O
trabalho pesado proporciona saúde, e trinta gramas de saúde valem mais do que um saco
de diamantes. Há mais doçura em uma colher cheia de açúcar que em um litro de
vinagre. Não é a quantidade de nossos alimentos, mas a graça de Deus no que temos
que nos faz verdadeiramente ricos. Os restos de uma maçã comum são melhores que
uma maçã silvestre inteira; um jantar de verduras em paz é melhor que um com a carne
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de um boi confinado acompanhada de discussão, ter pouco com temor a Deus é melhor
do que ter um grande tesouro acompanhado de problemas. Uma pequena quantidade de
lenha aquece meu pequeno forno; por que, então, devo me lastimar se toda a lenha não
for minha?
Quando as dificuldades aparecem, não adianta insultar Deus com pensamentos injustos
sobre a providência; isso é o mesmo que dar murro em ponta de faca e se machucar. As
árvores se curvam com o vento, e nós também devemos nos curvar. Cada vez que a
ovelha bali, perde um bocado, e cada vez que nos queixamos, perdemos uma benção.
Queixar-se é um mau negócio e não traz lucro, mas a paciência tem mãos de ouro,
nossos males logo terminarão. Depois da chuva surge um brilho claro; corvos negros
têm asas; cada inverno se transforma em primavera; cada noite rompe em manhã.
O vento não sopra sempre tão forte. No fim, ele se aquieta.
Quando uma porta se fecha, Deus abre outra, se as ervilhas não crescem bem; os
feijões crescem, se uma galinha abandona seus ovos, outra choca toda a ninhada. Há um
lado luminoso em todas as coisas, e um Deus bom em todos os lugares. Em um lugar ou
outro, no meio da pior onda de problemas sempre há terra firme onde pôr nosso
contentamento, e se não houver temos de aprender a nadar.
Amigo, como diziam os antigos, ponha paciência e água no mingau de aveia antes de
apanhar os miseráveis e transmitir aos outros a doença pecaminosa de encontrar
imperfeições em Deus. O melhor remédio para a aflição é submeter-se à providência. O
que não pode ser curado, deve ser suportado. Se não pudermos ter bacon, louvemos a
Deus, pois ainda temos alguns repolhos na horta. "O dever" é uma noz dura de quebrar,
mas tem uma semente doce. "Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o
amam".O que quer que caia do céu, mais cedo ou mais tarde, faz bem para a terra; o que
quer venha de Deus tem valor, mesmo que seja um açoite. Por nossa natureza, não
podemos gostar de dificuldades da mesma forma que um rato não cai de amores por um
gato, contudo Paulo, pela graça, chegou à glória também em tribulações. Perdas e
cruzes são pesadas de suportar, mas é maravilhoso como o fardo fica leve quando nosso
coração está do lado direito de Deus. Temos de ir para a glória pelo caminho da Cruz
das Lamentações; e como nunca nos foi prometido que iríamos para o céu em uma cama
de plumas não podemos nos desapontar ao ver que a estrada é difícil, como nossos pais
também acharam antes de nós. Tudo está bem quando termina bem, por isso, aremos o
solo mais árido com os olhos na colheita e aprendamos a cantar durante nosso trabalho,
enquanto os outros murmuram.
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Capítulo 6: Bisbilhotices
Em um canto da igreja Walton, em nossa aldeia, há um freio para bisbilhoteiras
que era usado tempos atrás para segurar a língua das mulheres que causassem
problemas para os maridos e para os vizinhos. Eles faziam coisas incríveis naqueles
bons tempos antigos. Seria esse freio uma prova daquilo que nosso pastor chama de
sabedoria de nossos ancestrais ou seria um pouco de crueldade desnecessária?
"Não é nada – apenas um abafador de mulheres", é um ditado desagradável e malicioso
que, como o freio, surgiu do senso comum de que as mulheres constroem um mundo de
injúrias com suas línguas. Isso é verdade ou não? João Lavrador deixará outra pessoa
responder, pois ele admite que não consegue manter sozinho um segredo e, como todo
mundo, gosta de um dedo de prosa; só que ele não dá importância ao caráter forte das
pessoas e odeia a calúnia, que é tão doce quanto os dentes de algumas pessoas. João
apresenta a questão para homens mais sábios que ele. Será que as mulheres são tão
piores que os homens nesse assunto? Dizem que o silêncio é uma jóia rara em uma
mulher, mas muito pouco usada. Será mesmo? Será verdade que a mulher esconde
apenas o que não sabe? Será que as línguas femininas são como as caudas dos cordeiros,
sempre balançando? Isso é falso ou não? Seria o velho ditado verdadeiro? "Livre-nos
das armas poderosas e das línguas das mulheres". João tem uma mulher muito boa e
quieta, cuja voz é tão doce que ele não consegue ouvi-la com muita freqüência e, por
isso, não pode ser um juiz imparcial. Mas ele está um pouco temeroso de que logo
outras mulheres preguem, em vez de orar e não precisem de chá forte para continuar
batendo palmas. Contudo, todos têm os mesmos direitos, e alguns homens são tão
bisbilhoteiros quanto as mulheres.
Que pena que não exista imposto para as palavras, a rainha conseguiria uma ótima renda
com isso. Infelizmente, a palavra não paga imposto; as mentiras pagariam o dobro, e o
governo poderia pagar a dívida nacional, mas quem conseguiria coletar o dinheiro? O
boato popular é uma mentira barata. Quase sempre metade dos "ouvi dizer" são mentira.
Quem conta um conto acrescenta um ponto. Da mesma forma que a bola de neve cresce
conforme vai rolando, também a história aumenta. Os que falam muito mentem muito.
Teríamos um mundo pacífico se os homens só dissessem a verdade. O silêncio
raramente produz bisbilhotice; mas a palavra é uma praga para a igreja. O silêncio é
sabedoria, portanto homens e mulheres sábios são raros. As águas calmas são as mais
profundas, mas os riachos rasos os mais ruidosos. Isso mostra como temos abundância
de tolos. Boca aberta é sinal de cabeça vazia. Se no baú tivesse ouro ou prata, ele nem
sempre ficaria escancarado. O dom da palavra nos vem naturalmente, mas é preciso
muito treino para aprender a falar mansamente; quanto à verdade, cada homem honesto
deveria ter na boca um pouco dela, já na língua de cada mulher boa deveria ser colocado
um freio.
Se precisamos falar, livrarão menos livremos-nos da difamação, evitando que nossas
línguas fiquem feridas com a calúnia. A maledicência pode ser um esporte para os
mexeriqueiros, mas é a morte para suas vítimas. Podemos cometer homicídio tanto com
a língua como com a mão. O pior mal que você pode causar a um ser humano é injuriar
seu caráter, conforme o quaker disse ao seu cão: "Eu não baterei em você, não abusarei
de você, mas darei a você um mau nome". Nem todos para quem os cães ladram são
ladrões, mas geralmente são tratados como se fossem. A maior parte das pessoas
acredita que "onde há fumaça, há fogo" e que o que todo mundo diz deve ser verdade.
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Assim, sejamos cuidadosos para não magoar nosso próximo em um ponto tão delicado
como seu caráter, porque é muito difícil desfazer o mal depois de feito; e quando um
homem está na lista negra do povo dificilmente consegue sair dela. Seria melhor falar o
menos possível para ter certeza de que estamos certos e para não falar de forma
imprópria, porque se dividirmos os pecados humanos em dois grupos, a metade deles é
pecado da língua. Se o homem não ofende com palavras, ele é perfeito e capaz de frear
também todo o resto do corpo.
As bisbilhotices de homens e mulheres deixam a marca vergonhosa de mexeriquice; não
sejam mais os foles do demônio soprando o fogo da discussão. Deixem de pegar as
pessoas pela orelha. Se vocês não cortarem um pedaço da língua, pelo menos tempereas
com o sal da graça ao falar. Louvem mais a Deus e culpem menos os vizinhos.
Qualquer ganso pode grasnar; qualquer mosca pode encontrar um lugar ferido; qualquer
barril vazio pode ressoar; e qualquer arbusto espinhoso pode rasgar a carne humana. As
moscas não entram pela sua garganta se você ficar com a boca fechada, da mesma
forma, nenhuma palavra má sai. Pense muito, mas fale pouco; seja rápido para trabalhar
e calmo para falar e, acima de tudo, peça ao Senhor para vigiar seus lábios.
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Capítulo 7: Agarre as oportunidades
Alguns homens nunca estão acordados quando o trem parte, mas se arrastam até
a estação ainda a tempo de ver que todo mundo já partiu e, então, dizem sonolentos:
"Puxa vida, o trem já partiu? Meu relógio deve ter parado à noite". Eles sempre chegam
à cidade um dia após o início da feira e mostram suas mercadorias uma hora depois do
mercado fechar. Eles aproveitam a oportunidade quando o sol se põe e cortam seu milho
logo que o tempo bom termina. Eles gritam: "Segure firme!", depois que o tiro saiu do
revólver e fecham a porta do estábulo quando já roubaram o cavalo. São como a cauda
da vaca, sempre atrás; pegam o tempo pelo calcanhar, não pelo cabelo; se é que
realmente o aproveitam de alguma forma. Não têm mais valor que um almanaque velho
cuja validade expirou por falta de uso. Infelizmente, não podemos ignorá-los, como
faríamos com o almanaque, pois são como a velha senhora rabugenta beneficiária de
uma anuidade da qual pretende receber o valor integral; eles não morrem apesar de não
terem serventia vivos. Como dizem, a calma e a vida longa são primos irmãos, o resto é
compaixão. Se eles são imortais enquanto tiverem trabalho a fazer não morrerão logo,
pois ainda nem começaram a trabalhar. Em geral, as pessoas ociosas se desculpam pela
preguiça dizendo: "Eu só estou um pouco atrasado", mas um pouco atrasado é quase
sempre muito atrasado, e um erro é um erro. Meu vizinho Sykes cobriu o poço depois
que seu filho se afogou nele, enquanto ele estava muito ocupado na parte de baixo da
velha fazenda trazendo baldes de água a fim de apagar o fogo que já tinha destruído
toda a casa. Com certeza, ele fará seu testamento quando já não puder segurar a caneta e
apenas pensará em se arrepender de seus pecados quando seus sentidos não funcionarem
mais.
Essas carroças lentas pensam que amanhã é melhor que hoje e tomam por regra um
antigo ditado transformado em confusão: "Não faça hoje o que pode deixar para
amanhã". Eles estão eternamente esperando que seu navio chegue e estão sempre
sonhando e procurando coisas do amanhã, enquanto a grama cresce na área de plantio, e
as vacas passam através das brechas da cerca. Se os pássaros não fizessem nada além de
esperar que alguém pusesse sal em suas caudas, que refeição eles levariam para casa,
para suas famílias! Mas enquanto as coisas se movem em seu próprio ritmo, os mais
jovens, em casa, terão de encher suas bocas com colheres vazias. Eles dizem: "Não
importa, tempos melhores virão, esperemos mais um pouco". Seus pássaros todos estão
no arbusto e, de acordo com a avaliação deles, raramente estão gordos, e precisariam
estar, pois ainda não têm nada em mãos, e a esposa e as crianças estão quase mortos de
fome. Eles dizem que alguma coisa acontecerá, mas por que os preguiçosos não fazem
acontecer por si mesmos? O tempo e a maré não esperam por ninguém, e mesmo assim
esses camaradas desperdiçam o tempo como se fossem donos dele e da vida e tivessem
uma gaiola cheia de oportunidades. Eles descobrirão seu erro quando a necessidade
acabar com eles, e isso não demora muito a acontecer com alguns em nossa aldeia que
já estão há um bom tempo a caminho da terra da necessidade. Quem não ara não pode
esperar ter alimento; os que desperdiçam na primavera têm um outono magro. Eles não
malharam enquanto o ferro estava quente e logo descobrirão que o ferro frio é muito
difícil de malhar.
"O que não quer enquanto pode, Recebe um não quando quer."
O tempo não fica amarrado ao poste como o cavalo, à manjedoura. Ele passa
como o vento, e o que mói seu milho com o vento precisa pôr em movimento as velas
do moinho. O que boceja até ser alimentado fará isso até morrer. Não se consegue nada
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sem sacrifício além de pobreza e sujeira. De acordo com o antigo dito: "O Jack
progrediu por causa de sua estupidez". Penso que o Jack veria que isso é muito diferente
hoje, mas o Jack, em tempo algum, progrediria pela tolice, deixando as oportunidades
presentes escaparem dele, porque as lebres nunca chegam perto da boca dos cães
enquanto eles dormem. Pois para quem tem tempo e espera sempre um momento
melhor, chega o momento em que se arrepende do tempo perdido. Não adianta ficar
deitado chorando: "Deus me ajude!". Deus ajuda os que ajudam a si mesmos. Quando
vejo um homem que declara que as coisas não vão bem e que nunca tem sorte, em geral,
digo a mim mesmo: "Aquele ganso velho não se sentou sobre os ovos antes de estarem
todos fecundados e agora culpa a providência porque eles não chocaram. Na realidade,
eu nunca tive fé na sorte, mas, em casos excepcionais, acredito que a sorte auxilia um
homem a passar sobre um fosso se ele pular bem e coloca um pedaço de bacon em seu
alforje se ele correr atrás de um porco. A sorte geralmente vem para aqueles que
procuram por ela, e a meu ver ela bate na porta de todo mundo, pelo menos uma vez na
vida, mas se não aproveitamos a oportunidade, ela vai embora. Os que perderam a
última chance e deixaram cada oportunidade passar por eles, amaldiçoam a providência
por pôr tudo contra eles: "Se eu fosse um chapeleiro, os homens nasceriam sem
cabeças". Outro diz: "Se eu fosse procurar água no mar, ele secaria". Todo vento é louco
para um navio desgovernado. Nem os sábios nem os ricos podem ajudar quem recusou
ajudar a si mesmo por muito tempo. João Lavrador, de forma muito gentil, envia seus
cumprimentos aos amigos e agora que a colheita terminou e o lúpulo está todo colhido,
ele, conforme prometeu, pretende dar-lhes um pouco de poesia apenas para testar o
polimento. João pediu que o ministro que lhe emprestasse as obras de um poeta, ele
enviou a obra de George Herbert – sem dúvida, muito bom, mas tão difícil como
Harkaway Wood. No entanto, uma boa parte desses estranhos versos antigos, de vez em
quando, ainda aparece como cachos de nozes muito doces, mas algumas delas são ainda
mais difíceis de quebrar. Embora o verso, a seguir, esteja próximo do que falei, na
verdade, ele é bem simples, e João, apesar de pedir perdão ao poeta, não vê rima nele.
Entretanto, como é de autoria do grande Herbert, ele tem de ser bom e é o bastante para
ornamentar a palavra de João, como a flor colocada na lapela de um paletó
domingueiro.
Deixa que teu pensar fique submisso, calmo, projetando onde,quando e como tuas
ocupações podem ser feitas.A negligência cria larvas, mas o viajante confiante,
mesmo que apeado algumas vezes, prossegue.Sozinho, age e impulsiona almas a
viverem.
Escreve sobre os outros, eis aqui um desses.
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Capítulo 8: Mantenha os olhos abertos
Para andar pelo mundo, um homem deve cuidar de si mesmo e dormir com um
olho aberto, pois há muitas iscas para peixes, muitas redes para pássaros e muitas
armadilhas para os homens. Enquanto houver tantas raposas não devemos bancar os
gansos. Muitas pessoas que conheço vêem esse assunto de formas diferentes: muitas
vêem mais com um olho, outras, com os dois e muitas têm ótima visão e não
conseguem enxergar nada. Nem todas as cabeças são caixas perceptivas. Algumas são
tão astutas que suspeitam de todo mundo e, por isso, passam a vida com um medo
horrível de seus vizinhos, outras são tão simplórias que qualquer vagabundo consegue
tapeá-las e tirar seu dinheiro. Um homem tenta olhar através de uma parede de tijolos e
machuca os olhos, ao mesmo tempo em que outro encontra um buraco na parede e vê o
que quer. Alguns trabalham na boca da fornalha e nunca se queimam, outros queimam
as mãos no fogo só por tentar aquecê-las. Ora, é verdade que ninguém pode dar
experiência para ninguém, e todos nós precisamos ganhar juízo por nós mesmos. Eu me
aventuro a dar alguns conselhos caseiros que foram úteis para mim e talvez também
possam ajudar outras pessoas. Ninguém se parece mais com um homem honesto que o
perfeito farsante. Quando um homem expõe uma grande quantidade de artigos
religiosos na vitrine de sua loja, você pode contar que o estoque da loja desse material é
muito pequeno. Não escolha seu amigo pela aparência, sapatos bonitos quase sempre
apertam os pés. Não de importância aos elogios, lembre-se: "Obrigado gatinho e
obrigado bichano", mataram o gato. Não acredite no homem que fala o tempo todo
porque os que mais miam são sempre os melhores caçadores de camundongos. Nunca
se deixe dominar por outra pessoa, se você coloca o polegar no moedor, ele o tritura.
Não beba nada sem ver o que é; não assine nada antes de ler e certifique-se de que não
há nada subentendido além do que está escrito de forma clara. Não procure a lei, a não
ser que não tenha nada a perder; as casas dos advogados são construídas com a cabeça
dos tolos. Em qualquer negócio, nunca mergulhe em águas cujo fundo não se pode ver.
Não confie na etiqueta, conte o dinheiro mesmo depois que seu parente o contar, veja o
que há no saco antes de comprar, porque quem negocia no escuro pede para ser
enganado. Mantenha-se afastado do homem que não dá valor ao próprio caráter. Tome
cuidado, pois nossos piores inimigos somos nós mesmos. Quando uma nova opinião ou
doutrina aparecer diante de você, não se impressione muito antes de saber se é pão ou
pedra. Não tenha certeza que o bolo de gengibre está bom apenas por causa da aparência
bonita. Nunca diga: "Alô", antes de estar totalmente fora da floresta, e não grite: "Peixe
frito", antes de o peixe estar na rede. Há sempre tempo suficiente para elogiar —, espere
um pouco mais. Não jogue a água suja até ter conseguido outra limpa; continue
varrendo as estradas até conseguir um trabalho melhor, receber pouco é melhor que
nada, e o escritório mais humilde é melhor do que ficar desempregado. Deixe sempre as
estradas para os touros e para os alienados e nunca lute com um carregador de carvão ou
discuta sobre princípios fundamentais de caráter, pois ambos enegrecem você.
Não confie nem discuta, Não aposte, nem empreste, ou ficará dependente – assim,
você terá paz para alcançar seus objetivos.
Eu não posso dizer muito além do que essa velha rima diz, porque é preciso mais
do que isso para proporcionar paz, mas, com certeza, isso ajuda a alcançá-la. Nunca
cavalgue em um cavalo de joelhos quebrados. O negociante que já teve uma falência
fraudulenta não é a pessoa certa para você negociar. É perigoso sentar em uma cadeira
fraca. Afaste-se de pessoas que são excessivamente polidas, e não se apresse com os que
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são precipitados e rudes. Quando você suspeitar que alguma coisa é arriscada, fique
atento, arme a ratoeira assim que pressentir o rato, mas cuide para não prender os
próprios dedos nela. Há muito pouco a fazer com um bajulador, sua cerveja é cheia de
espuma e apesar gabar-se de que todos os seus pertences são de ouro e prata, mesmo sua
chaleira de cobre, você logo descobre que ele e o mentiroso são primos irmãos. Não
confie seus segredos a ninguém; confie em Deus de todo coração, mas deixe sua
confiança nos amigos ser pesada na balança da prudência, lembrando-se que os homens
são apenas homens e, portanto, frágeis. Não confie grandes pesos a fios delgados. E não
seja sempre desconfiado, porque a desconfiança é uma virtude covarde mesmo na
melhor hipótese. Lembre-se que homens não são anjos; mas também não são demônios
e é péssimo imaginá-los dessa forma. Tenham certeza de uma coisa, nunca acreditem
em nenhum pastor de nenhuma religião porque antes que um homem possa ser mau a
ponto de pretender ser pastor, ele tem de endurecer o coração e cegar a consciência o
mais que puder. Nossos governantes prendem ciganos por predizerem fortunas, no
entanto eles dão gordas pensões aos vagabundos que enganam o povo em coisas bem
mais importantes. "Má companhia", disse o ladrão quando foi para a forca entre o
carrasco e o pastor; a frase, embora dita com zombaria, é honesta e verdadeira. É a
ignorância dos tolos que mantém o pote fervendo para os sacerdotes. Possa Deus limpar
esta terra da praga da presença deles e fazer os homens sábios o bastante para enxergar
seus truques astuciosos. Por fim, meu conselho para todos é – lembrem-se que a melhor
sabedoria é a que, no fim, o deixa mais sábio; procurem por ela amigos e procurem nas
mãos do mais sábio de todos os professores, o Senhor Jesus. Confiem nele, e ele nunca
falhará com vocês, sejam guiados pela palavra dele, e ela nunca desencaminhará vocês;
orem em nome dele, e seus pedidos serão atendidos. Lembre-se, quem se encosta no
homem encontra nele um bambu quebrado, mas quem constrói em Cristo tem uma
fundação firme. Você pode seguir Jesus de olhos fechados, mas quando outros homens
guiam você, mantenha os olhos abertos mesmo que tenha uma dúzia deles e todos sejam
poderosos como telescópios.
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Capítulo 9: Como usar o pensamento
Muito pouco desse papel deve ser depositado na conta de João Lavrador, pois
nosso ministro, conforme posso dizer, encontrou os cavalos e segurou as alças do arado;
o lavrador apenas interferiu com um toque de chicote de vez em quando, apenas para
manter o povo acordado. "Duas cabeças pensam melhor que uma", disse a mulher
quando levou seu cão com ela ao mercado. Peço desculpas, mas nosso ministro é essa
mulher, e a única cabeça sensível em tudo isso. Ele é usado como instrumento para dar
ao povo muitas coisas diferentes das que um lavrador poderia tirar de sua mochila; mas
eu tenho, a seu pedido, deixado cair em seus pensamentos alguns provérbios caseiros,
como ele diz: "Como o sal", que é uma forma sutil de temperar algo. Eu apenas espero
não ter estragado a escrita dele com minhas expressões toscas. Se ele concordar, eu
gostaria de ter mais um pouco de suas peças para alinhavar com minhas palavras; e ao
público dir-se-á, sempre com honestidade, se as anotações devem ser consideradas
como A Palavra de João Lavrador, como um todo, ou como palavras de dois autores
reunidas em uma só escrita.
Há mais pensamentos em uma hora do que horas em um ano. Os pensamentos voam em
flocos como bandos de estorninhos; como enxames de abelhas; como folhas secas de
outono que não se pode contar e como os elos de uma corrente, uns ligados aos outros.
Que ser intranqüilo é o homem! Seus pensamentos dançam de lá para cá como
mariposas em uma noite de verão. A mente move-se rápida como o tempo em um
relógio cheio de engrenagens, e o pêndulo em plena oscilação. Isso nos faz pensar em
algo muito importante. Os pequenos pensamentos transformam-se em muitos, da
mesma forma que muitos pensamentos leves têm um grande peso pecaminoso. Um grão
de areia é muito leve, mas Salomão nos diz que um monte de areia é pesado. A mãe que
tem muitos filhos cuida muito melhor deles. Temos de vigiar nossos pensamentos, pois
são tão numerosos que nos arruínam se viram nossos inimigos. Os pensamentos
celestiais enchem nossa alma de cânticos, como os pássaros na primavera; mas os
pensamentos do mal picam-nos como víboras.
Há um consenso de que o pensamento é livre; mas lembro-me de ter lido que apesar dos
pensamentos não pagarem impostos, eles não estão livres do inferno; e essa noção está
completamente de acordo com a excelência do Antigo Testamento. Não podemos ser
citados antes de uma breve sessão de conciliação, mas dependendo dela, podemos ser
julgados por isso no julgamento final. Os maus pensamentos são a essência do pecado,
estão no malte de onde o pecado é extraído; na isca que apanha as faíscas das tentações
do demônio; na igreja onde o leite da imaginação é transformado em objetivo e projeto;
no ninho onde todos os pássaros maus botam seus ovos. Portanto, estejam certos de que
assim como o fogo queima o matagal e as toras, Deus punirá os pensamentos
pecaminosos e as obras do pecado.
Que nenhum de nós suponha que o Senhor não conhece nossos pensamentos, pois ele
tem uma janela no mais íntimo de cada alma, uma janela que não temos como fechar. O
olho de Deus nos vê, da mesma forma que observamos a colméia de abelhas em um
vidro. A Bíblia afirma: "A Sepultura e a Destruição estão abertas diante do Senhor;
quanto mais os corações dos homens!" O homem é totalmente visível para Deus. Com o
céu não há segredos. Porque o que fazemos em um lugar escondido do coração é tão
visível quanto as ruas diante de olhos que vêem tudo.
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Mas alguns alegarão que não dão oportunidade para os maus pensamentos. Talvez seja
verdade, mas a questão é: eles odeiam os maus pensamentos ou não? Não podemos
evitar que os ladrões espiem através de nossas janelas, mas se abrimos nossa porta para
eles e os recebemos alegremente, somos tão maus quanto eles. Não podemos ajudar os
passarinhos a voar sobre nossas cabeças, mas podemos evitar que façam ninhos em
nosso cabelo. Pensamentos inúteis batem a nossa porta, mas não devemos abri-la para
eles. Ainda que os pensamentos pecaminosos venham a nossa mente, não podemos
deixar que eles a dominem. Quem rola um bocado de algo na boca uma vez e mais
outra, faz isso porque aprecia o sabor, e o que pensa no mal, gosta dele e está pronto
para se entregar a ele. Pense no diabo que ele aparece; dirija seus pensamentos para os
pecados, e logo suas mãos os seguem. As lesmas deixam seu muco atrás de si e os
pensamentos vãos também. Uma flecha pode voar através do ar sem deixar nenhum
sinal, mas o mau pensamento sempre deixa rastro, como uma serpente. Onde houver
muita movimentação de maus pensamentos, haverá muito lodo e sujeira; cada onda de
pensamentos perniciosos acrescenta algo à corrupção que deteriora a praia da vida. É
terrível pensar que um único ato fútil, facilitado pela imaginação, ajuda na obtenção da
chave de nossa mente em que poderá entrar de novo com muita facilidade, quer
queiramos, quer não, e trazer mais outros sete espíritos mais perversos que ele.
Ninguém sabe o que pode acontecer a seguir. Dê vazão ao pecado enquanto ainda está
latente no pensamento, e ele cresce como um gigante. Mergulhe uma corda em gasolina
e ela incendeia quando o fogo a alcança. Se um homem permanece mergulhado em
pensamentos depravados está pronto para entregar-se abertamente ao pecado tão logo
surja a oportunidade. Isso nos mostra é sábio, a cada dia, vigiar os pensamentos e as
fantasias do nosso coração. Os pensamentos de Deus são convidados abençoados e
devem ser bem-vindos, alimentados e procurados pelo nosso coração.
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Capítulo 10: Imperfeições
O que se gaba de ser perfeito, só é perfeito na tolice. Eu estou há um bom tempo
pelo mundo, e nunca vi um cavalo perfeito nem um homem perfeito e nunca verei até
que dois domingos venham juntos. Você não pode obter farinha de trigo de um saco de
carvão nem, perfeição da natureza humana; o que procura isso faria melhor procurando
açúcar no mar. O antigo ditado diz: "Onde não há vida, não há imperfeição". Sobre
homens mortos não deveríamos dizer nada a não ser o bem; mas todos os vivos têm
mais ou menos os mesmos defeitos, e podemos ver isso com apenas um olho. Toda
cabeça tem um pouco de miolo mole, e todo coração tem uma partezinha negra. Toda
rosa tem seus espinhos, e cada dia, sua noite. Até mesmo o sol tem manchas, e as
nuvens escurecem os céus. Ninguém é tão sábio nem tolo o bastante para guardar um
lugar especial na Feira da Vaidade. Posso não ver o boné de bobo, contudo escuto o
retinir dos sininhos. Como não há luz solar sem algumas nuvens, assim também todos
os seres humanos têm uma boa mistura de maldade, uns mais, outros menos. Mesmo os
pobres protetores da lei têm seus pequenos deslizes, e os cristãos das igrejas não têm
natureza totalmente celestial. O melhor vinho tem resíduos. Todas as imperfeições
humanas não estão escritas na testa, e é tão certo que elas não estão ou os chapéus
precisariam ter abas muito largas. Contudo, tão certo como ovos são ovos, as
imperfeições de algum modo se aninham em cada peito. Não há o que dizer quando os
pecados de um homem ficam aparentes, pois as lebres saem do fosso justamente quando
você não procura por elas. Um cavalo com as pernas fracas pode não tropeçar por um
ou dois quilômetros, mas ele tem a fraqueza e é melhor o cavaleiro segurá-lo bem. A
gata listrada não está bebendo leite agora, mas deixe a porta da leiteria aberta e veremos
se ela não é tão ladra quanto os gatinhos. Há calor no minério aparentemente frio,
espere até o que o aço dê uma pancada nele, e você verá. Todos conhecem os fatos, mas
nem todos lembram de manter a pólvora longe da vela.
Se lembrássemos sempre que vivemos entre homens imperfeitos, não sentiríamos essa
perturbação quando descobrimos as falhas de nossos amigos. O que está podre
despedaça-se, e os potes rachados vazam. Abençoado é aquele não espera nada da carne
e do sangue, pois não se desaponta. O melhor dos homens são homens em seu melhor,
no entanto, até mesmo a melhor cera derrete.
O bom cavalo é o que nunca tropeça A boa esposa é a que nunca resmunga.
Sem dúvida, encontramos tais cavalos e esposas apenas no paraíso dos loucos
em que crescem bolinhos em árvores. Neste mundo pernicioso, a tora mais reta tem nós,
e o campo de trigo mais limpo tem sua cota de ervas daninhas. O motorista mais
cuidadoso, um dia, bate o carro; o cozinheiro mais talentoso derrama um pouco de
caldo; e para minha tristeza sei que um lavrador muito decente, às vezes, quebra o arado
e faz um sulco torto.. É tolice se afastar de um amigo leviano por causa de um ou dois
deslizes, pois você pode livrar-se de um cavalo caolho e comprar um cego. Como
somos todos cheios de defeitos deveríamos observar dois fatos: aprender a suportar e ser
tolerantes uns com os outros. Como todos temos telhado de vidro, nenhum de nós deve
atirar pedras no telhado do vizinho. Todo mundo ri quando a panela diz para a chaleira:
"Como você está preta!". As imperfeições dos outros nos mostram as nossas
imperfeições, porque uma ovelha é muito parecida com a outra; e se há um cisco no
olho do meu vizinho, sem dúvida há uma viga no meu. Temos de usar nossos vizinhos
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como espelhos para ver nossas próprias faltas neles, e corrigir em nós mesmos o que
vemos neles.
Não tenho paciência com os que ficam enfiando o nariz na casa de todo mundo para
descobrir imperfeições; que usam óculos excelentes para ver as falhas de seus vizinhos.
Seria melhor se essas pessoas olhassem seus lares e vissem o demônio onde menos
esperavam. Nós vemos o que queremos ou o que achamos que é. As imperfeições são
sempre abundantes, onde há pouco amor. Uma vaca branca será toda negra se seus
olhos quiserem que ela seja. Se aspiramos por muito tempo um perfume achamos que o
aroma não é bom. Seria bem mais agradável, pelo menos para as outras pessoas, se os
descobridores de imperfeições dirigissem seus cães para descobrir pontos positivos nos
outros; valeria mais a pena e ninguém ficaria de pé com um forcado para mantê-los fora
de sua fazenda. Quanto a nossas imperfeições precisaríamos de uma grande lousa para
enumerá-las; mas, graças a Deus, sabemos onde levá-las e como tirar delas o melhor. Se
cremos em seu Filho, Deus nos ama com todos nossos erros. Por isso, não
desanimemos, mas tenhamos esperança de viver, e aprender, e prestar algum bom
serviço antes de morrer. Ainda que o carro quebre, ele chega em casa com sua carga, e o
cavalo velho, de joelhos quebrados, ainda faz uma parte do trabalho. Não adianta deitar
no chão sem fazer nada porque não conseguimos fazer tudo como gostaríamos.
Imperfeita ou não, a lavra precisa ser feita; pessoas imperfeitas devem fazê-la também
ou não haverá colheita no próximo ano. João pode ser um mau lavrador, mas os anjos
não farão seu trabalho para ele, assim, ele tem de começar a fazê-lo ele mesmo. Vamos,
Violeta! Arre, pára! Garboso.
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Capítulo 11: Coisas que não valem a pena tentar
Esse é um ditado antigo e sábio: "Não gaste tudo o que você tem, não acredite
em tudo que ouve e não faça tudo o que pode." Há tanto trabalho a fazer que precisa de
nossas mãos que é uma pena desperdiçar um grão de nossa força. Quando o jogo não
vale a pena, abandone-o logo. É perda tempo procurar água em uma fonte seca, ou
sangue em um nabo, ou sentido em um tolo. Nunca peça dinheiro a um homem avarento
até ter conseguido cozinhar uma pedra. Não processe um devedor que não tenha um
centavo para abençoá-lo, você apenas joga dinheiro fora, isso é o mesmo que perder o
furão sem caçar o coelho. Nunca ofereça um espelho a um homem cego; se um homem
é tão orgulhoso a ponto de não ver suas imperfeições, ele apenas discutirá com você a
fim de apontá-las fora dele mesmo. Não adianta segurar uma lanterna para uma toupeira
ou falar sobre o paraíso para um homem que não liga para nada a não ser o seu dinheiro.
Há um momento certo para tudo, e é uma tolice pregar para homens bêbedos, é o
mesmo que jogar pérolas aos porcos. Faça-os ficarem sóbrios e, depois, converse sério
com eles; se você os repreende enquanto estão bêbedos, age como se você mesmo
estivesse bêbedo.
Não coloque um gato na boléia ou homens em lugares que não foram feitos para eles.
Não há como transformar maçãs em ameixas. É uma pena transformar um macaco em
um ministro ou uma empregada, em uma senhora. Muitos pregadores são bons alfaiates
frustrados ou ótimos sapateiros que não seguiram seu chamado. Quando Deus
determina que uma criatura voe, ele lhe dá asas; e quando pretende que homens
preguem, dá-lhes habilidade para isso. É uma pena empurrar um homem para a guerra,
se ele não sabe lutar. E é melhor desencorajar a escalada de um homem, do que ajudá-lo
a quebrar o pescoço. Bolsas de seda não são feitas de orelhas de porco, e os porcos
jamais tocarão bem flautas, por mais que os ensine a fazer isso.
Não é sábio almejar o impossível – é um desperdício de pólvora atirar no homem na lua.
Fazer reuniões para corrigir alguém é um método muito sensato, se comparado ao que
almejam alguns amigos meus, de Londres, que tentam conseguir dinheiro comprando
quotas em empresas; seria mais rápido agarrar o vento com uma rede ou carregar água
em uma peneira. Fazer bolhas é uma ótima diversão para meninos, mas empresas de
bolhas são ferramentas afiadas com as quais ninguém deveria brincar. Se meu amigo
tem um dinheiro que ele está em condição de perder, ainda assim não há razão para que
ele o dê para um grupo de velhacos. Se eu quisesse me livrar da minha perna não
procuraria um tubarão para devorá-la. Antes dar seu dinheiro aos tolos que deixar os
embusteiros bajularem você por isso. Não vale a pena fazer coisas desnecessárias.
Nunca use gordura em uma porca gorda ou elogie um homem orgulhoso. Não faça
roupas para peixes ou capas para altares. Não pinte lírios ou enfeite o evangelho. Nunca
enfaixe a cabeça de um homem antes de estar quebrada ou conforte uma consciência
que não se confessou. Nunca levante uma vela para o sol ou tente provar uma coisa de
que ninguém duvida. Eu não aconselho ninguém a tentar uma coisa que vale menos do
que custa. Você pode aromatizar um chiqueiro com lavanda, e um homem com um
péssimo estilo de vida pode mostrar um bom caráter com demonstração externa de
religião, mas com o tempo, ele se torna um caso perdido. Se nossa nação fosse sensível
varreria um bom bocado de gente gastadora, mas inútil, que toma o malte que tem na
casa construída pelo Jack, essa gente vive do estado, mas presta pouco serviço a ele.
Pagar alguns reais a um homem para ganhar um centavo é muito mais inteligente do que
manter bispos que se reúnem apenas para contar os pontos feitos e conversar sobre o
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melhor modo de não fazer nada. Se o velho cão do meu mestre fosse tão dorminhoco
como os bispos, ele seria morto porque não valeria o custo da manutenção. De qualquer
modo, o tempo de prestação de contas se aproxima, tão certo como a proximidade do
Natal.
Há muito tempo, a experiência ensinou-me a não discutir com ninguém sobre gostos e
caprichos; alguém também pode questionar o que você consegue ver no fogo. Que
utilidade teríamos se arássemos o ar ou tentássemos convencer alguém,
independentemente das conseqüências finais? Não adianta tentar encerrar uma
discussão ficando com raiva; isso é quase a mesma coisa que despejar óleo no fogo para
apagá-lo ou soprar as brasas com o fole para acabar com elas. Algumas pessoas gostam
de confusão – não invejo a escolha, eu prefiro caminhar dez quilômetros para sair de
uma que andar meio metro para entrar nela. Com freqüência, tentam me induzir a ser
corajoso e agarrar o touro pelos chifres, mas como eu penso que a diversão é mais
agradável que proveitosa e que devo deixá-la para os que já estão tão arrebentados que
nem mesmo chifrada seria capaz de estragar a cabeça deles. Salomão diz: "Resolva a
questão antes que surja a contenda", o que é quase a mesma coisa que dizer: "Desista
antes de começar". Quando você encontrar um cachorro louco não discuta com ele, a
não ser que tenha certeza de estar certo. Em vez disso, desvie do caminho dele, se
ninguém o chamar de covarde, você não precisará chamá-lo de tolo — todo mundo sabe
disso. O envolvimento em disputas não leva a nada, "não toque em casa de
marimbondos" e não derrube as casas velhas sobre sua cabeça. Tenham certeza, os que
se envolvem em brigas ferem o próprio caráter; se você escova os porcos de outras
pessoas, logo você precisa esfregar a si mesmo. É o cúmulo da tolice se intrometer entre
um homem e sua esposa, pois eles, com certeza, deixam de brigar um com o outro e
transferem toda sua força contra você —, e ela também lhe serviria bem. Você só pode
culpar a si mesmo se colocar sua colher na sopa dos outros, e ela o queimar você.
Outra coisa, não tente fazer uma mulher de caráter forte ceder, mas lembre-se:
Se ela quer, ela quer, Pode acreditar nisso. Se ela não quer, não quer, E pronto.
Outro dia, recortei um artigo de um jornal dos Estados Unidos que será meu
encerramento:
Seque o Mississipi usando uma colher de sopa, torça seu calcanhar na biqueira
de sua bota, faça os anzóis subirem com os balões e pesque estrelas, cavalgue em uma
teia de aranha e cace um cometa; lembre-se de onde deixou seu guarda chuva quando
cair uma tempestade como as cataratas do Niágara, sufoque uma pulga com um pedaço
de tijolo! Em poucas palavras, experimente tudo até agora considerado impossível de
acontecer, mas nunca tente persuadir uma mulher a mudar de idéia quando ela já
decidiu o que quer.
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Capítulo 12: Dívida
Quando eu ainda era garotinho e usava avental infantil ia à escola de uma
senhora, eu queria um lápis e tinha o dinheiro para comprar um, mas tinha medo que
chamassem minha atenção porque sempre perdia meus lápis, pois era um moleque
muito pobre e não me atrevia a perguntar o que o João devia fazer. Havia uma pequena
loja em que a velha senhora Dearson vendia nozes, piões, bolos, bolas; e eu vi, algumas
vezes, meninos e meninas comprando fiado da velha senhora. Pensei comigo mesmo
que o Natal estava chegando, e que, com certeza, alguém me daria uma moeda e, quem
sabe, até mesmo uma moeda de prata mais valiosa. Assim, eu podia comprar fiado um
lápis, pois tinha certeza de poder pagar no Natal. Eu não me sentia tranqüilo com aquilo,
mas instiguei minha coragem e fui à loja, o lápis custava cinqüenta centavos, mas como
nunca ficara devendo nada antes meu crédito era bom, e gentil senhora deu-me o lápis
fiado, agora eu tinha uma dívida. Aquilo não me agradava muito, e sentia-me como se
tivesse feito alguma coisa errada, mas eu nem imaginei como logo eu sofreria com isso.
Eu nunca soube como meu pai ficou sabendo dessa pequena façanha comercial, mas
algum passarinho assoprou para ele, e ele ficou muito bravo comigo e de um modo
muito sério. Deus o abençoe por aquela reação. Ele era um homem sensato, e não uma
pessoa que mima crianças; ele não queria que seus filhos especulassem e brincassem
com aquilo que os grandes enganadores chamam de financiamento; por isso, ele acabou
de vez, sem rodeios, com minha entrada no mundo da dívida. Ele me deu uma séria
preleção sobre contrair dívida, fato tão sério como roubar, sobre a forma pela qual as
pessoas se arruinavam por isso, e sobre como um menino que devia cinqüenta centavos,
poderia um dia dever cem reais, ser preso, e levar sua família à desgraça. Foi realmente
uma preleção, parece que estou o ouço agora e posso sentir minhas orelhas tinindo com
a recordação dela. A seguir, eu fui posto em marcha de volta à loja, como o desertor que
marcha de volta ao quartel, chorando amargamente por toda a rua e sentindo-me
terrivelmente envergonhado porque pensava que todo mundo sabia que eu devia. Os
cinqüenta centavos foram pagos, entre muitas advertências solenes, e o pobre devedor
foi liberado como um passarinho que saiu da gaiola. Como era sublime estar fora da
dívida! Como meu pobre coração jurou e prometeu que nada jamais me tentaria a entrar
em débito de novo! Foi uma excelente lição, e eu nunca a esqueci. Se todos os jovens
fossem vacinados com a mesma doutrina, quando bem novos seria tão bom para eles
como ganhar uma fortuna e, mais tarde, evitaria um trem de dificuldades na vida deles.
Deus abençoe meu pai e envie esse tipo de pai para a velha Inglaterra a fim de evitar
que ela seja engolida pela vilania —, pois as empresas, os esquemas e o papel moeda
estão deixando a nação tão estragada como madeira podre.
Desde esse antigo e desagradável episódio, eu passei a odiar a dívida, como Lutero
odiava o Papa, e não se admirem se eu disser algumas coisas ferinas a respeito disso.
Meu maior desejo tem sido manter a dívida, a sujeira e o diabo fora da minha casa desde
que assumi a administração da casa. Apesar de que o terceiro entra, às vezes, pela porta
ou pela janela –, pois a velha serpente passa pela menor fresta – já os outros dois, graças
a uma boa esposa, trabalho duro, honestidade e esfregões, não passam da soleira da
porta. A dívida é tão degradante que se eu devesse uma moeda a alguém andaria uns
trinta quilômetros no período mais frio do inverno para pagá-lo, antes de sentir-me
endividado. Eu ficaria mais confortável com ervilhas nos sapatos, ou com um ouriço em
minha cama, ou ainda com uma cobra nas minhas costas do que com contas da
mercearia, da padaria e da alfaiataria pairando sobre minha cabeça. A pobreza é difícil,
mas a dívida é horrível; é melhor um homem ter uma casa enfumaçada e uma esposa
resmungona, considerados os dois piores males da vida, do que ter dívidas. Podemos ser
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pobres, mas respeitáveis, o que João Lavrador e sua esposa esperam ser e serão, mas um
homem endividado não consegue nem mesmo respeitar a si mesmo, e, com certeza, os
vizinhos falam dele, e não a seu favor. Algumas pessoas dão a impressão de gostar de
dever dinheiro; eu preferia antes ser um gato no alto de uma chaminé com o fogo aceso,
ou uma raposa com uma matilha no meu calcanhar, ou um ouriço em um forcado, ou
ainda um rato na garra de uma coruja. O homem honesto acha que uma bolsa cheia com
o dinheiro dos outros é pior que uma bolsa vazia. Ele não agüenta comer o queijo de
outra pessoa; usar as camisas de outras pessoas e caminhar com os sapatos de outras
pessoas, tampouco será fácil para ele se sua esposa estiver enfeitada com chapéu de
modista e vestir roupas de costureira. Logo depenaram a gralha que usava as plumas do
pavão, e os que pegam emprestado, com certeza, chegarão à pobreza, e a espécie mais
amarga de pobreza, pois há vergonha nela.
Viver além da própria receita é a ruína de muitos de meus vizinhos; eles têm dificuldade
em conseguir recursos para manter um coelho, mas montam em um pônei e dirigem
carruagem. Receio que a extravagância seja a doença mais comum de hoje, muitos
cristãos confessos, para sua vergonha e tristeza, a contraíram. Algodão de boa qualidade
ou vestidos de lã não são suficientes, as meninas precisam usar seda e cetim, além disso,
há a conta da costureira, tão longa e escura quanto uma noite de inverno. A exibição, o
estilo e a inteligência acabam com os recursos do homem, mantêm a família pobre e
forçam os pais a trabalharem arduamente. Os sapos tentam parecer grandes como os
touros e se arrebentam. Os macacos que pesam meio quilo em uma semana e setenta e
cinco quilos em um ano acabam no tribunal do condado. Os homens queimam a vela
dos dois lados e depois dizem que não têm muita sorte; porque não dão nome aos bois e
admitem que são extravagantes? A economia é meia batalha ganha na vida, mas não é
tão difícil ganhar dinheiro quanto é gastá-lo bem. Centenas de pessoas jamais teriam
aprendido a querer se antes não tivessem aprendido a gastar. Se todas as esposas de
homens pobres soubessem como cozinhar, até onde algumas delas chegariam? Nosso
ministro diz que os franceses e os alemães bateram-nos para valer com arte culinária
boa e barata. Eu gostaria que eles enviassem missionários para converter as mulheres
bisbilhoteiras em ótimas gerentes; essa é uma moda francesa que seria bem mais útil
que as belas decorações na vitrina da senhora Fripper que exibem senhoras vestidas com
uma moda nova todo mês. Puxa vida! Algumas pessoas hoje são muito refinadas para
comer o que seus pais ficavam agradecidos apenas em ver sobre a mesa e, por isso, só
contentam seu paladar com alimentos caros, acabam no asilo e esperam que todo mundo
tenha pena delas. Viram o nariz para o pão com manteiga e terminam comendo nabos
crus, roubados nos campos. Os que gostam de participar de brigas de galo à custa dos
outros, um dia desses, terão suas cristas cortadas ou talvez assadas. Se você tem um
grande suprimento de ervilhas pode por mais na sopa, mas todo mundo deve se
alimentar de acordo com seus ganhos. O que tem uma moeda em haver e, por isso, gasta
cem reais que não lhe pertencem é, ao mesmo tempo, tolo e tratante. Este é um bom
conselho: corte seu paletó de acordo com o tecido, mas cortar o tecido de outras pessoas
e endividar-se é como roubar ou dizer que um sofá é uma carruagem. Se eu pretendo ser
um tratante devo negociar nos armazéns da marinha, ou ser um advogado insignificante
e confuso, ou um padre, ou abrir um escritório de empréstimos, ou sair batendo
carteiras, mas eu desprezo a arte suja de fazer dívida sem condição para pagá-la.
Os devedores não ajudam quando mentem porque prometem pagar, mas sabem que não
podem fazê-lo e, depois de dar um monte de falsas desculpas, eles prometem de novo;
portanto, eles mentem com a mesma rapidez com que o cavalo trota.
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Você tem dívidas e faz mais dívidas, Se ainda não mentiu, mentirá.
Mas se a dívida leva-o a mentir, quem pode dizer que isso não é ainda pior? Sem
dúvida há exceções, e eu não quero criticar duramente um homem honesto que foi
derrubado pela doença ou por grandes perdas. Mas se entender a lei como lei, você vê
que a dívida é um pântano grande e sombrio, um imenso buraco de lama, um prato sujo;
feliz é o homem que consegue sair dela depois de quase cair nela, porém, mais feliz de
todos é aquele que pela bondade de Deus ficou completamente fora da mira dela. Se
você convida o diabo para jantar é difícil tirá-lo de casa depois; é melhor não ter nada
com ele. É muito provável que a galinha ponha ovo no local em que já botou um;
quando um homem faz dívida uma vez, é provável que faça de novo; é melhor ficar
livre dela desde o início. O que a faz por uma moeda, logo faz por muito mais, e quando
um homem está acima de suas posses, ele está sujeito a fica muito mais acima ainda. Se
você não dever nem uma moeda, não deverá grandes valores.
Se você quer dormir bem, compre a cama de um homem que tem dívidas; certamente
ela é muito macia, pois ele nunca conseguiu descansar muito nela. Creio que as pessoas
ficam calejadas com isso, como o burro que o Smith tinha quando seu dono quebrou
muitos galhos em pedaços sobre suas costas. Tenho a impressão que um homem
realmente honesto prefere ficar tão curvado como um galgo que festejar com dinheiro
emprestado ou, ainda, ficar com a garganta seca de pó antes de permitir que o
estalajadeiro faça marcas de giz atrás da porta para marcar sua dívida com a cerveja.
Que alfinetes e agulhas as contas dos homens de negócio devem espetar na alma de um
camarada! Um porco com crédito sempre grunhe. Sem dívida, sem preocupação; fora da
dívida, fora de perigo. Dever e tomar emprestado são arbustos espinhosos. Se eu pegar
emprestada a pá do meu vizinho do lado não me sentirei seguro com ela por medo de
quebrá-la; nunca cavarei em paz como faço com a minha. Se tivesse uma pá na loja e
soubesse que não poderia pagar por ela, acho que começaria a cavar minha própria
sepultura por causa da vergonha que sentiria. As Escrituras dizem: "Não devam nada a
ninguém", o que não quer dizer pague suas dívidas, mas sim, nunca tenha nada a pagar.
Minha opinião é que os que quebram essa lei por teimosia devem ser retirados
sumariamente da igreja cristã, nossas leis estão vergonhosamente cheias de
encorajamento ao crédito, agora ninguém precisa ser ladrão. Um homem só precisa abrir
uma loja e fracassar e recebe muito mais; conforme diz o ditado: "Quem não arrisca,
não petisca". Eu conheço homens de negócio que falharam cinco ou seis vezes e, os
salafrários, ainda acham que estão a caminho do céu, o que fariam se chegassem lá?
Eles estão muito mais perto de chegarem ao lugar de onde nunca sairão até que tenham
pago o último centavo que devem. Mas as pessoas dizem: "Como eles são liberais", são
sim, com o dinheiro dos outros. Odeio ver um homem roubar um ganso e, depois, dar os
miúdos para a religião. Sem dúvida, devemos ter piedade, mas o pagamento de sua
dívida faz parte da piedade. A honestidade vem antes da generosidade. No entanto, com
que freqüência a religião ser de capa para o engano! Temos a senhora Scamp, elegante
como um pavão, todas as meninas do internato aprendem francês e a tocar piano, os
meninos arrogantes com luvas, e o ilustríssimo sr. G. B. Scamp cavalga uma égua de
trote rápido e comparece às reuniões públicas, enquanto seus pobres credores não
conseguem mais que o suficiente para viver de expedientes. É vergonhoso e
insuportável ver como muitos neste país fazem de conta que não vêm a trapaça elegante.
Eu acabaria com seus coletes brancos, luvas infantis e botas de couro de marca, se
pudesse dar a eles a colheita do condado e o uniforme da prisão por seis meses; pessoas
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de posição social ou não, eu os faria ver que grandes tratantes também dançam na roda
do moinho no mesmo ritmo que os pequenos. Se eu fosse membro do Parlamento, ou
primeiro ministro tornaria a terra um lugar muito quente para essa gente patife agüentar
, como não tenho tal poder, pelo menos, posso escrever contra essas pessoas e liberar a
força da minha indignação nelas.
Meu lema é: "pagar conforme caminha e livrar-se dos pontos insignificantes". Pequenas
contas são logo esclarecidas. Pague o que deve, e você sabe quanto vale. Deixe o
relógio trabalhar desde que não me deixe confuso. É melhor ir para a cama sem jantar
que fazer dívida. Sempre temos mais pecados e dívidas do que imaginamos. Pouco a
pouco o homem se enterra nela. São os gastos insignificantes que esvaziam a bolsa. O
dinheiro é redondo e sai com facilidade. Tom Thriftless compra o que compra, não o
que quer, apenas porque é uma boa pechincha e, assim, logo tem de vender o que quer e
descobre que é uma pechincha insignificante. Ele não consegue dizer não para o amigo
que quer negociar com ele por segurança; ele dá grandes jantares, tira muitos dias de
folga, mantém uma mesa farta, permite que a esposa se vista bem, nunca fica atrás dos
empregados e, depois, fica totalmente surpreso ao descobrir que, no final, o quarteirão
logo se transforma em um círculo, e que os credores gritam muito alto. Ele semeou seu
dinheiro nos campos da negligência e se espanta de colher pobreza. Ele ainda espera
que aconteça alguma coisa para ajudá-lo a sair da dificuldade e, dessa forma, se
confunde com mais problemas, esquecendo que a esperança e a expectativa são o
pagamento dos tolos. Como está em dificuldade, ele vai ao mercado com os bolsos
vazios e compra ao preço que o comerciante quiser cobrar dele e, assim, paga mais que
o dobro e afunda mais na lama. Isso o leva a maquinar e tentar pequenas trapaças e
truques porque é difícil um saco vazio parar em pé. Com certeza, essa não é a resposta,
porque trapaças são como teias de aranhas, nunca apanham nada melhor do que moscas
e logo desaparecem. Da mesma forma, você poderia tentar emendar seus sapatos com
papel marrom, ou fazer uma janela quebrada parar de bater com uma lâmina de gelo, ou
ainda tentar consertar um negócio fracassado com manobras e maquinações. O
manipulador desmascarado é como o cachorro que aparece na igreja e todo mundo
chuta ou como o barril de pólvora que ninguém quer ter por perto.
Dizem que a pobreza é um sexto sentido, e deveria ser, pois parece que muitos
devedores perdem os outros cinco ou nasceram sem bom senso porque parecem
imaginar que não apenas se faz dívidas, mas paga-as também com empréstimo. Um
homem paga a Pedro o que emprestou de Paulo e pensa que está saindo de suas
dificuldades, quando está apenas pondo um pé na lama para tirar o outro dela. É difícil
barbear um ovo ou arrancar cabelos de uma cabeça careca, mas ambas as coisas são
mais fáceis de fazer do que pagar dívidas com o bolso vazio. Sansão era um homem
forte, mas não conseguiria pagar dívidas sem dinheiro. Quem pensa que pode fazer isso
com manipulação é um tolo. Da mesma forma, emprestar dinheiro de agiotas é o mesmo
que o homem que está se afogando se agarrar a navalhas; tanto os judeus como os
gentios, quando emprestam dinheiro, geralmente depenam os gansos enquanto têm
penas. Se quiser se reabilitar, o homem precisa cortar suas despesas e economizar suas
receitas; você não pode gastar seu dinheiro e também pagar suas dívidas com ele.
Abstenha-se de frango se a bolsa estiver vazia. Não acredite em nenhuma forma de
enxugar dívidas, a não ser pagando-as com dinheiro suado. Promessas fazem dívidas, e
dívidas fazem promessas, mas as promessas nunca pagam as dívidas. Prometer é uma
coisa, conseguir realizar é outra bem diferente. A palavra de um homem de bem deveria
ter o valor de um juramento, e ninguém deveria prometer pagar, a não ser que tivesse
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um projeto claro para fazer isso no tempo devido. Os que adiam o pagamento com
falsas promessas não merecem perdão. É muito fácil dizer: "Sinto muito", mas:
Cem anos de remorso não pagam um centavo de dívida.
Tenho receio de que todos esses sólidos conselhos também poderiam ter sido
dados para as galinhas e galos do meu senhor, da mesma forma que se tivessem sido
dados para os que caíram no hábito de gastar o que não lhes pertence, pois conselhos
para esse tipo de pessoas entram por um ouvido e saem pelo outro. Bem, os que não
quiserem ouvir terão de sentir, e os que recusam conselhos baratos terão de pagar caro
pelo arrependimento; mas para os jovens que estão começando a viver, uma palavra
poderá valer mais que o mundo, e este é o pequeno sermão de João Lavrador, com três
pontos importantes: viva sempre um pouco abaixo dos seus recursos, nunca contraia
dívidas e lembre-se que:
Quem faz um empréstimo, Arruma uma dor de cabeça.
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Capítulo 13: Lar
Essa palavra "lar" sempre soa como poesia para mim. Ela ressoa como o repique
dos sinos em um casamento, apenas soa mais suave e terno nas fibras mais íntimas do
meu coração. Não importa se ela refere-se a uma cabana de sapé ou a um solar: lar é lar,
mesmo que seja muito simples não há lugar na terra como ele. A trepadeira pode crescer
em cachos róseos pelo telhado para sempre, deixando o musgo florir no sapé. Os
pardais chilreiam docemente, e as andorinhas gorjeiam à volta do lugar escolhido que é
a minha alegria e o meu descanso. Todo pássaro ama seu ninho; a coruja acha a velha
ruína o lugar mais sereno sob a lua, e a raposa sente que sua cova na montanha é
extraordinariamente aconchegante. Quando o alazão do meu senhor sabe que está indo
para casa, ele não precisa de guia e pensa: é melhor ir a galope; e eu penso o mesmo,
pois o caminho de casa para mim é o melhor pedaço de estrada do país. Eu gosto mais
de ver a fumaça da chaminé da minha casa, que o fogo no forno dos outros; há algo
muito lindo no caminho que serpenteia entre as árvores. As batatas frias na mesa da
minha casa têm mais sabor que a carne assada na dos meus vizinhos, e o perfume da
madressilva na minha porta é o mais doce que eu já senti. Quando você está fora, os
amigos o recebem da melhor forma que podem, mas mesmo assim não é a nossa casa.
Eles dizem: "Sinta-se em casa", porque todo mundo sabe que sentir-se em casa é sentirse
à vontade.
Leste e oeste o lar é melhor.
Porque em casa você está em casa, o que mais você pode querer? Ninguém
inveja você, seja qual for seu apetite; e você nunca se deita em uma cama úmida. Salvo
em seu castelo, como um rei em seu palácio, o homem se sente alguém e não sente
medo de ser considerado orgulhoso por pensar assim. Todo galo canta em seu terreiro, é
o cachorro sente-se um leão quando está em casa. A vassoura é a senhora do seu
armário. Não há necessidade de cuidar de cada palavra, porque algum inimigo pode
estar observando, nem manter o coração fechado a sete chaves; tão logo fechamos a
porta de entrada abre-se o saguão da liberdade sem nada a espreitar-nos. A nossa
querida e velha Surrey, tem uma vista magnífica do topo da montanha Leith, e não
devemos desprezar a Hindhead e a capela Marthas e a Boxhill, mas eu poderia mostrar a
vocês uma coisa que, a propósito, bate todas elas em beleza. Refiro-me à cabana de João
Lavrador, em que a chaleira ferve na lateral do fogão, cantando como um anjo negro
não caído, enquanto o gato fica deitado adormecido em frente ao fogo, a esposa se senta
em sua cadeira remendando as meias, e as crianças ficam andando pela sala tão cheias
de alegria como os cordeirinhos. É um fato curioso, talvez alguns de vocês duvidem
disso, mas isso deve-se a sua natureza descrente – nossos pequenos são sempre uma
verdadeira beleza, um pouco mais gordos do que os outros da sua idade e, mesmo
assim, dão bem menos trabalho para tomar conta que os bebês dos outros. Porque,
abençoada seja ela, minha esposa se cansaria na metade do tempo se sua vizinha tivesse
pedido a ela para olhar uma criança estranha, mas seus filhos não parecem cansá-la de
forma alguma. Creio que tudo isso vem do fato de terem nascido em casa. Na verdade, o
mesmo acontece com tudo o mais, nossa terra é a mais bonita nos trinta quilômetros a
nossa volta, porque nosso lar está nela, e meu jardim é um perfeito paraíso, por
nenhuma razão especial além desta muito boa: ele pertence à velha casa do meu lar.
Eu não consigo compreender porque muitos trabalhadores gastam as noites em
hospedarias, quando suas lareiras são bem melhores e mais baratas também. Nas
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hospedarias, eles se sentam, hora após hora, se embriagando e falando besteiras,
esquecendo as pessoas queridas em casa quase mortas de fome e cansadas de esperar
por eles. Seu dinheiro vai para a gaveta do estalajadeiro, quando deveria levar conforto
à esposas e aos filhos. Quanto à cerveja que bebem é como o leite dos tolos, serve
apenas para afogar sua inteligência. Tais camaradas deveriam ser chicoteados como
cavalos, e os que os encorajam e vivem à custa deles mereciam sentir a ponta do
chicote. Esses bares são a maldição deste país; ninguém de bem entra neles, e o mal que
eles fazem nenhuma língua pode contar. As estalagens já eram bastante ruins, mas os
bares são uma praga; eu gostaria que o homem que elaborou a lei para a abertura deles
tivesse de manter todas as famílias que eles levaram à ruína. Os bares são os inimigos
do lar e, portanto, quanto mais cedo suas licenças forem caçadas, melhor. Tudo o que
prejudica o lar é uma maldição e deve ser eliminado, como os guardas-caças fazem com
a enzima das florestas.
Os maridos devem tornar o lar feliz e sagrado. O pássaro que suja o próprio ninho é
doente, e o homem que torna seu lar miserável é mau. Nossa casa deve ser uma pequena
igreja com a santidade de Deus acima da porta, mas jamais deve ser uma prisão em que
há um monte de regras e ordens, mas pouco amor e nenhum prazer. A vida de casado
não é sempre doce, mas a graça no coração mantém afastada a maior parte das
amarguras. A religiosidade e o amor edificam o homem, assim como o pássaro em uma
reserva que canta entre espinhos e arbustos também faz com que os outros cantem. O
marido deve ter prazer em agradar sua esposa, e a esposa, esmero em cuidar do seu
marido. Quem é gentil consigo mesmo é gentil com sua esposa. Receio que alguns
homens vivam pela lei do individualismo, e quando esse é o caso, a felicidade do lar é
uma farsa. Quando os maridos e as esposas são muito unidos, como sua carga se torna
leve! Nem toda dupla é um par, o que é uma pena. Em um lar verdadeiro toda a disputa
é para ver quem pode fazer o melhor para tornar a família feliz. Um lar deve ser um
santuário, não uma Babilônia. O marido deve ser o "vínculo do lar", unindo como uma
pedra angular, e não esmagando tudo como uma pedra de tropeço. Maridos grosseiros e
dominadores não devem ter a pretensão de ser cristãos, pois agem totalmente contra os
ensinamentos de Cristo. Por outro lado, um lar deve ser bem comandado ou se torna
uma confusão e um escândalo para a igreja. Se o pai larga as rédeas da casa, o treinador
da família logo está no fosso. Uma mistura sábia de amor e firmeza possibilita um bom
comando, mas nem a aspereza nem a amabilidade sozinhas mantêm um lar feliz.
Um lar não é um lar se as crianças que vivem nele não forem obedientes; é mais uma
dor que um prazer estar nele. Feliz é quem consegue ser feliz com seus filhos, e felizes
são as crianças que estão felizes com o pai que têm. Nem todos os pais são sábios.
Alguns são como Eli e estragam seus filhos. Não se opor aos nossos filhos é o caminho
para transformá-los em uma cruz em nossa vida. Os que nunca castigam os filhos não
podem se admirar se seus filhos se transformarem em um castigo para eles. Salomão
ensina: "Discipline seu filho, e este lhe dará paz; trará grande prazer à sua alma", Eu não
estou certo de que hoje haja alguém mais sábio do que Salomão, apesar de alguns
pensarem que são. Os potros novos devem ser freados ou viram em cavalos selvagens.
Alguns pais são apenas irritação e fúria que inflamam à menor falta; isso é pior ainda e
transforma o lar em um pequeno inferno, em vez de um paraíso. Sem vento o moinho
fica preguiçoso, contudo, o excesso de vento danifica o moinho. Em geral, os homens
que golpeiam com sua raiva perdem seu limite. Vai tudo bem quando Deus nos ajuda a
segurar as rédeas firmemente, mas sem machucar a boca dos cavalos. Quando o lar é
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governado de acordo com a palavra de Deus, podemos convidar os anjos para passar a
noite conosco, e eles não se sentirão fora de seu elemento.
As esposas deveriam sentir que o lar é o seu lugar e o seu reino, e que a felicidade dele
depende, sobretudo, delas e se forem esposas más levarão os maridos para longe com
suas línguas afiadas. Outro dia um homem disse para sua esposa: "Dobre seu chicote."
Ele dizia para ela manter a língua quieta, é uma desgraça viver com esse tipo de chicote
sempre açoitando-o. Dizem que quando Deus deu ao homem dez normas de discurso, a
mulher fugiu com nove e, em alguns casos, receio que o dito seja verdade. Uma esposa,
descuidada, negligente e bisbilhoteira é o bastante para deixar o marido louco; e se isso
o levar ao bar, ela será a causa disso. É doloroso viver em um lugar em que a esposa, em
vez de reverenciar o marido, está sempre brigando e falando mal dele. Deve ser bom
quando essas mulheres ficam roucas, é uma pena que elas não tenham tantas bolhas na
língua quanto os dentes que têm em suas mandíbulas. Deus nos livre a todos das
esposas que são anjos nas ruas, santas na igreja e demônios em casa. Eu nunca
experimentei essas ervas tão amargas, mas tenho piedade do fundo do coração dos que
suportam essa dieta todos os dias.
Mostre-me um marido amoroso, uma esposa valorosa e crianças gentis, e nem uma
parelha de cavalos das que estão sempre voando ao longo da estrada conseguiria, em um
ano, levar-me onde eu pudesse ver uma cena mais agradável. O lar é a maior de todas as
instituições. Falem sobre o Parlamento, mas me forneçam um parlatório pequeno e
sossegado. Se quiserem vangloriem-se sobre o voto e sobre a Grande Reforma Bill
(Reforma que aconteceu na Inglaterra em 1832, sob o comando de Lorde John Russell),
mas eu prefiro um casamento em um pequeno jardim e ensinar hinos às crianças. O
direito de voto é uma coisa muito boa, mas antes disso, eu gostaria muito de conseguir
uma hipoteca para minha cabana se pudesse ter dinheiro para comprá-la. Não sei muito
sobre a Carta Magna, mas se ela representa um lar sossegado para todo mundo, três
vivas para ela. Eu gostaria que nossos governadores não destruíssem os lares de tantos
homens pobres por causa de uma lei abominável e desalmada. Ela parece servir mais
aos cães raivosos que aos ingleses. Outro dia, um motorista de carro de Hampshire
contou-me que sua esposa e seus filhos estavam no asilo para pobres do governo e que
seu lar estava arruinado por causa do funcionamento cruel da assistência social. Ele
tinha oito pequenos e a esposa para manter com uma ninharia por semana, além disso,
com aluguel para pagar; por isso, ele não conseguia manter o corpo e a alma juntos.
Contudo, se a igreja tivesse concedido a ele uma bagatela, um ou dois pães e um par de
moedas por semana, ele poderia ter se virado, mas não, nem um centavo saiu da igreja.
Eles morreriam de fome se não fossem todos para o asilo. Assim, com lágrimas amargas
e muita dor no coração, o pobre infeliz teve de vender os poucos móveis que tinham e,
agora, é um homem sem lar. Além disso, ele é um trabalhador ótimo e diligente e serviu
seu patrão por quase vinte anos.
Casos como esse são comuns, mas não deveriam ser. Por que os realmente pobres não
merecem ter uma pequena ajuda? Por que eles são forçados a ir para o asilo? O lar é o
pilar do Império Britânico e não deveria ser reduzido a cacos por causa de leis não
cristãs. Eu gostaria de ser um orador e poder falar com os políticos. Não me preocuparia
em criticar os membros do partido pró reforma ou os partidários de James, os
conservadores, eu ficaria em pé como um leão defendendo os homens sem lar e diria
para os lordes e para a burguesia, que o lar dos pobres é tão importante para eles como
são seus grandes palácios e, muitas vezes, são ainda mais queridos.
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Se eu não tivesse lar, o mundo seria uma grande prisão para mim. A Inglaterra é meu
país, Surrey, minha região, mas não lhes direi qual é minha aldeia ou passarão a caçar o
João Lavrador. Muitos amigos meus emigraram e estão desbravando solo fresco na
Austrália e nos Estados Unidos. Embora a pedra deles tenha rolado, espero que eles
consigam criar musgo, pois quando estivam aqui eram como a galinha chocadeira que
não consegue grãos. Realmente, esses tempos difíceis fazem o homem pensar em suas
asas, mas eu estou preso pela perna ao meu lar e, pelo favor de Deus, espero viver e
morrer no meio do meu povo. Eles podem fazer coisas melhores na França e na
Alemanha, mas, afinal, a velha Inglaterra é tudo para mim.
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Capítulo 14: Homens em adversidade
A sorte de um homem não é totalmente conhecida até ele estar morto: a
mudança de sorte é a sina da vida. O que hoje dirige uma carruagem, um dia, pode ter
de limpá-la. Até os troncos que bóiam na água mudam de lugar, e quem agora está por
cima poderá ter de aceitar sua vez de ficar no buraco. Em poucos anos, nós poderemos
estar todos carecas e pobres também, e quem sabe o que poderá vir para nós antes
disso? O pensamento de que nós mesmos, um dia, estaremos embaixo da janela, deveria
nos tornar cuidadosos quando jogamos água suja pela janela. Seremos medidos com a
mesma medida que medimos, portanto prestemos atenção ao nosso comportamento com
os infelizes.
Nada me deixa mais doente com a natureza humana que a forma como alguns homens
tratam os outros, quando estes caem da escada da fortuna. Eles gritam: "Abaixo com
ele, nunca foi bom para nada".
Para baixo, entre os homens mortos,
Para baixo, para baixo, para baixo,
Para baixo, entre os homens mortos
Deixem que ele fique ali.
Cães não comem cães, mas os homens se devoram como canibais e ainda se
gabam disso. Há milhares de pessoas neste mundo que voam como abutres para se
alimentar de um negociante ou comerciante tão logo ele tem dificuldades. Onde houver
carcaças, haverá águias reunidas. Em vez de uma pequena ajuda, elas dão ao homem
caído muita crueldade e gritaria. Bem feito para ele, todo mundo açoita o homem a
quem a fortuna golpeia. Se a providência o golpeia, os chicotes de todos os homens se
levantam para golpeá-lo. O cão está se afogando, por isso, todos seus amigos esvaziam
os baldes de água sobre ele. A árvore caiu, e todo mundo corre com seu machadinho. A
casa pega fogo, e todos os vizinhos se aquecem com o calor. O homem tem aparência de
doente, e seus amigos lhe dão um tratamento doentio; ele capota na estrada, e os outros
passam com o carro por cima dele; ele cai e o egoísmo grita: "Deixe que fique caído,
assim sobra mais espaço para quem está de pé".
Como é triste, quando os que o derrubam, ficam chutando-o por nada. Não é muito
agradável ouvir que você foi um grande tolo, pois havia, pelo menos, cinqüenta formas
de se manter fora de dificuldade e só você não conseguiu ver. Você não podia perder o
jogo, até mesmo um João Bobo consegue ver onde você errou: "Ele deveria ter fechado
as portas do estábulo!" –, todo mundo enxergou isso, mas ninguém se ofereceu para
comprar um cavalo novo para o perdedor. "Que pena, ele conseguiu ir tão longe na
neve!" –, é verdade, mas isso não salvou o pobre camarada do afogamento. É muito
fácil dizer que há buracos em um casaco gasto, e mais fácil ainda, é fazer um buraco
nele. Um bom conselho é um alimento pobre para uma família faminta.
Um homem de palavras, e não de ações – É como um jardim cheio de ervas daninhas.
Quando eu chegar em casa, empreste-me um pedaço de barbante para amarrar os
tirantes e consertar defeitos em meu velho arreio. Ajude meu velho cavalo com um
pouco de aveia, e depois peça-lhe para apressar o passo. Sinta por mim, e eu me sentirei
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muito agradecido a você, mas esteja atento para sentir em seu bolso ou seu sentimento
não vale uma bagatela.
Muitos homens que descem a montanha encontram-se com Judas antes de chegar ao fim
dela. Em geral, os que eles ajudaram em seus tempos bons esquecem a dívida ou a
pagam com indelicadeza. O broto novo foge com a seiva da velha árvore. A cria suga
sua mãe e, depois, a chuta. O velho ditado diz: "Eu te ensinei a nadar, agora você pode
me afogar", e muitas vezes isso acontece. O cão abana a cauda até conseguir o osso,
depois, ele morde a mão que o alimentou. O pão que se comeu é esquecido, e a mão que
o deu é desprezada. A vela ilumina os outros e apaga. A maioria das pessoas esquece
com facilidade uma reviravolta boa. A lei dourada do mundo é a do cada um por si
mesmo, e todos sabemos quem fica com a última parte. A raposa toma conta da própria
pele e não pensa em perder a cauda por gratidão a um amigo.
Um espírito nobre sempre fica do lado dos fracos, mas os espíritos nobres não cavalgam
com freqüência ao longo de nossas estradas. Eles são raros como as águias, você pega
grande quantidade de pombas, falcões e aves de rapina, mas a raça mais nobre você não
vê nem uma vez sequer durante a vida. Você já ouviu os corvos lerem o preâmbulo
fúnebre em cima de uma ovelha morta antes de devorá-la? Bem, isso é muito parecido
com os vizinhos pranteando: "Que pena! Como aconteceu? Ó querido! Ó querido!", em
seguida, apressam-se no trabalho de garantir sua parte no despojo. A maior parte das
pessoas ajuda quem não precisa; cada viajante atira uma pedra onde já existe uma pilha
delas; todos os cozinheiros regam com molho ou gordura o porco gordo, mas deixam
queimar a carne magra.
Em tempos de prosperidade os amigos são abundantes: Em tempos de adversidade não
há um entre vinte.
Quando o vento está a favor, tudo ajuda. Enquanto a panela ferve, a amizade
floresce. Mas os aduladores não visitam cabanas, e nenhum noivo conhece a rosa
murcha. Todos os vizinhos são primos do homem rico, mas o irmão do homem pobre
não o conhece. Quando temos uma ovelha e um cordeiro, todos gritam: "Seja bemvindo,
Pedro!". Se o fazendeiro der um suspiro é ouvido à distância de quase um
quilômetro, mas ninguém ouve a viúva Needy do outro lado das grades do parque,
deixem que ela chame enquanto puder. Há homens dispostos a despejar água em uma
banheira cheia de água e a dar festas para os que não estão com fome, porque querem
receber o mesmo, ou até mais, em retorno. Coma um ganso e consiga um ganso. Tenha
um cavalo seu e, depois, você também pode pedir um emprestado. É seguro emprestar
cevada quando o celeiro está cheio de trigo, mas quem empresta ou dá para quem não
tem nada? Quem, a não ser uma alma velha e antiquada que realmente acredita em sua
Bíblia e ama o seu Deus e, por isso, dá sem esperar nada de volta?
Observo que certas pessoas da nobreza pretendem ser grandes amigos do homem que
passa por dificuldades porque ainda há alguns restos a serem retirados de seus ossos. O
advogado e o homem que empresta dinheiro cobrem o pobre infeliz com suas asas e,
depois, mordem-no com suas contas até que não reste nada. Quando essas pessoas são
muito polidas e têm muita consideração, os infelizes têm de se acautelar. Não foi um
bom sinal quando a raposa entrou no galinheiro e disse: "Bom dia para todas vocês,
minhas amigas muito queridas".
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No entanto, os homens em adversidades não devem se desesperar, pois Deus está vivo e
é amigo dos que não têm amigos. Se não houver mais ninguém para dar uma mão para
quem está em necessidade, a mão do Senhor não deixará de trazer libertação para os que
confiam nele. Um homem bom pode ser colocado no fogo, mas não pode ser queimado.
Sua esperança pode ficar encharcada, mas não se afoga. Ele recobra a coragem, faz de
seu coração valente uma muralha de pedra e sai do solo áspero em que outros ficam
caídos e morrem. Enquanto há vida, há esperança. Por isso, meu amigo, se você passa
por adversidades, João Lavrador convida-o a não ficar no fosso, mas a levantar-se e
tentar de novo. Jonas chegou ao fundo do mar, mas voltou á praia, e muito melhor
depois de sua jornada aquática.
Apesar do pássaro estar no ninho,
Ele logo vai embora;
Apesar de eu estar no pó,
Confio muito no meu Deus,
Espero nele,
E entrego tudo a sua vontade;
Com certeza, ele virá,
E banirá meu medo.
Jamais esqueça que o homem que passa por adversidades tem uma grande
oportunidade de confiar em Deus. A fé falsa flutua apenas em água plácida; mas a fé
verdadeira fé, como o barco salva-vidas, está em casa na tempestade. Se nossa religião
não nos desnuda em tempos de provação, qual é sua utilidade? Não acreditamos de fato
em Deus se não conseguimos acreditar nele quando as circunstâncias aprecem adversas.
Confiamos em um ladrão contato que possamos vê-lo, será que ousamos tratar a Deus
da mesma forma? Não, não. O Senhor é bom. E ele ainda aparece para seus servos, e
nós devemos louvar seu nome.
Para baixo, entre os homens mortos!
Não, senhor, eu não.
Para baixo, entre os homens mortos!
Eu não me deitarei.
Para cima, entre os esperançosos,
Eu irei,
Para cima, entre os alegres,
cante para sempre.
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Capítulo 15: Esperança
Ovos são ovos, mas alguns apodrecem; da mesma forma esperanças são
esperanças, mas muitas delas transformam-se em desilusões. As esperanças são como as
mulheres, há um toque de anjo nelas, mas há duas espécies delas. Meu garoto Tom
furou um monte de ovos de passarinho, enfiando-os em um fio; eu tenho feito a mesma
coisa com as esperanças, eis algumas delas – boas, más e indiferentes.
A esperança do homem otimista aparece inesperadamente, como uma caixa de
surpresas; ela funciona como um verão e não é guiada pela razão. Em qualquer
momento que olha pela janela, ele vê tempos melhores chegando; apesar de quase tudo
estar em seu modo de ver, e em nenhum outro lugar, ver pudim de farinha com passas
na lua é um hábito bem mais feliz que resmungar de tudo como um sapo de duas pernas.
Esse é o tipo de amigo para se ter por perto em uma noite negra como piche e em que
chove muito, pois ele leva velas nos olhos e uma lareira no coração. Tome cuidado para
não ser desencaminhado por ele e, assim, você pode manter sua companhia com
segurança. O erro dele é contar com os ovos antes de ter a galinha e vender seus
arenques antes que estejam na rede. Todos seus ovos de pardais estão reservados a se
transformarem, pelo menos, em tordos, talvez em perdizes ou faisões. O verão chegou
em sua plenitude, porque ele viu uma andorinha. Ele está certo de ficar rico com sua
nova loja, pois cinco minutos antes de abrir a porta, dois vizinhos se aproximaram, um
deles querendo um pão fiado, e o outro, trocar dinheiro. Ele está certo de que o
fazendeiro está disposto a lhe dar suas encomendas, pois ele o viu lendo o nome da loja
acima da porta enquanto passava em frente. Ele não acredita em erros entre xícaras e
lábios, mas deduz certezas do talvez. Bem, é uma alma boa apesar de, às vezes, ser um
pouco estúpido, há muito nele para ser louvado e gosto de pensar em um de seus
curiosos ditos: "Nunca fale em morrer até estar morto porque aí não adianta mais,
portanto deixe isso para lá." Como você vê, há outras pessoas curiosas no mundo, além
do João Lavrador.
Meu vizinho desajeitado está esperando que sua tia morra, mas a velha senhora tem
tantas vidas como nove gatos. Minha opinião é que quando ela morrer, deixará o pouco
de dinheiro que tem para um hospital de gatos ou para cães abandonados, em vez de
deixá-lo para seu sobrinho Joãozinho. Pobre criatura, ele está terrivelmente desesperado
e desconta tudo no temperamento irritante da pobre senhora. Contudo, ele espera e fica
cada vez pior, pois enquanto a grama cresce, o cavalo morre de fome. Quem espera a
morte de alguém é como se segurasse uma corda longa, quem corre atrás de heranças
precisa ter sapatos de ferro. Quem espera os sapatos dos que morrem pode ficar por
muito tempo descalço; quem espera pela vaca do tio, não pode se apressar para passar
manteiga no pão. Quem vive de esperança tem uma dieta magra. Se o Joãozinho
desajeitado não tivesse uma tia, ele teria arregaçado as mangas da camisa e trabalhado
para si mesmo; mas disseram-lhe que nasceu em berço de ouro, e isso transformou-o em
um inútil.
Se alguém quiser deixar uma herança para o João Lavrador, ele ficará muito agradecido,
mas seria melhor que não contar a ele sobre isso, pois tem medo de deixar de arar um
sulco tão bem feito; seria duas vezes melhor receber uma herança de surpresa. Na
verdade, seria melhor deixar a herança para o Colégio do Pastor ou para o Orfanato
Stockwell, pois nos dois casos seria muito bem usada. Agora, precisamos voltar ao
nosso tema.
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Eu gostaria que as pessoas pensassem menos na sorte inesperada e plantassem mais
macieiras. Esperanças que crescem do lado de fora das sepulturas são erros graves; e
quando elas enfraquecem a energia do homem, são como a corda da forca balançando
em volta do pescoço dele.
Algumas pessoas nasceram no primeiro de abril e estão sempre esperando sem sentido
ou razão. Seu barco chegará logo; elas encontrarão um pote de ouro ou ouvirão alguma
coisa que lhes traga vantagem. Pobres tolos, eles têm cabeça de vento e sonham
acordados. Eles mantêm a boca aberta um bom tempo antes que o ovo frito e o presunto
cheguem até ela, e são realmente capazes de acreditar que, um dia, algum golpe de sorte
ou algumas maçãs de ouro derrubadas pelo vento os tornarão independentes e os
transformarão em cavalheiros. Eles esperam dirigir carruagens, e logo, logo estarão
fechados em um lugar em que as carruagens não cabem. Você pode assobiar por um
bom tempo antes que os pintassilgos saltem em seu polegar. De vez em quando, um
homem em um milhão tropeça na fortuna, mas milhares se arruínam com expectativas
inúteis. Espere obter metade do que você ganha, um quarto do que deve e nada do que
emprestou, e você estará próximo da meta, mas esperar que uma fortuna caia da lua é
ser muito tolo. Um homem deve esperar pelas promessas de bem do Antigo Testamento
dentro dos limites da razão. A esperança repousa em uma âncora, mas a âncora deve ter
algo em que se segurar e algo para segurar. Uma esperança sem motivo é um barco sem
fundo, um cavalo sem cabeça, um ganso sem corpo, um sapato sem sola, uma faca sem
lâmina. Quem a não ser o Simão Simplório começaria a construir uma casa pelo
telhado? Precisa haver um alicerce. Esperança é esperança, mas é uma loucura total
esperar por coisas impossíveis, ou esperar a colheita sem semear, ou pela felicidade sem
fazer o bem. Essas esperanças não levam a nada; elas são como a lanterna feita na
abóbora e levam o homem para o fosso. No asilo há um homem, o pobre Will, que
sempre diz que possui uma grande fazenda, só que o proprietário legal o mantêm fora
dela; seu nome é Jenyns ou Jennings, e conforme diz ele, alguém com esse nome deixou
dinheiro suficiente para comprar o Banco da Inglaterra, e, um dia, Will vai ter sua parte
nesse dinheiro. Contudo, nesse meio tempo, o pobre Will descobre que apenas a sopa da
igreja é muito pouco para o estômago de um senhor tão importante, ele me prometeu
mil ou dois mil do dinheiro excedente quando conseguisse sua fortuna, construirei um
castelo no ar com isso e cavalgarei em um cabo de vassoura para chegar nele. Pobre
infeliz, como muitos outros, ele tem moinhos de vento na cabeça, mas, se tiver de dar
qualquer coisa, é bastante parcimonioso. Fiando-se nisso, semear no ar não é apenas
muito lucrativo como é fácil, aquele espera obter mais do que consegue com o próprio
ganho tem a ilusão de encontrar abricós em uma árvore de maçãs azedas. Quem casa
com uma garota que se veste de modo relaxado e espera fazer dela uma boa esposa
poderia, da mesma forma, comprar um ganso e esperar que ele se transformasse em uma
vaca leiteira. O que leva seus filhos para o bar e confia que eles crescerão sóbrios, põe
sua cafeteira no fogo e espera vê-la brilhar como estanho novo. Os homens não podem
estar em seu juízo quando fazem cerveja com malte ruim e esperam ter cerveja de boa
qualidade ou dão um mau exemplo e esperam criar uma família respeitável. Você pode
esperar e esperar até seu coração ficar doente, mas, quando você mandar seu filho subir
na chaminé, ele desce sujo apesar da sua esperança. Ensine uma criança a mentir e
espere que ela cresça honesta; seria melhor pôr uma vespa em um barril de piche e
esperar que ela fizesse mel para você. Quando será que as pessoas vão agir com
sensatez com seus filhos? Nunca, se elas mesmas não forem sensatas.
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Quanto ao próximo mundo, é uma grande pena que os homens não tenham um pouco
mais de cuidado quando falam dele. Se um homem morrer bêbado, alguém dirá:
"Espero que ele tenha ido para o céu". Tudo bem em desejar isso, mas esperar é uma
outra coisa. Os homens viram o rosto para o inferno e esperam chegar ao céu, eles
caminham dentro do lago e esperam ficar secos? Esperanças do paraíso são coisas
solenes e deveriam ser experimentadas pela palavra de Deus. Um homem poderia da
mesma forma esperar, conforme diz nosso Senhor, colher uvas de espinhos ou figos de
cardos, assim como procurar por um futuro feliz no final de uma vida ruim. Só existe
uma rocha sobre a qual se constroem as esperanças boas, e ela não é Pedro, como diz o
papa; nem os sacramentos, como dizem os filhotes da besta da velha Roma; mas os
méritos do Senhor Jesus. Toda esperança do homem está no "homem Jesus Cristo". Nós
somos salvos se cremos nele , pois está escrito "que aquele que crê tem a vida eterna".
Ele tem vida eterna agora, e ela é para toda a eternidade, de modo que não se deve temer
perdê-la. Nisso se apóia João Lavrador, e ele não tem medo de ser confundido, pois isso
é um sustentáculo e dá-lhe esperança segura e imutável que nem a vida nem a morte
podem abalar. Portanto, por favor, lembrem-se de que a presunção é uma escada que
quebra o pescoço de quem a sobe, se você ama sua alma não tente fazer isso.
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Capítulo 16: Gastar
Ganhar dinheiro é fácil se comparado com o gastá-lo bem; qualquer um pode
desenterrar batatas, mas entre dez mulheres não há uma que saiba cozinhá-las. Os
homens não ficam ricos pelo que conseguem, mas pelo que economizam. Muitos
homens que têm dinheiro têm tanto juízo, como os porcos têm de lã; eles estão na idade
da prudência, pois já passaram dos quarenta anos e brincam com centenas de reais,
como os garotos brincam com pedras. O que seus pais conseguiram com o ancinho, eles
jogam fora com a pá. Depois do avarento vem o esbanjador. Freqüentemente, alguns
homens contam como seus pais eram pródigos, mas não eram amigos de ninguém a não
ser de si mesmos, e agora os filhos não são inimigos de ninguém, a não ser de si
mesmos; o fato é que os velhos foram para o inferno pela estrada da escassez, e seus
filhos decidiram chegar lá pela da abundância. Logo que o esbanjador adquire sua
propriedade, ela desaparece como um pedaço de manteiga na boca de um galgo. Para
ele todos os dias são primeiro de abril; ele é capaz de comprar um elefante por uma
pechincha ou de pôr telhado de panquecas em sua casa, nenhuma tolice é suficiente para
alegrar sua fantasia; o dinheiro queima em seu bolso, e ele precisa desperdiçá-lo
alardeando o tempo todo seu lema: "Gaste, e Deus manda mais". Ele não sossega se não
tosquiar sua ovelha antes das outras; ele antecipa a receita e saca o capital e, assim, mata
a galinha dos ovos de ouro e depois se queixa: "Quem pensaria que isso podia
acontecer?" Não poupa na borda, mas quer economizar no fundo. Ele empresta com
juros altos do Roube Todos, Engane Todos e Venda Todos e quando consegue se
limpar, em tempos difíceis, põe todos eles e outros mais nas mãos dos advogados. Os
tempos nunca foram bons para esbanjadores preguiçosos; e se fossem bons para eles,
seriam maus para todo mundo. É um mistério porque os homens têm tanta pressa em se
transformarem em mendigos; mas hoje tudo que se refere às corridas de cavalos, à
preguiça e à especulação parece uma carruagem de quatro cavalos correndo todo dia
para a Aldeia da Necessidade. Dinheiro vivo deve ser uma verdadeira curiosidade para
homens que gastam como nobres. Eles são cavalheiros sem recursos, o que é quase o
mesmo que pudim de ameixas sem ameixas.
Gastar seu dinheiro com muitos convidados
Esvazia a despensa, o celeiro e o cofre.
Se um jogo inofensivo for feito aliado a uma vida desregrada, o dinheiro se derrete
como uma bola de neve em um forno. Um jovem jogador, com certeza será um mendigo
velho, se viver o suficiente para isso.
O diabo leva pelo nariz, Quem joga os dados com freqüência.
Há outros burros além dos que têm quatro pernas. Sinto dizer que os
encontramos tanto entre os trabalhadores como entre os cavalheiros. Camaradas que não
têm nenhuma propriedade além de seu trabalho, nem braços de família a não ser os com
que trabalham, gastam seus parcos e suados salários no bar ou em bobagens. Mal
recebem o salário e lá se vão eles para o "O Cão Pintado" ou para o "Marquês de
Granby" levar a contribuição dos tolos para ajudar a manter a cara vermelha e a pança
redonda dos donos das terras. Beber água não deixa doente, nem com dívida, nem faz de
sua esposa uma viúva, porém é raro os homens darem valor ao sabor dela, no entanto a
cerveja que muitos trabalhadores engolem com voracidade não é nada além de ruína
escura. Cabeças duras, estúpidas e sonolentas sentam-se no banco da taverna e lava o
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pouco juízo que têm. No entanto, acredito que as pessoas do campo gerenciam seu
dinheiro bem melhor que os londrinos, pois apesar de terem pouco dinheiro, suas
famílias parecem simpáticas e asseadas aos domingos. É verdade que a renda não é tão
ruim em uma aldeia como é na cidade, além de no campo haver bastante verde,
entretanto esses londrinos ganham um bocado de dinheiro e têm muitas oportunidades
de comprar em um mercado barato, os homens do campo não têm essa facilidade. No
conjunto, creio que a administração do povo do campo que consegue manter a família
com alguns trocados por semana é boa, e quem não pode fazer isso com quase o dobro
em Londres é mau administrador. Por que algumas famílias são tão felizes, como os
ratos no malte, com salários tão baixos, e outras são tão infelizes, como ratos em uma
armadilha, com o dobro da quantia? Quem calça o sapato sabe bem onde ele aperta, mas
a economia é uma coisa admirável e faz com que centavos valham mais que reais.
Alguns tiram leite de pedra. E outros não conseguem se alimentar com o caldo da carne
da vaca. Alguns têm tanta habilidade para comprar quanto Sansão tinha em ambos os
ombros, mas não mais que isso. Eles não compram bem, não têm bom senso para
utilizar seu dinheiro com proveito. Os compradores deveriam ter centenas de olhos, mas
esses não têm nem metade de um, e não o abrem. Já se falou bastante que se os tolos
não fossem ao mercado, não se venderia produtos ruins. Eles nunca dão ao seu dinheiro
o valor certo porque freqüentemente estão à caça dos produtos mais baratos, mas
esquecem-se que, em geral, o mais barato sai mais caro, ninguém pode comprar um
artigo ruim com dinheiro bom. Quando oferecem cinco ovos por uma moeda, quatro
estão quebrados. Pobres homens, sempre compram pequenas quantidades e pagam caro,
pois o homem que compra pelo valor da moeda mantém sua casa e também a de outro.
Por que não pegar o necessário para duas ou três semanas de uma vez só e, assim,
conseguir mais barato? Armazenar não é doloroso. As pessoas economizam errado e
estragam o navio pela metade do valor do piche do revestimento. Outros fazem
pequenas economias e esquecem as coisas maiores; eles economizam em ninharias e
esbanjam em outras coisas; poupam na torneira e deixam tudo fugir pelo buraco do ralo.
Alguns compram coisas que não precisam porque estão uma pechincha; deixe-me dizerlhes,
o que vocês compram sem necessidade sempre é caro. Roupas finas fazem um
grande rombo nos recursos das pessoas pobres. Mas será que aquilo que João Lavrador
e outros buscam, enquanto trabalham duro pelo pão de cada dia, tem alguma coisa que
ver com sedas e cetins? É o mesmo que um ferreiro vestir um avental branco de seda.
Odeio ver uma empregada doméstica ou a filha de um operário enfeitada de um jeito
que as pessoas poderiam confundi-la com uma dama. Porque todo mundo distingue
girino de peixe; e ninguém confunde papoula com rosa. Vejam uma mulher com um
vestido bonito e bem apresentado, limpo e confortável no que se refere à beleza ela fará
as jovens sapecas e fulgurantes em pedaços. Se uma garota tem apenas algumas moedas
para gastar, compre um bom pedaço de flanela para o inverno, antes de ser tentada pela
aparência brilhante das coisas refinadas. Compre sempre o que servir para você vestir,
não compre para as outras pessoas olharem, deixe que fechem os olhos. As mulheres
são boas para alguma coisa ou não servem para nada, e sua roupa geralmente mostra
isso.
Suponho que todos nós achamos que o dinheiro desaparece muito rápido, mas afinal ele
foi feito para circular e não há utilidade em armazená-lo. É péssimo ver nosso dinheiro
se transformar em um empregado que nos abandona, mas seria pior tê-lo parado
conosco e se tornar nosso dono. Como diz nosso pastor, devemos tentar "encontrar o
meio termo" e não ser esbanjador nem mesquinho. Quem tem a melhor esposa tem seu
dinheiro gasto da melhor forma. O marido pode ganhar dinheiro, mas somente a esposa
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pode economizá-lo. "A mulher sábia edifica a sua casa, mas com as próprias mãos a
insensata derruba a sua". De acordo com Salomão, a esposa é a construtora ou a
verdadeira demolidora. Um homem não prospera até que a esposa lhe dê licença para
isso. Uma dona de casa econômica é melhor que uma grande soma de dinheiro. Uma
boa esposa e saúde são as melhores riquezas. Que o coração de vocês seja abençoado, o
que faríamos sem elas? Dizem que elas gostam de fazer do seu jeito, mas o provérbio
diz: "Uma esposa deve fazer sua vontade durante a vida, porque não poderá realizá-la
depois de morta". O clima está tão quente que não conseguirei manter esta conversação
por muito tempo, portanto vou encerrar com uma citação antiga:
O céu abençoe as esposas, pois preenchem nossas colméias
com pequenas abelhas e mel!
Confortam-nos nos golpes da vida, remendam nossas meias, Mas não gastam nosso
dinheiro.
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Capítulo 17: Uma palavra boa para as esposas
Refreamos os cavalos no último sermão sob o título de "Boa Esposa", e como há
boa diversão sob esse título para o homem, se não para o bruto, nós nos deteremos nele
por um intervalo para mergulhar a caneta em uma tinta superfina em que não há
nenhuma amargura. João Lavrador deve estar em sua melhor forma para escrever sobre
um assunto tão sério.
É impressionante quantos velhos ditados existem contra as esposas, há dezenas deles.
Anos atrás, os homens mostravam o lado rude de suas línguas toda vez que falavam de
suas esposas. Alguns desses ditados são até mesmo chocantes; como aquele muito
maldoso que diz: "Todo homem passa dois dias bons com a esposa: o dia em que se
casa com ela e o dia em que a enterra", e aquele outro: "Quem perde a esposa e um
centavo sofre uma grande perda com o centavo".
Lembro-me de uma velha balada que Gaffer Brooks costumava cantar sobre o homem
que estava melhor enforcado que casado, o que demonstra como era comum criticar a
vida de casado. Nem seria bom imprimi-la, mas aqui está ela ou o que dela ficou mais
vivo em minha lembrança:
Havia uma vítima em uma carroça, a um dia de ser enforcada,
A pena foi suspensa por um tempo, E a carroça foi parada.
Case e salve sua vida,
Gritou o juiz em voz alta;
Oh, por que deveria eu corromper minha vida?
Respondeu a vítima.
Aqui há uma multidão heterogênea,
Por que iria eu evitar a diversão?
Pechinchar é difícil em todo lugar, e a esposa é o pior condutor de carroça.
Bem, essa bobagem não prova que as mulheres são más, mas que seus maridos
não servem para nada ou não diriam calúnias tão abomináveis sobre as companheiras. O
galho mais podre arrebenta antes, e ao que parece o lado masculino da casa é o pior dos
dois, por isso, com certeza ele faz os piores ditados. Não há dúvida houve algumas
esposas extremamente más no mundo que provocaram tanto o homem a ponto de ele
dizer: "Se uma mulher fosse tão pequena quanto é boa, a casca de uma ervilha serviria
de vestido e de capuz para ela". Mas quantos milhares de encontros providenciais valem
mais que seu peso em ouro! Na Bíblia, há apenas uma mulher de Jó e uma Jezabel, mas
uma quantidade sem-fim de Saras e Rebecas. Via de regra, penso como Salomão:
"Quem encontra uma esposa encontra algo excelente", os vizinhos sempre sabem se
houver um centavo mal gasto na mercearia, mas o relatório não fala sobre os milhares
bem gastos. Uma boa mulher não faz barulho, e nenhum alarido é feito sobre ela, mas
uma mulher rabugenta é conhecida em toda a igreja. Elas são as criaturas mais
angelicais do mundo quando as recebemos como esposas em tudo e por tudo, e a
maioria delas é boa demais para os maridos que tem.
A crédito das mulheres já é muito dizer que há alguns velhos ditados contra os maridos,
apesar de, nesse caso, os direitos serem os mesmos para todos, e a égua ter as mesmas
razões que o cavalo para dar coices. Mas eles devem ser muito indulgentes ou seria
como dar um Roland (grande defensor dos cristãos contra os sarracenos na batalha de
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Roncesvalles, nas histórias sobre Carlos Magno) para cada Oliver (o amigo mais
próximo de Roland). Meus caros, elas são muito mais rápidas na conversa, mas não faz
parte da natureza das moças bonitas e dos sinos soarem com facilidade? Afinal, elas não
podem ser tão más ou teriam se vingado das coisas cruéis que são ditas sobre elas. Se
são um pouco arbitrárias, seus maridos não devem ser tão vítimas assim ou teriam
certamente senso suficiente para segurar a língua delas. Os homens não temem que se
saiba que são governados pelas esposas, e tenho certeza que os velhos ditados não
passam de zombaria, pois se fossem verdadeiros, os homens jamais ousariam admitilos.
A verdadeira esposa é a melhor parte de seu marido, seu encanto, sua flor de beleza, seu
anjo guardião, o tesouro do seu coração. Ele diz a ela: "Com você eu serei muito feliz.
Eu escolhi você e me regozijo com isso. Em você encontrei a alegria de espírito. A
escolha de Deus é minha alegria". Em sua companhia ele encontra seu paraíso na terra;
ela é a luz do lar, o conforto da sua alma e (para este mundo) o âmago do seu conforto.
Por mais que tenha fortuna, ele só será rico enquanto ela viver. Sua costela é o melhor
osso do seu corpo.
O homem que casa com uma mulher amorosa
Seja o que lhe acontecer na vida,
Suporta tudo;
Mas o que encontra uma companheira maldosa,
Nenhum bem pode entrar pelo seu portão e Sua taça estará cheia de fel.
Um bom marido faz uma boa esposa. Alguns homens não conseguem se realizar
nem com esposas nem sem elas; eles são infelizes sozinhos naquilo que chamamos de
celibato e, quando casam, seu lar é infeliz. Eles são como o cão do Tompkin que não
acha o caminho de volta quando sai e uiva quando está preso. Bacharéis felizes são
como maridos felizes, e um marido feliz é o mais feliz dos homens. Um casal bem
entrosado carrega uma vida de felicidade, assim como dois espiões carregam os cachos
de uva. Eles são um casal de pássaros do paraíso. Eles multiplicam suas alegrias ao
compartilhá-las e diminuem suas dificuldades ao dividi-las; isso é excelência em
matemática. O vagão do carinho desliza suave enquanto eles se atraem reciprocamente;
e quando ele se arrasta de forma mais vagarosa ou aparece um obstáculo em algum
ponto, eles se amam ainda mais e, assim, tornam o trabalho mais leve.
Quando um casal se separa há sempre erros dos dois lados, e geralmente na mesma
proporção. Com freqüência, quando um lar é infeliz, o erro é tanto do marido como da
esposa; a culpa é tanto de Darby como de Joan (Darby & Joan uma canção muito
conhecida por volta de 1820). Se o marido não guarda o açucareiro no guarda-louça,
não é de se admirar que a esposa fique azeda. A falta de pão traz falta de amor; se a
carne for magra, os cachorros brigam. A pobreza do lar geralmente faz com que o
homem carregue o lar nas costas, porque não é muito comum a mulher sair para
trabalhar por salário. Um conhecido nosso deu a sua mulher um anel com a seguinte
gravação: "Se você não trabalhar, não poderá comer". Ele era um bruto. Não é função
dela trazer a farinha para casa, ela precisa usar bem a farinha e não desperdiçá-la. Por
esse motivo, digo que as coisinhas simples não são erro dela. Não é ela quem sustenta a
família, mas sim quem faz o pão. Ela ganha mais em casa do que qualquer salário que
pudesse conseguir fora.
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Não é a esposa que fuma e bebe o salário no "Urso Marrom" ou no "Beberrões Felizes".
Às vezes, vemos uma mulher bêbada, e é uma visão horrível; mas em 99% dos casos, é
o homem que fica embriagado e abusa das crianças – a mulher raramente faz isso. A
labuta da esposa é abstêmia, quer ela goste, quer não, e também tem abundância de água
quente e fria. As mulheres são pegas em erro porque sempre olham dentro dos copos,
mas isso não é tão ruim como fazem os homens que afogam seus sentimentos no copo.
As esposas não se sentam embriagadas na lareira do bar; elas, pobres criaturas, ficam
em casa com frio, cuidando das crianças, olhando para o relógio (se houver um),
querendo saber quando seus donos e senhores virão para casa e chorando enquanto
esperam. Surpreende-me que não façam greve. Algumas delas ficam tão tristes como o
besouro preso com um alfinete ou um rato na boca de um gato. Elas têm de cuidar da
menina doente, e banhar o garoto sujo, e tolerar choro e barulho das crianças, enquanto
seu dono coloca o chapéu, acende o cachimbo e sai para cuidar do próprio prazer ou
chega na hora que quer criticando a pobre mulher por não ter preparado para ele um
jantar excelente. Como poderia ele esperar ser alimentado como um galo de briga,
quando trouxe para casa tão pouco dinheiro na noite de domingo e gastou tanto
paparicando o Sr.João Grão de Cevada? Digo, e estou certo disso, há muitas casas onde
não haveria esposas ralhando, se não houvesse um marido covarde e beberrão. Os
companheiros não se importam em ser criticados por beber e bebem até ficar
embriagados, depois, voltam em seus pangarés por não terem mais nada para gastar.
Não me digam, eu sei e sustento isso –a mulher não pode evitar sentir-se vexada
quando, com todos seus remendos e esforços, não consegue manter o lar porque seu
marido não a ajuda na tarefa. Todos ficaríamos irritados se tivéssemos de fazer tijolo
sem barro, manter a panela fervendo sem fogo e pagar o tocador de gaita com a bolsa
vazia. O que ela pode conseguir do fogão quando não tem nem cereal nem farinha?
Vocês, maus maridos, são autênticos covardes e deveriam ser pendurados pelos
calcanhares até aprenderem alguma coisa.
Dizem que um homem de palha vale mais que uma mulher de ouro, mas não consigo
engolir isso, um homem de palha não vale mais que uma mulher de palha. Deixemos
que os velhos ditados fiquem como querem, via de regra, o Jack não é melhor que a Jill.
Quando há sabedoria no marido, normalmente há gentileza na esposa; e o antigo desejo
das bodas funcionou para eles: "Um ano de alegria, outro de conforto e todo o resto de
contentamento". Onde houver concordância de corações, aí está a alegria. Apenas a
morte separa corações unidos. Dizem que o casamento nem sempre é um período feliz,
mas é com muita freqüência um período de frustração; bem, se for assim, o paletó e o
colete têm tanto a ver com ele quanto o vestido e a combinação. A lua de mel não
precisa terminar; e se termina, quase sempre o erro é do marido por comer todo o mel e
não deixar nada a não ser a luz da lua. O viver é substancioso quando ambos concordam
que venha o que vier da lua manterão sua cota de mel.
Quando um homem vive com a cara arranhada, ou sua esposa não se casou com um
homem, ou ele não se casou com uma mulher. Se um homem não pode tomar conta de
si mesmo, seu juízo é tão escasso como o pêlo de um cachorro azul. Não tenho pena da
maior parte dos homens mártires; guardo minha piedade para as mulheres. Quando
Dunmow perde o porco cevado, nenhum dos dois come bacon; mas provavelmente é a
mulher quem mais fará abstinência na falta dele.
Cada arenque precisa ser pescado pela própria guelra, e cada pessoa precisa levar em
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conta sua parte nas brigas no lar; mas João Lavrador não pode tolerar ver toda a
responsabilidade posta apenas sobre as mulheres. Quando se quebra um prato, foi o gato
quem fez, e quando acontecem injúrias, há sempre uma mulher no centro da questão: eis
duas mentiras tão bonitas como as que vocês ajuntam durante o mês. Há uma "causa"
para cada "efeito", mas a causa para a falta de suprimento da família nem sempre está
com a dona da casa. Sei que algumas mulheres têm línguas compridas, e os maridos,
por compaixão, deviam deixá-las continuar assim. E por falar nisso, basta olhar dentro
de um bar, quando os queixos dos homens estão bem estimulados pelo licor, se alguma
mulher no mundo conseguir falar mais rápido ou ser mais estúpida do que eles, meu
nome não é João Lavrador.
Quando eu já estava nesse ponto, nosso ministro me disse: "João, você conseguiu um
assunto difícil, um tendão de Aquiles para você; vou lhe mandar um livro raro para
ajudá-lo com o estilo". "Bem, senhor", disse eu, "uma pequena ajuda vale muito na
busca de erros, e ficarei muitíssimo agradecido ao senhor".
Ele me enviou o Wedding Ring [Anel de casamento], de William Secker, um camarada
realmente sábio. Não pude fazer nada além de selecionar alguns de seus tópicos
fundamentais; eles são cheios de sabor e, por isso, devem ser memorizados. Ele diz:
"Você tem um coração suave? Deus quebrantou-o. Tem uma esposa doce? Ela é obra de
Deus. Os hebreus afirmam: ‘Quem não tem uma mulher não é homem'. Mesmo que
possa ser bom um homem sozinho, não deveria ser bom que o homem fosse sozinho.
Toda a dádiva boa e todo presente perfeito vem de cima". Uma esposa mesmo não
sendo um presente perfeito, é um bom presente, uma lança arremessada do Sol da
misericórdia. Como seriam felizes os casamentos se Cristo estivesse nas bodas! Não
deixe ninguém, a não ser os que encontraram a graça nos olhos do Senhor encontrar a
graça nos seus. Os maridos devem espalhar o manto da caridade sobre as fraquezas de
suas esposas. Não destrua a vela por causa do pavio. Os maridos e as esposas devem se
estimular para amar um ao outro e devem se amar ao resistir às provocações. A árvore
do amor deve crescer no seio da família, como a árvore da vida cresceu no jardim do
Éden. Devotos dedicados são uma benção; crianças gentis uma benção ainda maior; mas
uma boa esposa é a maior das bênçãos; e isso faz com que o que deseja uma esposa a
procure; deixem que o que a perdeu suspire por ela; deixem que o que desfruta da
alegria de ter uma se deleite com ela.
Como dizem, para rebaixar-se da carne assada do velho puritano ao meu pote de ervas
ou para pôr o Joãozinho depois dos cavalheiros, lhes contarei minha experiência. Minha
experiência com minha primeira esposa, que eu espero que viva para ser a última, foi
assim: o matrimônio veio do paraíso e levou a ele. Eu nunca senti nem metade da
felicidade que sinto hoje antes de ser um homem casado. Quando você se casa, sua
felicidade começa. Não tenho dúvida de que onde há muito amor, há muito para se
amar; e onde o amor é limitado, os erros proliferam. Se houver apenas uma boa esposa
na Inglaterra, eu sou o homem que pôs o anel em seu dedo, e que ela o possa usar por
muito tempo. Deus abençoe essa alma querida, que ela permaneça ao meu lado, pois eu
nunca a afastarei.
Se eu não fosse casado e encontrasse uma companheira adequada, casaria amanhã de
manhã, antes do café da manhã. O que vocês acham disso? Alguém diz: "Penso que
João Lavrador casaria de novo se ficasse viúvo". Bem, e se ele ficasse viúvo de que
forma ele poderia mostrar melhor que foi feliz com sua primeira esposa? Eu declaro que
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não alegarei, como fazem alguns, que me caso para ter alguém para cuidar das crianças;
eu me casaria para ter alguém para cuidar de mim; João Lavrador é um homem com
muitas atividades e não poderia cuidar de uma casa sozinho. O homem que casa pela
quarta esposa manda gravar na aliança —
Se eu sobreviver,
eu chegarei à quinta.
Que velho Barba-Azul! Os casamentos são feitos no céu, o matrimônio em si é
bom, mas há tolos que transformam carne em veneno e benção em maldição. Pedley
disse: "Essa corda é boa, vou enforcar-me com ela". Um homem que procurou sua
esposa em Deus e casou-se com ela pelo seu caráter, não apenas por sua aparência, fez
uma escolha que será abençoada. Os que unem seu amor em Deus, que oram por amar e
amam orar, descobrem que o amor e a alegria nunca cansam.
O que respeita a esposa descobre que ela o respeita. Ele é avaliado pelo mesmo
parâmetro que avalia, boa medida imposta e válida. O marido que consulta a esposa tem
um bom conselheiro. Ouvi nosso ministro dizer: "A intuição feminina é quase sempre
mais correta que a razão masculina"; elas se atiram de imediato em uma coisa e ficam
sábias de repente. Diga o que disser do conselho de sua esposa é bem provável que você
se arrependa se não o escutar. Quem fala mal das mulheres deve se lembrar do peito que
o alimentou e se envergonhar de si mesmo Quem trata mal a esposa deve ser chicoteado
na parte de trás da carroça, e vocês nem imaginam como eu gostaria de dar uma coça
nessa pessoa! Eu apenas espantaria uma ou duas moscas, confiem em mim em relação a
isso. Assim não há mais nada para o momento, como disse o telheiro quando clareou
cada prato da mesa.
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Capítulo 18: Homens de duas caras
Até mesmo os homens maus valorizam a firmeza de caráter. Os ladrões gostam
dos homens honestos, pois eles são os melhores para se roubar. Quando você sabe onde
encontrá-lo vê que ele tem boa pontuação com todos; mas ninguém tem nada de bom a
dizer a respeito do camarada que uiva com os lobos e bale com as ovelhas, a não ser o
diabo. De qualquer maneira, é muito comum pessoas que carregam duas caras sob um
chapéu. Muitos se empoleiram com as aves e, depois, dividem-nas com Reynard (nome
da raposa em um poema medieval). Muitos parecem incapazes de praticar qualquer mal,
mas logo cospem fogo quando não conseguem seus propósitos. Li outro dia uma
propaganda sobre casacos reversíveis; o alfaiate que os vendeu deve estar ganhando
uma fortuna. Pôr os pés em duas canoas ainda está na moda. A firmeza é rara no mundo,
como o almíscar em um canil.
Você confia em certos homens tão logo os vê, mas não vá além disso, pois as novas
companhias fazem deles novos homens. Como água, eles fervem e congelam de acordo
com a temperatura ambiente. Alguns agem dessa forma por falta de princípios; têm a
convicção de um cata-vento, portanto giram conforme o vento. É mais fácil medir a lua
que saber quem são esses homens de verdade. Eles acreditam em quem paga mais. Eles
sempre avaliam tudo como lã de ouro; se o dinheiro estiver à vista, "o que cai na rede é
peixe". Eles acompanham qualquer vento, norte, sul, leste, oeste, nordeste, noroeste,
sudeste, sudoeste, nor-nordeste, su-sudeste ou qualquer outro que haja no mundo. Eles,
como o sapo, vivem na terra ou na água e não têm nada de especial. Como o gato, eles
sempre caem de pé e param em qualquer lugar se untar seus dedos. Amam com carinho
seus amigos, mas seu amor repousa no armário; mas se isso não for suficiente, o amor
deles corre como um rato para a próxima despensa. Eles dizem: "Deixar você, cara
menina? Nunca, enquanto você tiver uma moeda". Se você vir o mau, como eles fogem
rápido! Como ratos, eles abandonam o navio que naufraga.
Quando não há uma iguaria, Esses amigos ainda estão empacotando.
O coração deles segue o pudim. Enquanto a panela ferve, eles sentam perto do
fogo; quando o pote de alimento fica vazio, eles mudam de atitude. Eles acreditam no
cavalo vencedor; usam o casaco de qualquer pessoa que consigam para lhes dar um; eles
podem ser comprados às dúzias como ovos, mas quem oferecer uma moeda por eles
desperdiça seu dinheiro. O lucro é o deus deles; e se tirarem o dinheiro de você ou do
seu inimigo, tanto faz é bom do mesmo jeito. Se ganham, cabeças e caudas são a mesma
coisa. A estrada principal ou a viela de trás são a mesma coisa, desde que cheguem em
casa com o pão na cesta. São amigos dos gansos, mas comem seus miúdos. A água
apesar de enlameada move a roda deles, mas isso não é o pior; são capazes de queimar o
caixão da própria mãe se estiverem sem lenha e de vender o próprio pai se conseguirem
algumas moedas pelos ossos do velho senhor. Nunca perdem uma chance de pensar na
melhor oportunidade.
Os outros são volúveis porque gostam tanto de boas amizades. "Salve companheiro,
você apareceu no momento certo!", esse é o cumprimento deles para viajantes ou
caminhoneiros. Eles são tão agradáveis que precisam concordar com todo mundo. São
sobrinhos do sr. Qualquer Coisa. Seus cérebros estão na cabeça das outras pessoas. Em
Roma, beijam o pé do papa, mas em casa eles ficam roucos de tanto gritar: "Abaixo o
papismo". Admiram o vigário de Bray cujo postulado era ser o vigário de Bray quer a
igreja protestante, quer católica. Eles são meros servidores do tempo, com esperança de
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que os tempos possam servi-los. Eles pertencem ao grupo que amarela. Bajule-os e se
alimentará deles como se fossem nabos. Puxe a corda, e eles tocam como sinos e no
ritmo que você quiser: fúnebre ou repique de casamento, para a igreja ou para o diabo.
Eles não têm espinha dorsal, você pode vergá-los com se fossem varinhas de salgueiro,
para trás e para frente, como lhe agradar. São como as ostras, qualquer um que consegue
abri-las pode temperá-las. Eles são agradáveis com você e com seu inimigo. Eles
sopram quente e frio. Tentam ser o João faz tudo para os dois lados e merecem ser
chutados como uma bola de futebol por ambas as partes.
Alguns são hipócritas por natureza, escorregadios como enguias e sem raça como a égua
do fazendeiro Smoothey. Como um homem bêbado, eles não conseguem andar em linha
reta se tentam. Eles circulam aqui e ali, como as alamedas de Surrey. Eles são crias de
São Judas. O jogo duplo é o favorito deles, e a honestidade sua grande aversão. Sua
língua tem mel, mas seu coração tem fel. Eles não têm raça como os cães dos ciganos.
Como as patas dos gatos eles mostram almofadas macias, mas escondem garras afiadas.
Se os dentes deles não estiverem podres, a língua está, e o coração é como túmulos de
pessoas mortas. Se falar a verdade e mentir dessem lucro da mesma forma, eles
naturalmente prefeririam mentir; pois é mais da natureza deles, como a imundice é para
o porco. Eles invalidam, bajulam, adulam e desprezam; como serpentes deixam rastro
em seu caminho, mas o tempo todo eles odeiam você de coração e só esperam uma
oportunidade para golpeá-lo. Cuidado com os que vêm da cidade da Fraude: os srs.
Duas Caras, Discurso Justo, Duas Línguas são vizinhos que é melhor manter à
distância. Apesar de olharem para um lado, como fazem os barqueiros, eles estão
puxando para o outro; eles são falsos, como as promessas do diabo, e cruéis, como a
morte e a sepultura.
Os enganadores de religião são os piores vermes, receio que eles abundem tanto como
ratos em um monte de trigo.
Eles são como um alfinete de prata Brilhantes por fora, mas enferrujados por
dentro.
Eles cobrem sua carne negra com plumas brancas. Os sábados e os domingos
operam uma diferença maravilhosa neles. Eles têm muito mais temor do ministro que de
Deus. Sua religião é a imitação dos religiosos; eles não têm nenhuma religiosidade
enraizada neles. Carregam o livro de hinos sacros do dr. Watts nos bolsos, enquanto
entoam uma canção estrondosa. Talvez seus paletós domingueiros sejam sua melhor
parte; quanto mais perto do coração deles você chega, mais emporcalhado fica. Eles
tagarelam como papagaios, mas seu modo de falar não combina com seu jeito de andar.
Muitos estão pescando fregueses, e falar um pouco de religião é uma propaganda barata;
se o assento na igreja ou a reunião custar uma ninharia, eles compensam depois. Eles
não adoram a Deus enquanto fazem negócio, mas eles negociam durante o culto de
adoração ao Senhor. Os da classe mais baixa vão à igreja pela sopa, pelo pão e pelos
cupons para carvão. Eles adoram a comunidade por causa do dinheiro das esmolas.
Algumas das queridas e velhas senhoras Goodbodies querem um asilo abençoado, por
isso, declaram ser tão abençoadas pelo abençoado ministro ou pastor a cada abençoado
domingo. A caridade favorece-as, se a fé não o faz; elas sabem de que lado está a
manteiga do pão.
Outros apresentam um espetáculo religioso decente para acalmar a própria consciência
que usam como um ungüento para suas feridas. Seria ótimo para eles, se pudessem
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satisfazer o paraíso com tanta facilidade como acalmam a si mesmos. Foi sorte
encontrar alguns que progrediram muito na profissão, e até onde pude constatar, apenas
pela alegria de pensar que estão em boa situação. Eles conseguiram um pequeno grupo
de amigos para acreditar em sua conversa barata e considerar tudo que dizem como
evangelho. A opinião deles é a verdadeira medida em relação à integridade do pregador
e poderiam resolver tudo com o próprio conhecimento, eles têm galões de conhecimento
para os que gostam de alguma coisa quente e forte; mas, meus queridos, se eles
tivessem apenas condescendência em mostrar também um pouco de prática cristã, como
a vida deles teria mais peso! Essas pessoas são como as corujas que tentam parecer
pássaros grandes, mas não são, apesar de terem penas, e elas parecem extremamente
inteligentes no crepúsculo, mas à luz do dia, são bem sem graça.
Os hipócritas de todos os tipos são abomináveis, e quem convive com eles se
arrepende. Quem tenta enganar o Senhor sempre está pronto para enganar seus
companheiros. Em geral, muito alarido significa pouca lã. Muitos fumeiros em que
esperamos encontrar bacon e presunto não têm nada de bom, apenas ganchos e fuligem
negra. Os moinhos de vento de alguns homens não passam de quebra-nozes, e seus
elefantes não são mais que leitãozinhos. Nem todos que vão à igreja, ou fazem uma
prece verdadeira, ou cantam mais alto são os que mais louvam a Deus, nem que os que
têm expressão mais ansiosa são os mais sinceros.
O que quer dizer que os animais devem ser hipócritas! Fale de doninhas-fétidas e
fuinhas, elas não são nada comparadas a eles. É melhor ser um cão morto que um
hipócrita vivo. Com certeza, para o diabo ver hipócritas fazendo seu joguinho é tão bom
quanto um jogo direto com ele; ele tenta os verdadeiros cristãos, mas deixa estes sós
porque são do seu time. Ele não precisa atirar contra os incapazes; seu cão pode comêlos
quando quiser.
Conte com isso, amigos, se uma linha reta não vale a pena, menos ainda uma
curva. O que se ganha com truques é perigoso. Ele pode proporcionar um momento de
paz para pôr a máscara, mas a fraude vem para casa com você e também traz tristeza. A
honestidade é a melhor política. Se não vestir a pele do leão, nem tente a da raposa. Seja
verdadeiro como o aço. Deixe que sua face e suas mãos sempre mostrem, como o
relógio da igreja, como vão suas obras interiores. É melhor que riam de você como do
Toninho, o Conta Verdade, que ser louvado como Charlie, o Astucioso. O
comportamento sincero pode nos causar problemas, mas é melhor que fazer truques. No
final, os justos terão sua recompensa; mas para o inconstante alcançar o céu é tão
impossível quanto um homem atravessar o oceano Atlântico com uma mó embaixo de
cada braço.
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Capítulo 19: Sugestões para prosperar
Trabalhar duro é o grande segredo do sucesso. Nada além de trapos e pobreza
pode vir da preguiça. Trabalhar em excesso é a única forma de se conseguir dinheiro.
Sem suor nada é fácil. Quem quiser ovos de corvo tem de subir na árvore. Atualmente,
todo mundo tem de construir a própria fortuna. As camisas com mangas enroladas são
feitas do melhor tecido; e quem não tem vergonha do avental, logo estará apto a
trabalhar sem ele. Conforme diz o pobre Ricardo: "A diligência é a mãe da sorte", e
João Lavrador completa: "A preguiça é o amortecedor do diabo". Acredite em dar um
passo de cada vez, não espere ficar rico de um salto.
Fazer a colheita com muita ganância Não ajuda o dinheiro a aumentar.
É melhor ir devagar com segurança que rápido e sem garantia. A perseverança,
com seus ganhos diários, enriquece um homem muito mais que os trancos e barrancos
da especulação auspiciosa. Peixes pequenos são saborosos. Como disse a porca
enquanto batia no mosquito, todo pequeno ajuda. Dia a dia, o fio faz uma meada em um
ano. As casas são construídas tijolo por tijolo. Nós engatinhamos antes de andar,
andamos antes de correr e corremos antes de cavalgar. Para ficar rico, a pressa é o pior
passo. A pressa passa rasteira em seu próprio calcanhar. Os escaladores ágeis sofrem
quedas súbitas.
É péssimo iniciar negócios sem capital. É difícil negociar com os bolsos vazios.
Nós queremos um ovo do ninho, pois as galinhas botam onde já há ovos. É verdade que
você deve cozinhar com a farinha que tem, mas se o saco estiver vazio não serve
também para montar uma padaria. Fazer tijolos sem barro é muito fácil se comparado a
fazer dinheiro quando não se tem nada para começar. Você, jovem rapaz, continue
como artífice mais um pouco até ter economizado algum dinheiro. Voe quando suas
asas tiverem penas; mas se tentar muito cedo, acontece-lhe o mesmo que à jovem gralha
que quebrou o pescoço tentando voar antes de estar emplumada. Todo peixe pequeno
aspira ser um tubarão, mas é prudente ser um peixe pequeno enquanto há pouca água,
quando seu tanque se transforma em um mar, aí então, você pode crescer o quanto
quiser. Negociar sem capital é como construir uma casa sem tijolos, fazer um fogo sem
gravetos, queimar vela sem pavio; leva os homens ao engano e os faz acabar em
dificuldade.
Não desista de um negócio pequeno até sentir que o maior pagará melhor. Até
mesmo as migalhas são pão.
É melhor para um pobre cavalo ficar em um estábulo vazio;
Enfim é melhor metade de um pão do que nada.
É melhor ter pouca mobília que uma casa vazia. Nesses tempos difíceis, o
melhor para quem pode se sentar em uma pedra e se alimentar é não se mexer. De mal a
pior não é um bom prognóstico. É difícil comer uma casca de pão, mas não ter nem isso
para comer é mais difícil ainda. Não adianta pular fora da frigideira e cair dentro do
fogo. Lembre-se, muitos homens se deram bem com lojas pequenas. Uma pequeno
negócio com lucro é melhor que uma grande preocupação com prejuízo; o fogo baixo
aquece você melhor que o fogaréu, que pode até virar incêndio. Pode-se obter uma
grande quantidade de água de um cano fino, se o balde estiver sempre lá para captá-la.
Lebres grandes podem ser capturadas em bosques pequenos. Uma ovelha pode ficar
gorda em uma campina pequena e morrer de fome em um grande deserto. Quem
empreende demais tem pouco sucesso. Duas lojas são como dois tocos, o homem vai
para o chão entre eles, você pode arrebentar a bolsa ao tentar enchê-la demais, e se
destruir pelo excesso de avidez.
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Em um grande rio encontramos bons peixes, mas tome muito cuidado para não
se afogar.
Faça o menos possível de mudanças; com freqüência, as árvores transplantadas
produzem poucos frutos. Se você tem dificuldades em um lugar, terá em outro; se você
se mudar por que é úmido no vale, pode achar que é frio na montanha. Aonde o asno
pode ir sem ter de trabalhar? Onde uma vaca pode morar sem ser ordenhada? Onde você
encontra terra sem pedras ou carne sem osso? Em todo lugar da terra, o homem deve
comer pão conseguido com o suor do rosto. O homem tem de ter asas de águia para
fugir da dificuldade. Mudança nem sempre significa benefício, como disse a pomba
quando saiu da rede e se viu na torta. Há um tempo certo para mudar, portanto é bom
você se apressar, pois uma galinha sentada não consegue milho. Mas não fique para
sempre na mudança, pois a pedra que rola não cria musgo. Quem se fixa é o vencedor.
Quem espera o tempo necessário vence. No fim, muita diversidade não leva a nada; mas
o homem chega em casa no tempo devido montado em um cavalo. As sementes crescem
no solo; os pássaros chocam seus ovos no ninho; o pão assa no forno; os peixes vivem
no rio.
Não se ponha acima dos seus negócios Virar o nariz para o seu trabalho é o mesmo que
discutir com seu pão e manteiga. Só um ferreiro ruim tem medo das faíscas que faz em
seu trabalho; há sempre algum desconforto em todas as atividades, mesmo para limpar
chaminés. A que situação chegaríamos se os marinheiros desistissem de ir para o mar
por causa da umidade, se os padeiros deixassem de assar pão por causa do calor, se os
lavradores não arassem por causa do frio ou os alfaiates não confeccionassem suas
roupas por medo de espetar os dedos! Besteira, meu caro companheiro, não há vergonha
nas ocupações honestas, não tenha medo de sujar as mãos, pois há muito sabão para
limpá-las. Todos os negócios são bons para bons negociantes. Um homem esperto pode
fazer dinheiro sem se sujar. Os jogos de Lúcifer pagam bem se você vender muitos
deles.
Nunca se preocupe com o mau cheiro - As moedas têm cheiro agradável.
Você não pode conseguir dinheiro se ficar assustado com as abelhas nem semear
milho se estiver com medo de sujar as botas de lama. Seria melhor se os cavalheiros
afetados emigrassem para a Terra dos Tolos, em que os homens conseguem seu meio de
vida usando botas brilhantes e luvas perfumadas de lavanda. Quando as barras de ferro
se derreterem sob o vento sul, quando você conseguir cavar campos com palitos de
dentes, movimentar navios com leques, adubar safras com água de lavanda e fazer
crescer bolo de ameixa em potes de flores, então haverá um tempo bom para os janotas;
mas até que o milênio chegue, temos muito para erigir e é melhor carregar nossas cargas
presentes que correr com precipitação para onde encontraremos problemas bem piores.
A palavra de ordem é: labuta. Todo mundo precisa remar com os remos que tem; e
como não pode escolher o vento precisa navegar do jeito que Deus manda. Com o
tempo, a paciência e a atenção trazem progresso. Se a gata esperar o suficiente no
buraco pega o rato. Por isso, sempre cresce repolho e alface de boa qualidade, enquanto
em alguns lugares crescem cardos. Sei, como lavrador, que é preciso subir e descer o
campo muitas vezes para arar um acre, não se vence o solo andando um quilômetro de
cada vez. O que ara nas nuvens vê varas e varetas surgirem no gramado, enquanto a
preguiça acena.
Tenha muito cuidado. A raposa leva as aves domésticas que dormem. Quem não
fica de tocaia não caça. Os tolos perguntam o que há com o relógio, mas os sábios
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sabem seu tempo. Moa enquanto o vento sopra ou não acuse a providência. Deus envia
a cada pássaro seu alimento, mas não o joga no ninho; ele nos dá o pão de cada dia, mas
por intermédio do nosso trabalho. Agarre o tempo pelos cabelos. Acorde cedo e pegue a
lagarta. A hora matinal vale ouro. Quem está no fim da fila leva toda a poeira nos olhos,
levante-se cedo e inicie bem seu dia.
Nunca tente negócios sujos para conseguir dinheiro. Não vale a pena lamber mel
de espinhos. Um homem honesto não se faz de cachorro só para conseguir um osso. É
difícil andar no gelo da tentação; o passeio de patins atrai, mas termina com uma queda
forte ou coisa pior. Quem come no mesmo prato que o diabo precisa ter uma colher
longa. Nunca se arruíne em função de dinheiro; pois é o mesmo que se afogar em um
poço para beber um gole de água. Não leve nada na mão de que possa se arrepender. É
melhor caminhar descalço do que ir de carruagem para o inferno; é melhor que o
pássaro morra de fome do que engorde com a saliva; é melhor para o rato conseguir
pouco mordiscando o queijo do que ser pego na ratoeira. Dinheiro limpo ou nada – pois
dinheiro ganho da forma errada é uma perda sem retorno.
Um bom artigo, com peso certo e um preço justo, traz compradores para a loja,
mas as pessoas não recomendam a loja em que são enganadas. Os trapaceiros nunca
prosperam ou se conseguem deve ser em Londres onde têm a oportunidade de conseguir
compradores à custa de quem possam viver. Às vezes, o arqueiro acerta o alvo à
distância, mas um lance certeiro é o melhor. A bolsa do enganador está cheia de buracos
O que usa sapatos roubados fica com bolhas nos pés. Os que têm os dedos ardilosos
encontram outras coisas pegajosas além da prata. Roube enguias, e elas se transformam
em cobras. Quanto mais uma raposa roubar, mais cedo será caçada. Se um trapaceiro
quisesse fazer um bom negócio, seria bom se tivesse um irmão gêmeo honesto. Se tudo
que você almeja é lucro, ainda assim negocie honestamente, pois é a melhor forma de
jogar.
Olhe mais para os seus gastos. Se sair mais do que entra, você será sempre
pobre. A arte não reside em fazer dinheiro, mas em mantê-lo; as pequenas despesas são
como ratos em um celeiro, causam muito prejuízo em grandes quantidades. A cabeça
fica careca fio por fio; a cabana fica sem sapé palha a palha; e a chuva entra no quarto
gota a gota. O barril esvazia logo, se a torneira vazar não mais que uma gota por minuto.
Os frangos são depenados pena a pena, se a criada persistir na tarefa. Pequenos ácaros
comem o queijo; pequenos pássaros destroem uma grande quantidade de trigo. Quando
você quiser economizar comece pela boca; há muitos ladrões na alameda dos bares. A
garrafa de cerveja faz você esbanjar muito. Em todas as coisas, mantenha-se dentro dos
limites. Quanto às roupas, escolha as confortáveis e de tecido durável, não as enfeitadas
e espalhafatosas. Estar aquecido é o mais importante; nunca se importe apenas com a
aparência. Nunca estique suas pernas além do que seu coberto pode cobrir ou logo você
se resfria. Qualquer tolo pode conseguir dinheiro, mas é preciso ser sábio para gastá-lo.
Lembre-se que é mais fácil construir duas chaminés que manter uma funcionando. Se
gastarmos tudo na sala e na mesa não sobra nada para a poupança. Se você se esforça e
trabalha duro enquanto é jovem poderá repousar quando ficar velho.
Nunca seja indulgente com a extravagância a não ser que queira pegar um atalho
para o asilo. O dinheiro tem asas próprias, e se encontrar outro par de asas não tente
saber se voam rápido.
Quem tiver e não mantiver;
Quem quiser e não procurar;
Quem beber e não estiver com sede,
Vai querer dinheiro tanto quanto eu.
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Se nosso povo apenas visse a quantia de dinheiro que joga fora em bebida
ficaria de cabelo em pé com o susto. Por que ele engole rios de cerveja, mares de
cerveja preta e lagos enormes de bebidas alcoólicas e outras aguardentes? Todos nos
vestiríamos como cavalheiros e viveríamos como galos de briga se gastássemos em
bebida alcoólica com sensatez. Precisaríamos nos levantar mais cedo para gastar todo
nosso dinheiro, pois nos veríamos, de repente, quase como ricos apenas por estancar o
gotejar da torneira. De qualquer forma, vocês jovens, que desejam subir no mundo,
devem ganhar pontos derrubando metade de suas canecas e pondo na cabeça que as
bebidas alcoólicas jamais podem tomar conta de vocês. Tenham seus luxos, se
quiserem, depois que tiverem feito fortuna, mas apenas depois disso procurem seu pão e
seu queijo. Espero que me perdoem por tecer esse longo fio, mas comecei a puxar, e ele
veio. Minha conversa parece a corda do irlandês que o impedia de entrar no navio
porque alguém tinha cortado a parte final. Apenas gostaria de dizer que não sejam
gananciosos, pois a cobiça é sempre pobre; esforcem-se para ir em frente, pois a
pobreza não é virtude, e subir no mundo traz crédito para o homem, além de conforto.
Ganhem tudo o que conseguirem economizar e, depois, dêem tudo que puderem dar.
Nunca tentem economizar com a causa de Deus; tal dinheiro macula o resto. Quando se
dá para Deus não há perda; é como pôr sua essência no melhor banco. Na verdade, dar é
ter, como está escrito na lápide antiga: "O que gastei, eu tive; o que economizei, perdi; o
que dei, eu tenho". O bolso do pobre é um cofre seguro, sempre é um bom investimento
emprestar ao Senhor. João Lavrador deseja vida longa e prosperidade para todos os
jovens.
O suficiente em prosperidade
Saúde abundante,
Longos anos de contentamento,
E quando a vida tiver passado,
Uma mansão na glória de Deus.
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Capítulo 20: Exagero
A arte de exagerar a verdade é muito comum hoje. Ouve-se dizer que as
groselhas pesam o dobro do que pesam, e as chuvas de sapos, que nunca são vistas,
caem regularmente quando os jornais estão sem notícias. Se o ruído da carroça que
passa na rua racha a tampa da chaleira da velha senhora, dirão que ela que um terremoto
causou isso. Afinal, as idéias agradáveis não são tão raras. Certas pessoas estão sempre
à procura de milagres; e se não os encontram, elas os inventam. Vêem cometas todas as
noites e ouvem algum conto raro todos os dias. Todos os seus moinhos de vento são
montanhas. Todos seus patos são cisnes. Aprenderam a tabuada de multiplicar e a usam
livremente. Se vêem seis cães juntos juram que viram uma centena de cães de caça; é
verdade que ficam vermelhas como peru se alguém se mostra um pouco desconfiado.
Em breve, persuadirão a si mesmos que viram dez mil leões, pois para elas tudo cresce
tão rápido quanto os cogumelos e é tão grande quanto a Box Hill.
Todas as coisas à volta delas são maravilhosas, mas ninguém é bom o suficiente para
limpar suas botas. Elas são a flor da criação. São fortes como Sansão e podem enfrentar
o time de João Lavrador – só não tentam isso por medo de machucar os cavalos. Sua
prosperidade é imensa; poderiam pagar a dívida nacional, só que têm boas razões para
não fazer isso agora. Se conservarem o negócio, girarão muitos milhões em um ano,
mas, no fim, só continuam no negócio por causa dos vizinhos. Vendem os melhores
produtos pelo preço mais baixo, na realidade, abaixo do preço de custo. Ninguém no
condado está apto a segurar um candelabro para eles; seu negócio é o galo do terreiro e
o rei do pedaço. Se eles se apropriam de uma fazenda é apenas por diversão e para
mostrar aos pobres e ignorantes nativos como se faz isso. Todos seus atos são milagres!
Como a aparição da besta selvagem que apareceu em nossa aldeia outro dia, eles são
únicos, originais e sem rivais! Contudo, eles são embusteiros totalmente inativos como
a ocupação agradável deles; o melhor de tudo ficou fora de vista, e o mesmo acontece
com eles. Meu Deus, como eles contam vantagem. Ouça-os conversando. Sempre em
letras maiúsculas e com pontos de admiração. "Você já viu UM CAVALO ASSIM?
Porque, senhor, ele seria capaz de vencer o vento! AQUELA VACA, — deixe-me
chamar sua atenção para ela. Não há nenhuma parecida na aldeia; PRESTE ATENÇÃO
NO MOVIMENTO DE SUA CAUDA! Sim senhor, AQUELE MEU FILHO É MUITO
INTELIGENTE, está muito acima da idade. Ele é um VERDADEIRO PRODÍGIO!
Você disse como o pai? Observação muito gentil, senhor, mas há muito de verdade
nisso, apesar de eu mesmo dizer que o camarada tem de levantar cedo para me vencer!
SOU UM, MAS VALHO POR MUITOS! Basta olhar a fazenda, senhor, já viu alguma
PLANTAÇÃO DE NABOS COMO ESSA? Um inseto na folha? De forma alguma,
senhor, isso deve-se ao fato de ser uma espécie de NABO MUITO RARA, as folhas
ventiladas são furadas pela natureza para deixar o ar entrar e sair! O senhor disse muitas
toupeiras? Ah! Há um conto sobre isso. Saiba que NOSSAS TOUPEIRAS têm uma
GRANDE PECULIARIDADE: elas fazem montículos de terra maiores do que
quaisquer outras toupeiras da Inglaterra e supõe-se que sejam de uma excelente e antiga
espécie inglesa já extinta. O senhor observou que CARDO MARAVILHOSO? Não é
uma espécie rara? O suficiente para fazer um escocês morrer de alegria. Isso mostra a
EXTRAORDINÁRIA riqueza do solo; e senhor, com certeza, A COLHEITA DE
TRIGO DOS ÚLTIMOS ANOS FOI TÃO ASSOMBROSAMENTE FARTA que
pensei que não teríamos espaço para ela, quase arrebentou os carroções; metade da
aldeia veio para ver a debulha, o homem mais velho da igreja disse que nunca ouviu
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falar de uma coisa igual. A INVENÇÃO DO VAPOR FOI UMA BÊNÇÃO, POIS
JAMAIS CONSEGUIRÍAMOS DEBULHAR TUDO A MÃO".
O homem que fala desse jeito, independentemente do instrumento que toque, fala da
forma mais bonita, interessante e maravilhosa do reino ou da mais horrível, tenebrosa e
assustadora do mundo. Suas botas não serviriam para Golias, mas sua língua é muito
grande para a boca do gigante. Ele pinta com a palha do milho. Ele sempre exagera em
tudo. Não existe nada igual a seu cavalo, seu cachorro, seu revólver, sua esposa, seu
filho, seu canto, seus planos; ele é a viga mestra da igreja; ele vive como o número um;
e seria difícil encontrar um homem que ele conseguisse considerar como o número dois.
A água que sai do seu poço é mais forte que vinho, seu poço está cheio de sopa de
ervilha; sua árvore de groselha dá uvas; você poderia morar em uma de suas abóboras; e
suas flores – bem, seria difícil a própria rainha ter um gerânio igual àquele, o dele é o
mais belo de todos! O maior milagre é que homens com esse caráter não percebem que
todo mundo ri deles, eles ficam cegos. Todo mundo vê o fundo do prato deles, mesmo
assim, eles o chamam de oceano como se apenas lidassem com linguados. Conheci
homens que escancaravam a boca como as portas de um celeiro gabando-se sobre o que
teriam feito se estivessem no lugar de outra pessoa. Se estivessem no Parlamento
aboliriam os impostos, transformariam asilos em palácios, fariam as sondas correr com
cerveja e poriam fogo no Thames; mas tudo isso depende de um se, e esse se é um tipo
de portão de cinco travas que eles nunca venceram. Se o céu desabar, nos divertiremos.
Se o João Fanfarrão não fizesse mais nada além de segurar as rédeas, os cavalos
voariam até a lua. O se é interessante, quando um homem pula em suas costas, ele o
carrega para mundos que nunca foram criados fazendo-o ver milagres que nunca foram
escritos. Com um se você pode pôr toda a cidade de Londres dentro de um quarto de
pote.
Se todos os mares fossem um só,
Que mar imenso ele seria!
E se todas as árvores fossem uma só
Que árvore enorme ela seria!
E se todos os machados fossem um só,
Que machado imenso ele seria!
E se todos os homens fossem um só
Que homem imenso ele seria!
E se o homem imenso pegasse o machado grande
E cortasse a árvore enorme e a derrubasse
No imenso mar, que espirro seria!
"Que besteira!", diz alguém; João Lavrador também pensa assim e, por essa
razão, considera isso um tipo de estupidez de que os exagerados gostam muito. Isso não
representa nem metade da estupidez de nove entre dez de suas grandes bobagens.
Veja o que alguns desses camaradas dizem que fizeram! Agora, você acredita nisso? (eu
não acreditaria). Rapidamente, eles fizeram suas fortunas e a de outras pessoas também.
O conselho deles encheu a mala de muitos com ouro. O que diziam na reunião prendia
as pessoas nas cadeiras como se tivessem cola de sapateiro. Em uma disputa eleitoral
em que seu partido estava quase derrotado, ele aniquilou rapidamente a oposição com
um ataque calculado hábil e inteligente. O rei Salomão era ingênuo se comparado a ele.
Fez o mesmo com a religião, foi quem deu início à atividade religiosa na igreja; tudo
começou com seu esforço maravilhoso. Ele botou o ovo de ouro. O povo não é
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agradecido ou praticamente o adoraria; é vergonhoso como foi negligenciado e,
ultimamente, até mesmo afastado pelas mesmas pessoas que ajudou. Enquanto ele
participava da reunião tudo corria bem; mas agora que não participa mais dizem que
tem um parafuso a menos, e os que viverem mais verão mais. Quando está com uma
veia de modéstia empresta as palavras de David e diz: "Quando treme a terra com todos
os seus habitantes, sou eu que mantenho firmes as suas colunas". Pensa que sua morte
encheria o mundo de ossos. Se ele tirar a clientela dos concorrentes, provavelmente as
pessoas fechariam suas lojas de imediato, e é apenas pelo seu descaramento que espera
conseguir um meio de vida depois que tais fregueses se forem. É até agradável ouvi-los
quando ficam um pouco orgulhosos de seus grandes feitos. Mas por falar em tocar a
trombeta para si mesmo — ele tem uma banda completa, com tambor e tudo mais, e
mantém todos os instrumentos na mais perfeita ordem para seu próprio louvor e glória.
Prefiro arar o dia todo ou ficar na estrada com a carroça toda a noite quando o frio
congela até nossos cílios do que ouvir esses grandes oradores; eles me deixam muito
enjoado. Prefiro ficar sem comer até ficar tão magro como couro curtido do que comer o
melhor peru, jamais servido em uma mesa, e ouvir conversa horrível deles durante todo
o jantar. Eles falam de forma tão exagerada e aumentam tanto tudo que não acreditamos
neles quando acidentalmente escorregam em uma ou duas palavras de verdade; por isso,
você está certo em pensar que até mesmo o queijo deles pode ser falso. Eles são grandes
mentirosos, mas dificilmente têm consciência disso; eles falam para si mesmos e
acreditam em suas palavras bombásticas. O sapo acredita que é grande como a vaca e
começa a estufar para parecer verdadeiro; eles aumentam como o sapo e arrebentarão
como ele se não se derem conta disso. Todo mundo sabe que precisa tomar cuidado com
esses grandes oradores.
Eu disse para mim mesmo, aqui está uma lição para mim,
Este homem é um retrato do que eu poderia ser.
Precisamos dizer toda a verdade, a verdade e nada além da verdade. Se
começamos a dizer que 90 centímetros é um metro continuamos até dizer que um
centímetro equivale a 4 ou 20 metros. Se chamarmos um novilho de vaca, um dia
chamaremos um esquilo de boi. Uma vez que exageramos em tudo, podemos ficar em
dúvida entre uma ovelha e um cordeiro; se você se desvia do caminho da verdade,
nenhuma conversa o leva a lugar algum. Quem conta pequenas mentiras, logo contará
grandes, pois o princípio é o mesmo. Onde há um buraco de rato, logo haverá um rato, e
o gatinho logo vira um gato. A chuva pode ser parca, mas existe; uma pequena mentira
leva a um aguaceiro de mentiras.
O louvor de si mesmo não é recomendável. O louvor de um homem tem aroma doce
quando vem da boca de outros homens, mas cheira mal quando vem da boca dele
mesmo. Cultive suas cerejas, mas não cante louvores para si mesmo.
Os exibidos não valem um caracol. A língua comprida mostra uma mão pequena. Os
grandes oradores são pequenos realizadores. Cães que latem muito fogem quando chega
a hora de morder. O porco mais magro guincha mais. Não é a galinha que cacareja mais
a que põe mais ovos. Dizer e fazer são duas coisas diferentes. É a vaca estéril que muge.
Pode haver um grande ruído de debulhar onde não há trigo. A grande ostentação se
iguala à pequena zombaria. Muita espuma significa pouca cerveja. Os tambores emitem
um som baixo porque não há nada neles. Os homens bons conhecem-se muito bem para
precisar cantar louvores a si mesmos. Barcaças sem carga flutuam alto no canal, mas
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quanto mais cheias estão, mais afundam. O queijo de qualidade se vende sem
publicidade; um bom vinho não precisa de recomendação; e os homens quando são
realmente excelentes, as pessoas descobrem sem que ninguém conte. O orgulho é o
sinal da loucura. Um zurro alto revela um asno. Se um homem é ignorante e segura a
língua, ninguém o despreza; mas se ele tagarela com a cabeça vazia e com uma língua
que faz o alarde de quarenta escreve seu nome em letras maiúsculas: L O U C O.
Da mesma forma que "o asno é conhecido pelas orelhas", também é verdade o que o
sacerdote prega e o antigo provérbio afirma: "Conhece-se o homem por sua fala".
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Capítulo 21: Coisas que eu não escolheria
Se não fizesse diferença para as outras pessoas eu poderia fazer as coisas
exatamente como gosto e não escolheria que meu livro fosse despedaçado por
camaradas que não tiveram a honestidade de ler o material, mas de antemão imaginaram
o conteúdo do livro, como fez o Simão Simplório quando participou de um júri.
Entretanto, como disse o rinoceronte: "Eu não tenho uma pele muito fina; e se os outros
se divertem procurando o que dizer a meu respeito; eles são bem-vindos e livres para
fazer isso". A bigorna nunca teve medo do martelo. Os editores de Londres disseram-me
para abrir uma página do livro, cheirá-la e começar a louvar o livro acima dos céus ou a
maltratá-lo sem piedade, da mesma forma que a larva o devora. João Lavrador espera
que o editor vire essa página do livro quando enviá-lo para os jornais e espera que as
seguintes palavras sejam suficientes para os sábios: "Espero que minhas pérolas não
caiam na boca dos porcos". Se puder escolher, não quero trazer para casa um pedaço de
manteiga embrulhado em seis páginas do livro da próxima vez que for ao mercado,
contudo não é improvável que isso aconteça, assim, preciso tolerar isso, como fez Tom
Higgs quando tinha apenas peru e pudim de ameixa para jantar.
Eu não escolheria arar com dois cavalos velhos abobados, sem fôlego e cansados para o
trabalho, piedade para os pobres cavalos, piedade para o pobre lavrador e nada de
piedade para o fazendeiro que mantém um gado tão miserável. Quando vejo um homem
chicoteando e açoitando um pobre cavalo como se fosse uma besta, tenho vontade de
chutá-lo, mas, ao mesmo tempo, sinto alegria, pois a Violeta e o Garboso se saem bem
sem o som do chicote e sem precisar, como os advogados, ser pagos por tudo o que
fazem. Um homem que judia de um cavalo deveria ser preso em um arreio e cavalgado
por um sanguinário. Consegue-se muito dos animais com delicadeza, não com
crueldade. Quem não tem pena do seu animal é mais irracional que o próprio animal. Eu
não escolheria um capuz de rabo curto no verão, nem uma empregada com um monte de
amos, nem um ministro com meia dúzia de tiranos ignorantes como diáconos, nem um
homem que vive com sua sogra. Nem gostaria de tentar a verdade deste velho ditado:
Dois gatos e um rato,
Duas mulheres em uma casa,
Dois cachorros e um osso,
Não se entendem por muito tempo.
Eu não gostaria de ser um cão com uma chaleira de estanho amarrada no rabo,
nem de ser a minhoca no anzol do pescador, nem a enguia escaldada viva, nem mesmo
o marido que tem uma megera como esposa, eu preferiria não cair nas mandíbulas de
um jacaré ou nas mãos de um advogado; o único processo que demora muito é o
processo judicial, e isso jamais estará bom para mim. Eu não escolheria ser bisbilhotado
até a morte por lavadeiras grosseiras ou importunado por um vendedor ambulante
querendo que eu comprasse por seis moedas fascículos de um livro que continuará a ser
editado para sempre, assim como os débitos do velho Jimmy.
Eu teria muita dificuldade em me levantar se escolhesse dormir com porcos ou viver na
casa de algumas pessoas sem higiene. Eu não escolheria ter nem metade das cabanas
feitas para trabalhadores pobres para morar; nenhum fazendeiro seria tão desprezível a
ponto de manter seus cavalos nelas, e elas não seriam suficientemente boas nem para
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servir de canil para cães. Pensem em um pai, uma mãe, um filho adulto e duas filhas
dormindo no mesmo quarto! É uma humilhação que envergonha e um pecado notório
por parte daqueles que levam as pessoas a tais situações. Eu não agüento ter
conhecimento disso, mas ocorre com muita freqüência. Como os nobres rurais e os
donos de terras aceitam isso? Se qualquer homem defende esse sistema é uma ótima
idéia deixá-lo pendurado por meia hora.
Eu não escolheria ser empregado de um avarento, trabalhar para um rabugento, ser pau
mandado de um macaco ou bajulador de um senhor sem cérebro. Eu também não
escolheria ir para um asilo ou me candidatar ao serviço de assistência da igreja; antes,
eu tentaria a doação de sopa de aveia de Grantham, nove grãos em um galão de água.
Eu não passaria o chapéu para encher meu bolso, nem emprestaria dinheiro, nem seria
um vadio, nem viveria debaixo do ancinho como um sapo — não, nem por tudo que
sempre escorre da fria mão da caridade.
Mau como sou não escolheria mudar, a não ser que pudesse melhorar a mim mesmo.
Quem para sair da chuva ficaria embaixo do esguicho? Qual a utilidade de viajar para o
outro lado do mundo para ser pior ainda do que já é? A velha Inglaterra para mim, e a
baía Botany para os que gostam de mudar.
Eu não escolheria montar em um porco, nem manejar um pangaré, nem tentar persuadir
um homem tolo; não gostaria de ser um mestre em uma escola com meninos rebeldes,
nem um touro mordido por cães, nem uma galinha que chocou patos. Pior ainda ser um
pregador que provoca sono nos ouvintes; ele caça com cães mortos e monta em cavalo
de madeira. Dessa forma, trabalharia tanto para porcos dorminhocos como para homens
adormecidos.
Eu não compraria um cavalo de um negociante se pudesse comprá-lo de dois ou três
negociantes honestos de que ninguém nunca ouviu falar. Um vendedor de cavalos muito
honesto nunca o trapaceia se você não permitir; já um desonesto arranca seu dente
canino, mesmo se sua boca estiver fechada. Os cavalos são quase tão difíceis de julgar
como o coração humano; as mãos mais experientes se enganam com eles. Ossos
destrambelhados, doenças nos ossos e fraturas, doença de graxa, sarna e excrescência,
escoriações grosseiras que viram cancros, cólica e icterícia, fraturas e aguamento nas
pernas traseiras e dianteiras, dificilmente há um cavalo são neste mundo. Afinal trocar
cavalos não é uma coisa boa. Se você tiver um bom, mantenha-o, pois você nunca
consegue um melhor; se você tem um que não é bom, mantenha-o, pois você tem uma
chance em dez de comprar outro melhor.
Eu não escolheria me transformar em um capacho, nem em um cão de água, nem em um
camarada que come lodo a fim de lisonjear pessoas importantes. Esqueça quem diz
mentiras para agradar os outros. Eu prefiro ter a verdade do meu lado, mesmo que tenha
de andar descalço. Independência e consciência limpa com repolho frio é melhor que
escravidão com carne assada.
Eu não gostaria de manter um pedágio no topo de uma montanha alta, ou ser um coletor
de impostos, ou um oficial de justiça, ou um incomodo geral, ou um pobre carteiro com
metade do necessário para viver e duas vezes mais para fazer do que deveria; seria
melhor ser um cavalo cigano e viver em um lugar comum com fartura de porretes de
carvalho, e sem feno e sem aveia.
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Eu não escolheria ser depenado como um ganso, nem ser acionista em uma empresa,
uma forma de ser frito vivo; nem de estar sob a misericórdia de um padre católico
romano. Eu não seria o padrinho do filho de alguém para prometer que o pequeno
pecador seguirá os sagrados mandamentos de Deus e andará segundo os mesmos todos
os dias de sua vida. Antes, eu preferiria prometer pôr a lua na manga do meu paletó e
trazê-la de volta na perna das minhas calças ou fazer votos para que o queridinho venha
a ter cabelos vermelhos e nariz arrebitado. Nem diria mentiras sobre meu filho na
esperança de, pela cegueira do pároco, conseguir cobertores que são doados na época do
Natal.
Não escolheria ir a um lugar em que ficasse com medo de morrer, nem poderia tolerar
viver sem uma boa esperança para o futuro. Eu não escolheria sentar sobre um barril de
pólvora fumando um cachimbo, mas isso é o que fazem os que não pensam em sua
alma, quando a vida é tão incerta. Não escolheria meu destino na terra, mas o deixaria
que Deus para que escolhesse para mim. Eu poderia colher e escolher ficar com o pior,
mas a escolha dele é sempre a melhor.
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Capítulo 22: Tentar
Dentre todas as belas canções que já ouvi em minha juventude, esta é uma das
que mais gosto:
Se você não tiver êxito,
Tente, tente, tente de novo.
Eu recomendo isso para adultos que estão desanimados e imaginando que a
melhor coisa que podem fazer é desistir. Ninguém sabe do que é capaz até tentar.
Quando terminaram de fazer o pudim, o Joãozinho disse para o Henrique: "Agora,
terminamos a tarefa". Toda tarefa nova é sempre difícil, mas um pouco do ungüento
TENTAR esfregado na mão e trabalhado no coração faz com que todas as coisas fiquem
fáceis.
O não posso fazer atola na lama, mas o tentar rapidamente desatola a carroça. A raposa
disse para si mesma: Tente, e fugiu dos cães de caça quando quase a abocanharam. As
abelhas disseram: "Tente", e transformaram flores em mel. O esquilo disse: "Tente" e
pulou para o topo da faia. O narciso disse: "Tente", e floresceu nas neves frias do
inverno. O sol disse: "Tente", e a primavera logo atirou o Joãozinho Gelado da sela. A
jovem cotovia disse: "Tente", e descobriu que suas novas asas a levaram acima das
cercas e dos fossos e para o alto, onde seu pai cantava. O boi disse: "Tente", e arou o
campo de um lado ao outro. Nenhuma montanha é muito escarpada para o Tente subir,
nenhuma terra é muito dura para o Tente arar, nenhum campo é muito encharcado para
o Tente drenar, nenhum buraco é muito grande para o Tente fechar.
Com pequenos golpes
O homem derrubou grandes carvalhos.
Com um golpe de pá de cada vez, os trabalhadores cavaram a passagem,
abriram um buraco grande na montanha e fizeram o canal.
A pedra é dura, e o pingo pequeno, mas a queda constante fura a pedra.
O que o homem fez, o homem pode fazer; e o que ele nunca fez, poderá ser
feito. Lavradores se transformam em cavalheiros, sapateiros transformam suas pedras de
bater couro em ouro, e alfaiates florescem como membros do Parlamento. Vocês, jovens
cheios de esperança, arregacem as mangas de suas camisas e comecem a trabalhar.
Onde há um desejo, há um caminho. O sol brilha para todo mundo. Acreditem em Deus,
agarrem-se ao trabalho árduo e verão que as montanhas são removidas. Um coração
tímido nunca conquista uma mulher formosa. Alegria, jovens, alegria, Deus ajuda os
que se ajudam. Não brinquem com a sorte – isso foi o que aconteceu com o tolo quando
se matou comendo pudim de sebo; o melhor remédio para todas as feridas é óleo
medicinal e emplastro adesivo.
Não espere os ajudantes. Usem seus braços fortes que são amigos antigos. O
próprio homem. Se a raposa quiser aves para seus filhotes, ela mesma tem de matar as
galinhas. Nenhum de seus artifícios pode ajudar a lebre, ela precisa correr por si mesma,
ou os cães de caça cinzentos a caçam. Cada homem precisa carregar sua saca grão até o
moinho. Você precisa pôr o ombro na roda e mantê-lo lá porque há muitos sulcos na
estrada. Se você esperar até que todas as estradas estejam pavimentadas, morrerá antes
de fazer o que deve. Se sentar à espera de que os grandes homens o carreguem nas
costas, você não sai do lugar. Suas próprias pernas são melhores que pernas de pau; não
olhe para os outros, mas confie em Deus e mantenha sua pólvora seca.
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Não fique lamentando por não ter um bom começo. Se você atirar um homem
sensato pela janela, ele vai em pé e pergunta qual o caminho mais próximo para seu
trabalho. Quanto mais você tiver no começo, menos você terá no final. O dinheiro que
você ganha por si mesmo é mais brilhante e mais doce do que o que você consegue da
mala de homens mortos. Um café da manhã escasso estimula o apetite para a festa no
fim do dia. Quem come uma maçã azeda deleita-se mais com uma doce; sua vontade
atual torna a prosperidade futura mais fácil. Com dezoito centavos muitos mascates
fundaram negócios e os mantiveram até terem carruagem.
Não ache defeitos no lugar em que vive. Você precisa ser um cavalo só porque nasceu
em um estábulo? Se um homem é arremessado para o alto por um touro, qualquer lugar
em que caia é bom. Um trabalhador jovem, esforçado e habilidoso faz dinheiro onde
outros nada fariam além de perder dinheiro.
Quem ama seu trabalho e sabe poupar,
Vive e floresce em qualquer lugar.
Quem espera encontrar cerejas sem pedras ou rosas sem espinhos? O mesmo
acontece com as pequenas dificuldades. O que pode vencer deve aprender a tolerar. A
preguiça fica na cama com síndrome de insatisfação permanente, enquanto a diligência
consegue saúde e prosperidade. O cão late no canil por causa das pulgas, já os cães de
caça nem toma conhecimento delas. A preguiça espera o rio secar e nunca vai ao
mercado; tente atravessá-lo a nado e fazer todos os negócios. O não posso fazer não
conseguiu comer o pão com manteiga que foi cortado para ele, mas o Tente conseguiu
extrair carne de cogumelos.
Todos os que não progridem põem a culpa na competição. Quando o vinho é
roubado dizem que foram os ratos; é muito conveniente ter um cavalo em quem pôr o
arreio. Um rato encontra qualquer buraco, por isso, é bom que a sala esteja sempre
totalmente cheia de gatos. Os bons trabalhadores são sempre requisitados. Há sempre
uma moeda para ser trocada na pior barraca da feira. Nenhum barbeiro é perfeito,
sempre outro barbeiro vai encontrar algo que ficou bom. Nada é tão bom, exceto aquilo
que poderia ser melhor; e quem vende o melhor vence a negociação. Os adivinhos de
bares nos têm dito que todos nos aposentaremos por causa das novas máquinas. Em vez
disso, essas máquinas de debulhar, e colher, e de fazer feno ajudaram a tornar esses
homens melhores do que os que tiveram sagacidade suficiente para imaginá-las. Se, ao
arar, um homem não tiver uma alma superior continuará pobre; mas se ele abrir os olhos
e aprender um pouco aqui e ali, até o mais inexperiente melhora. Dizem que hoje as
coisas estão difíceis; estão mesmo, e se vocês ficarem boquiabertos com isso e
começaram a devanear, os tempos sempre serão ruins.
Muitos não progridem porque não têm coragem de começar com seriedade. O
valor da nata repousa na dificuldade em consegui-la. O golpe rápido é metade da
batalha. Abaixe esse jarro de cerveja, levante a bandeira do Tente, depois, saia para o
seu trabalho, fique longe dos bancos de financiamento, e, então, você será um homem.
Homens pobres serão sempre pobres se pensarem que deve ser assim. Mas sempre há
um meio de sair da pior pobreza se o homem procurar logo por ele, antes de ter uma
esposa e meia dúzia de filhos; depois disso, ele carrega muito peso para a corrida e, com
freqüência, tem de se contentar em conseguir pão para as bocas famintas e roupas para
os pequenos ombros. Até agora não sei porque algumas galinhas ciscam para ter um
grande número de pintinhos. Para os jovens a estrada em direção ao topo do morro pode
ser difícil, mas de qualquer forma ela está aberta a todos. Contudo, os que mantêm
ânimo firme contra a cerveja ainda têm uma ladeira íngreme à frente. O que foi difícil
de fazer deixa uma lembrança doce. Se os jovens conseguirem negar a si mesmos,
Pag.73
trabalhar duro, viver com dificuldade e desfrutar sua juventude; eles não têm de ser
lapidados arduamente a vida toda como muitos. Deixe que sejam abstêmios por amor à
economia; a água é a bebida que dá mais força, ela move moinhos, é a bebida dos leões
e dos cavalos, e Sansão nunca bebeu outra coisa. Em pouco tempo constrói-se uma casa
com o dinheiro da cerveja.
Se você quiser fazer bem no mundo a palavrinha "Tentar" aparece de novo. Há
muitas formas de servir a Deus e algumas que se ajustam a você como a chave no
cadeado. Não se detenha porque você não pode pregar na igreja de São Paulo; fique
feliz por falar para uma ou duas pessoas em sua aldeia. O trigo de boa qualidade
também cresce em campos pequenos. Você pode cozinhar em panelas pequenas e
também em grandes. Pequenas pombas podem carregar grandes mensagens. Mesmo um
cão pequeno late para o ladrão, acorda o dono e salva a casa. Uma fagulha também é
fogo. Uma frase da verdade contém o paraíso. Faça o que fizer totalmente certo, ore
para isso com sinceridade e entregue o resultado para Deus.
Pena! Muitas desprezam o conselho, como a boa semente em uma rocha dura.
Você pode ensinar uma vaca por sete anos, mas ela nunca aprenderá a cantar um hino.
Em relação a muitas pessoas parece verdade que quando nasceram, Salomão passou
pela porta, mas não entrou. O brasão deles é um boné de bobo sobre a cabeça de um
burro. Eles dormem quando é hora de arar, e choram quando chega a época da colheita.
Eles comem todas as cenouras no jantar e se perguntam se sobrou alguma coisa para o
café da manhã. Nossos trabalhadores são vergonhosamente esbanjadores, e, por isso, a
velha Inglaterra se enche de pobres. Se o que vêem ao luar estivesse no cocho, as
famílias seriam mais bem alimentadas e orientadas. Se o que é gasto em desperdício
fosse economizado para os dias de chuva, não haveria necessidade de asilos.
Se todo homem dissesse tente, pelo menos uma vez,
Muito poucos se deitariam na palha,
Menos ainda morreriam por causa da escassez;
E todas as frigideiras teriam peixe;
Os porcos encheriam os chiqueiros dos pobres;
A miséria cessaria e a necessidade voaria;
Esposas e crianças parariam de chorar;
Os preços não aumentariam tanto-
As coisas não se desviariam tanto-
Você ficaria satisfeito, e eu também.
Capítulo 23: Monumentos
Todo homem deveria deixar um marco na memória de seus vizinhos. Deve haver
algo muito errado com o homem de quem ninguém sente falta quando morre. Uma
personalidade digna é a melhor lápide. Os que o amaram e foram ajudados por você
ainda lembrar-se-ão de você quando as lápides se apagarem. Esculpa seu nome no
coração das pessoas, não no mármore. Portanto, viva para os outros, e eles manterão sua
lembrança viva quando o mato crescer em seu túmulo. Esperemos que haja algo melhor
a ser dito de nós do que este epitáfio:
Aqui jaz um homem que não fez nada de bom,
E não faria se continuasse vivo;
Para onde ele foi e como vive
Ninguém sabe nem se importa em saber.
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Que nossos amigos não possam jamais lembrar-se de nós apenas como um
grande glutão em cuja lápide está escrito:
Gentil leitor, gentil leitor,
Olhe para o local em que repouso,
Sempre fui um comilão,
Mas agora são os vermes que me comem.
Poderíamos dizer o mesmo, como prêmio, a um porco ou a um boi gordo que
morresse de doença. Alguns homens não são em nada melhores que abelhas que
passeiam pelos barris; quando a morte fura o barril, eles merecem apodrecer sem
atenção.
Seja como for é melhor uma lápide com dizeres simples que com uma mentira evidente.
Escrever elogios em uma lápide é o mesmo que despejar manteiga derretida em uma pia
de pedra. Que sabor estranho devem sentir os que elogiam exageradamente os mortos
como se quisessem soprar a trombeta da morte antes que o último anjo faça sua
aparição! Eis aqui uma maçã fora da cesta:
Aqui jaz o corpo de Martha Gwyn,
Ela era tão pura em seu interior;
Que rompeu a casca do pecado,
E fez de si mesma um querubim.
Onde estão enterradas as pessoas más? Em qualquer lugar do cemitério de nossa
igreja, todas elas parecem ter sido as melhores pessoas, um ninho repleto de santos.
Algumas delas eram tão maravilhosamente boas que não há dúvida que morreram
porque eram muito especiais para viver em um mundo mau como este. É melhor dar pão
aos pobres que pedras aos mortos. É melhor endereçar palavras gentis aos vivos que
fazer discursos sofisticados em cima de sepulturas. Alguns pensamentos tolos postos
nos monumentos são suficientes para ruborizar o morto.
Em alguns túmulos usam tanto mármore que a metade dele seria suficiente para
construir uma casa! Isso faz com que eu me sinta sem fôlego quando penso em todas
aquelas pedras empilhadas sobre meus ossos – não que haja algum perigo de isso
acontecer. Deixem que a terra com a qual estive em contato tantas vezes repouse leve
sobre meu cadáver quando for jogada sobre mim. Deixem João Lavrador ser enterrado
em algum lugar sob os ramos espalhados de uma faia, com um gramado verde em cima
de mim, em que brotam prímulas e margaridas – um lugar quieto e sombreado onde as
folhas caem, e os tordos de peito ruivo brincam, e as gotas de orvalho brilham ao sol.
Deixem o vento leve soprar fresco e livre sobre meu túmulo, e se for preciso escrever
uma linha a meu respeito, deixem que seja:
Aqui jaz o corpo de João Lavrador
Esperando pelo aparecimento do
Seu Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Nos monumentos, leio muito a respeito da paciência, mas nunca a vi por lá nas
vezes em que estive no cemitério da igreja. Muitas vezes, vejo a estupidez em um
monumento e pergunto-me por que o sacerdote, ou o curador da igreja, ou o diácono, ou
quem for que tem poder de decisão a respeito dessas coisas permite que as pessoas
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ponham tais absurdos sobre as pedras. Um homem disse-me que no cemitério de
Dymock há uma inscrição assim:
A graça de Deus deu-nos,
As duas criancinhas mais doces que houve;
Mas elas foram levadas por um ataque de malária,
E aqui repousam tão mortas como piolhinhos.
Eu mesmo li coisas bastante tolas em nossos cemitérios, em Surrey, coisas que
encheriam um livro. É melhor deixar o túmulo limpo que erigir um monumento à
própria ignorância.
De todos os lugares para piadas e divertimento o mais estranho são os túmulos. Não
obstante, por muito tempo as lápides tiveram tais esquisitices gravadas sobre elas que
concluímos que quanto mais perto da igreja, mais longe da decência comum. Este é um
verso cruel, mas ouso dizer que é verdadeiro:
Aqui jaz, de volta ao barro,
A senhorita Arabella Young,
Que no primeiro dia de maio-Começou a segurar a língua.
Esta outra não é muito melhor:
Aqui jaz Upjohn Adams, da igreja de Southwell,
Um carregador que também sabia levar bem o copo até a boca;
Ele carregou tanto e tão rapidamente,
Que não pôde carregar mais e, afinal, foi carregado;
Pois a bebida que bebia era demais para um só,
Ele não agüentou e agora é um cadáver.
Por que essas pessoas não expõem sua verve humorística em um outro lugar?
Um homem tem que estar quase fora de seu juízo para não encontrar um lugar mais
adequado para essas manifestações que no cemitério. O corpo do mendigo mais
esfarrapado é uma coisa sagrada demais para se jogar piadas em cima dele. Que
camarada excêntrico deve ter sido Roger Martin, que vivia em Walworth e escreveu no
túmulo da esposa:
Aqui jaz a esposa de Roger Martin,
Ela foi uma boa esposa para Roger – isto é, determinada.
E quem deve ter sido a criatura tola de Ockham, um dos pontos mais belos
dessas regiões, que escreveu estas linhas ultrajantes?
O Senhor viu bem,
Eu podava os brotos,
Quando caí de cima da árvore;
Bati em uma chancela,
E quebrei meu abençoado pescoçoE então a morte me podou.
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Bem isso é o bastante e quase tão bom quanto uma festa. Eis aqui uma prova
positiva de que alguns tolos são deixados vivos para escrever nos monumentos dos que
são enterrados. Bem, talvez haja fantasmas por perto. Não é surpresa que os
dorminhocos saiam da cama quando são tão mau descritos. Eu acho que deveríamos ter
uma lei que não deixasse ninguém escrever asneiras sobre os mortos, a não ser que
quisesse dar um atestado de burrice, tipo a licença para matar perdizes e faisões. Além
disso, deixemos que a publicidade espalhafatosa reserve-se para as lojas de costura, para
os médicos charlatões e que nenhuma seja permitida nos túmulos.
Concordo com nosso ministro:
Não levantem nenhuma pedra suntuosa esculpida com virtudes
Para marcar o local em que jaz um pecador,
Se algum ornamento enfeitar o túmulo do pecador,
Que exalte o amor daquele que morreu para salvar os pecadores.
Mais uma rima de Surrey, e João Lavrador deixa o terreno da igreja para
procurar trabalho e outros terrenos gramados. Ela fala sobre pseudo Salvadores e
Southwark, e acho que é uma das poucas boas:
Como a rosa adamascada que você vê;
Ou como a florescência da árvore,
Ou como a delicada flor de maio,
Ou como o sol do dia,Ou como o sol e a sombra,
Ou como a cuia que João tinha;
Assim mesmo é o homem, cujo fio é tecido,
Puxado, cortado e feito:
A rosa murcha, a florescência seca,
A flor fenece, a manhã passa rápida,O sol se põe, a sombra voa,
A cuia se destrói, e o homem morre.
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Capítulo 24: Pessoas muito ignorantes
Eu ouvi falar sobre um homem que não distingui "A" maiúscula de outra
qualquer e conheço muitos que, com certeza, não sabem o significado da letra "A", mas
nem por isso são as pessoas mais ignorantes do mundo. Por exemplo, elas sabem
distinguir a cabeça da vaca da cauda, e diz-se que o candidato de Londres não sabia
distinguir uma coisa da outra. Eles sabem que nabos não crescem em árvores, mas
podem confundir um rabanete gigante com a raiz de uma beterraba e não distinguir um
coelho de uma lebre; há pessoas que são brilhantes para tocar piano e que dificilmente
sabem mais do que isso. Se eles não sabem ler podem arar, ceifar, colher, semear e criar
sete crianças com dez moedas por semana e ainda ganham o suficiente para viver; e há
um tipo de pessoa que é muito ignorante para fazer isso. A ignorância para soletrar
livros não é uma coisa boa, mas ignorar o trabalho difícil é pior ainda. A sabedoria nem
sempre fala latim. O povo ri dos aventais e, sem dúvida, são peças de roupa tão feias
que deveriam ser bem planejadas, mas alguns dos que as usam não são tão tolos como
as pessoas pensam que são. Se nenhum ignorante comesse pão, mas apenas os que usam
sapatos com tachas, o milho seria mais barato. A sabedoria em um homem pobre é
como avaliar um diamante, apenas bons juízes descobrem seu valor. A sabedoria quase
sempre se camufla com retalhos de roupas, e, por isso, as pessoas deixam de admirá-la.
Mas eu digo, não dê importância à roupa, olhe o ser humano, as conchas não são nada, a
pérola está no interior. Você não precisa ir para Pirbright a fim de encontrar ignorantes;
há montes deles perto de catedral de São Paulo. Eu gostaria que todos fossem capazes
de ler, escrever e calcular (sem dúvida, não acho que um homem pode saber demais);
mas, o conhecimento dessas coisas não é educação. Há milhões de pessoas que lêem e
escrevem e que são tão ignorantes quanto o bezerro do vizinho Norton, que não
reconhecia a própria mãe. Isso é tão evidente como o nariz em sua face, e só você
pensar um pouco. Saber como ler e escrever é como ter ferramentas, mas se não usar
essas ferramentas, e os olhos e também os ouvidos, você não está em situação muito
melhor. Todo mundo deve saber que o que encontra em si mesmo é mais importante e o
torna mais útil. Se o gato caça ratos e descobre os ovos postos pela galinha sabe as
coisas que mais servem para aquilo que foram feitos. Já saber como voar tem pouca
utilidade para um cavalo; ele fará melhor se conseguir trotar. O homem que vive em
uma fazenda deve aprender tudo a respeito de fazenda, um ferreiro deve estudar a pata
do cavalo, uma jovem que trabalha em uma fazenda de gado leiteiro deve estar bem
informada sobre como ordenhar e fazer com que espume e em como fazer manteiga, e a
esposa de um trabalhador deve ser uma boa estudante das ciências de ferver e de assar,
lavar e remendar. João Lavrador se aventura a dizer que esses homens e mulheres que
não aprendem a respeito das dúvidas de seus negócios são pessoas muito ignorantes,
mesmo que saibam dizer a palavra grega para crocodilo ou escrever um poema em um
besouro negro. Com freqüência, este versinho é muito verdadeiro:
O Joãozinho foi à escola- para aprender a ser tolo.
Quando um homem cai no rio, saber nadar é mais útil que toda a matemática, no
entanto são poucos os jovens que aprendem a nadar! As garotas aprendem a dançar e
francês, quando aprender a costurar e inglês seria muito mais útil para elas.
Nesses tempos difíceis, quando os homens têm de ganhar a vida, um bom negócio e
hábitos comerciais serão mais úteis que toda a teoria clássica de Cambridge e Oxford;
mas hoje quem advoga o treinamento prático em nossas escolas? Os professores teriam
um colapso se fossem convidados a ensinar meninos pobres a cavar batatas com a
enxada e a plantar couves-flores, no entanto a direção das escolas estaria fazendo algo
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bom se fizesse esse tipo de coisa. Se quiser que um cachorro seja um caçador, você o
treina para isso – por que não fazer o mesmo com os homens? O lema deveria ser:
"Cada homem para o seu negócio, e todos mestres em seus negócios". De qualquer
maneira, façam com que o Joãozinho e o Toninho aprendam geografia, mas não
esqueçam de ensiná-los como engraxar suas botas e pregar botão em suas calças; em
relação à Jane e à Sally deixem que cantem e toquem a música que gostarem, mas não
antes de saberem remendar uma meia e fazer uma camisa. Quando fizerem uma emenda
ao Ato de Educação espero que acrescentem uma cláusula para ensinar às crianças o
senso prático comum, os deveres de casa, bem como os três "R". Contudo, qual a
utilidade de falar sobre isso, se as crianças devem aprender o senso comum, onde
conseguiremos os professores? Pouquíssimas pessoas têm senso prático comum para
distribuir, e as que têm provavelmente não o guardam para a escola. Muitas meninas
não aprendem nada a não ser coisas inúteis que chamam de talentos. Temos o pobre
Gent que tem seis meninas e cerca de R$ 240,00 por ano para manter a família, e não
obstante, nenhuma delas pode fazer nada, porque a mãe teria um ataque com receio que
a srta. Sophia Elfrida rache as mãos lavando a roupa branca da família, ou que
Alexandria Theodora danifique sua aparência colhendo algumas groselhas para o
pudim. Ouvir as insignificâncias ditas sobre moda e etiqueta é suficiente para fazer um
gato rir, principalmente quando elas não estão nem um pouco bem de vida como as
filhas regateiras, que moram na avenida, que ganham dinheiro e economizam para a
hora que algum jovem fazendeiro as escolha. Confiem em mim, quem casar com uma
dessas jovens irrequietas fará um negócio tão ruim quanto se casassem com uma boneca
de cera. Como haveria abundância; que provação para a Sra. Gent ouvir-me dizer isso,
mas eu direi, por tudo isso — ela e suas meninas são ignorantes, muito ignorantes,
porque não sabem o que é mais útil para elas.
Atualmente, qualquer peixe pequeno se diz tubarão, todo asno pensa que está pronto
para ser um dos cavalos da rainha; toda vela se considera o sol. Mas quando um
homem, com seu melhor paletó, colarinho engomado, óculos nos olhos, corrente de
latão no colete, bengala na mão e o vazio na cabeça fantasia que as pessoas não vêem
além de sua afetação e fanfarronice, ele deve ser ignorante, muito ignorante, pois não se
conhece. Almofadinhas vestidos na última moda pensam que são alguém, mas ninguém
mais pensa isso. Mestres da dança e alfaiates fazem rapidamente um janota, mas não
podem fazer nada no íntimo de um homem, você pode colorir uma pedra de moinho,
mas não pode transformá-la em queijo.
Em toda nossa região, temos uma grande quantidade de poetas ou, pelo menos, um
grupo de pessoas muito ignorantes que pensa ser poeta; e essas pessoas me incomodam
muito porque eu escrevi um livro e, portanto, tenho obrigação de ouvir suas histórias
confusas. Absurdos são absurdos, quer rimem, quer não, e são tão ruins quanto as
moedinhas que não servem para nada, não importa se tinem ou não. Um homem disseme:
"Olhe, João, eu quero ler alguns de meus versos para você". "Não, obrigado', disse
eu, "Eu não estou com humor para poesia hoje." Preste atenção, eu não me sentirei nem
um pouco melhor amanhã. Que direito tem esse camarada de atirar seus escritos de má
qualidade na minha porta? Já tenho bastante porcaria minha mesma. Não pretendo ficar
com meus ouvidos cheios de cera de sapateiro ou versos remendados. Outro dia, durante
a manhã, eu recebi uma dose dupla de dois dos grandes poetas da aldeia e devo
confessar que foi muito melhor que a maior parte das rimas que encontrei em livros.
Chubbins disse:
É pecadooubar um alfinete.
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E Padley finalizou:
Pecado ainda maior É roubar um maltrapilho.
Agora, eis uma rima e um raciocínio para vocês, conforme disse o coveiro
quando escreveu três linhas para a lápide de um homem pobre:
Aqui repouso,morto por um fogueteem meu olho.
Os homens de negócio que aplicam seu ganho em empresas esperando vê-lo de
novo ou que emprestam dinheiro a juros ultrajantes e pensam fazer fortuna com ele
devem ser ignorantes, muito ignorantes. Eles poderiam, da mesma forma, colocar uma
chaleira no fogo para ferver a água para o chá ou semear feijões no rio e esperar uma
ótima colheita.
Quando os homens acreditam em advogados e em emprestadores de dinheiro tomam
dinheiro emprestado para especular e acham que têm muita sorte, eles são
vergonhosamente ignorantes. O próprio ganso não faria uma coisa dessas consigo
mesmo, pois ele sabe quando alguém tenta depená-lo e não perderá suas penas para
vangloriar-se da operação.
O homem que gasta seu dinheiro com o garçom do bar e pensa que o cumprimento do
dono: "Como vai você, meu bom companheiro", significa respeito, verá que é muito
natural que seja seguido das seguintes palavras:
Se você tiver dinheiro, sente-se; Se você não tiver nada, pode ir embora.
A raposa aprecia o queijo; mas se ele não estivesse ali, ela não se importaria de
forma alguma com ele. A isca não é posta na ratoeira para alimentar o rato, mas para
caçá-lo. Não acendemos o fogo para o conforto dos arenques, mas para assá-los. Os
homens não mantêm tavernas para o bem dos trabalhadores locais; se eles o fizessem
perderiam de vista seu objetivo. Por que, então, as pessoas devem beber "para o bem da
casa"? Se eu gastar dinheiro para o bem da casa, que seja da minha, e não a do
estalajadeiro. Esse é um poço ruim no qual você deve pôr água; e a sede de cerveja é um
péssimo amigo, porque leva tudo o que você tem e não deixa nada, apenas dor de
cabeça. Quem chama de "amigo" os que o deixam sentar e beber durante horas, é
ignorante, muito ignorante. Pois leões vermelhos, tigres, águias e abutres são criaturas
predadoras, e apenas os tolos põem a si mesmos em suas poderosas mandíbulas e
garras.
Quem acredita que tanto os liberais como os conservadores baixarão os impostos
provavelmente nasceu no dia seguinte ao último dia de março; e quem imagina que o
conselho do condado e os distritos locais não terão corrupção um dia deve ter sido
educado em uma instituição para idiotas. Quem acredita em promessas feitas em
campanhas eleitorais tem orelhas grandes e pode comer cardos. O sr. Aceitável pediu
votos a todos os trabalhadores e prometeu fazer todos os tipos de coisas louváveis por
eles. Você acha que ele fará? Sim, depois de amanhã, no dia que não chega nunca. Os
pobres homens que esperam que os "amigos dos trabalhadores" façam alguma coisa por
eles devem ser ignorantes, muito ignorantes. Quando conseguirem seus assentos no
Parlamento, sem dúvida, não se levantarão por seus princípios, exceto quando for de seu
interesse.
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Emprestar guarda-chuvas e esperar que sejam devolvidos, fazer bem a alguém e esperar
retorno quando precisar é o mesmo que sonhar; fazer a língua de certas mulheres parar,
tentar agradar a todos, esperar ouvir mexericos bons a seu respeito ou esperar ouvir a
verdade em uma história corriqueira são evidências de grande ignorância. Quem
conhece mais o mundo confia menos nele. Quem confia totalmente nele não é sábio,
pois pode, da mesma forma, confiar no casco de um cavalo ou nos dentes de um cão. A
confiança nos outros arruína muitas pessoas. Quem deixa seu negócio nas mãos do
gerente e dos empregados e acredita que tudo ficará bem deve ser ignorante, muito
ignorante. O rato sabe quando o gato sai, e os empregados sabem quando o dono está
longe. Nove em cada dez casos, logo que o olho do dono se afasta, a mão do empregado
se solta. Dois bons empregados em uma fazenda são o "eu mesmo vou," e o "eu olho
por isso". Quem deita na cama e acha que o negócio anda sozinho é ignorante, muito
ignorante.
Quem bebe e vive de forma descomedida e se pergunta porque seu rosto está tão
manchado e seu bolso tão vazio saberia o porquê se tivesse dois grãos de sabedoria.
Quem vai ao bar em busca de alegria sobe em uma árvore em que encontra lixo. Seu
juízo cabe em uma casca de ovo ou não seria tão crédulo em buscar auxílio onde é tão
fácil encontrá-lo quanto uma vaca em um ninho de gralhas. Contudo, os infelizes que
não são bons para nada são tão comuns como ratos em um monte de feno. Eu apenas
gostaria de despachá-los para a terra dos preguiçosos, em que recebem cinqüenta
centavos por dia para dormir. Se alguém conseguisse fazer com que esses camaradas
vissem o resultado óbvio do viver de forma nociva, talvez eles mudassem. Não
obstante, sei que vêem isso e, mesmo assim, continuam os mesmos, como a mariposa
que queima as asas na chama, mas se lança em direção à vela de novo. Com certeza,
perder tempo com bebida e esperar prosperar, mantendo as mãos nos bolsos ou o nariz
em copos de estanho prova que são ignorantes, muito ignorantes.
Quando vejo uma jovem senhora com um jardim florido em casa e um vestido de
modista no corpo, sacudindo a cabeça como quem tem a certeza de que todo mundo está
encantado com ela concluo que deve ser ignorante, muito ignorante. Homens sensíveis
não se casam com o guarda-roupas ou com o chapéu; eles querem uma mulher com
sentimento, estas sempre se vestem com sensatez, não de modo exagerado.
Na minha opinião, os que zombam da religião e se põem acima dela porque sabem
demais para acreditar na Bíblia são indivíduos superficiais. Em geral, usam palavras
pomposas e vociferam muito, mas se eles fantasiam que podem reverter a fé das pessoas
que testaram e provaram o poder e a graça de Deus devem ser ignorantes, muito
ignorantes. Quem vê o sol nascer e presta atenção ao pôr do sol e não vê as pegadas de
Deus, em seu interior é mais cego do que uma toupeira e serve apenas para morar
embaixo da terra. Deus parece falar comigo em cada prímula e margarida, parece sorrir
para mim acima de cada estrela, sussurrar para mim em cada sopro da brisa matinal e
me chamar alto em cada tempestade. É estranho que tantos cavalheiros educados não
vejam Deus em lugar algum, enquanto João, o lavrador, sente-o em todo lugar. João não
tem desejo de mudar os lugares, pois o sentimento da presença de Deus é seu conforto e
alegria. Eles dizem que o homem é o deus do cão. Esses homens são piores que
cachorros, pois não ouvem a voz de Deus, mas o cachorro obedece ao assobio de seu
dono. Eles se denominam "filósofos", não é? O nome apropriado para eles é "tolos",
pois o tolo disse em seu coração: "Não existe Deus." As ovelhas sabem quando a chuva
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está chegando, as andorinhas prevêem o inverno e, há quem diga, até mesmo os porcos
conseguem ver o vento; até que ponto aquele que vive onde Deus está presente em
todos os lugares e não o vê é pior que o animal irracional!? Assim, fica muito claro que
um homem pode aprender muito e ainda ser ignorante, muito ignorante.